POLÍTICA
A obra parou. E aí? Descaso de prefeitos põe a saúde dos paraibanos na UTI
São obras paradas em Unidades Básicas de Saúde da Família, academia de saúde, hospitais, UPAs e postos de saúde.
Publicado em 14/10/2015 às 12:00
No lugar de equipamentos de saúde para atender a uma população que clama por melhoria no serviço público, prédios se deteriorando pela ação do tempo e a sensação que o dinheiro suado do contribuinte está escorrendo pelo ralo. O descaso com a saúde é o tema de hoje da série 'A obra parou. E aí?', veiculada ao longo desta semana pela Rede Paraíba, através do JORNAL DA PARAÍBA, das TV Cabo Branco e Paraíba, da CBN e do portal G1.
O descaso com as obras destinadas à saúde está presente em praticamente todo o Estado. No roteiro da viagem, a equipe da Rede Paraíba se deparou com obras paradas em Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF), academia de saúde, hospitais, Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e postos de saúde. Os equipamentos com problemas estão sendo construídos nos municípios de Mogeiro, Alagoa Grande, Caraúbas, Santo André, São Bento e Sousa. Em todos os casos, a equipe, no curso da reportagem, não encontrou operários trabalhando. Na maioria das cidades, os moradores precisam se deslocar outros municípios para serem atendidos.
São Bento, no Sertão, foi a localidade onde a equipe encontrou a situação mais grave. Lá, a população espera há 14 anos pela conclusão do Hospital Regional de São Bento. O equipamento começou a ser construído em 2001, com o propósito de substituir o hospital maternidade, que funciona em um prédio antigo no centro da cidade. A demora só tem prejudicado a população da região, que precisa percorrer pelo menos 100 km quando precisa de atendimento em casos graves. O hospital de média e alta complexidade mais próximo fica em Patos.
Abandono
Os problemas com a obra começaram um ano depois de iniciada, quando foi abandonada e reiniciada apenas em 2010, graças a um convênio de R$ 2,3 milhões com o Ministério da Saúde firmado dois anos antes. Mesmo com mais recursos federais, em 2012 a obra voltou a parar, segundo a prefeitura, por necessidade de readequação na planilha orçamentária. A prefeitura de São Bento alega, ainda, que a obra era do governo do Estado e depois foi cedida para o município, que não tem recursos para concluir. Apesar da obra ter começado há 14 anos, o prazo de conclusão continua vigente, somente se encerrando em 2016.
A demora na entrega da obra de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no município de Sousa, no Sertão, é a que atinge o maior número de pessoas. Além dos 66 mil moradores de Sousa, que deixam de ser beneficiados com o equipamento de saúde, pacientes de 40 municípios da região se dirigem diariamente ao município em busca de atendimento emergencial, consultas e todos os tipos de atendimento. Todos perdem com o adiamento da entrega.
UPA entregue com a estrutura condenada
Iniciada há cinco anos, a UPA de Sousa está pronta desde 2013, mas até agora não foi aberta. Em 2012, ano das eleições, a unidade foi inaugurada duas vezes pela prefeitura, mas o governo federal, que financiou a obra, não autorizou a abertura. O procurador da república Tiago Misael é quem explica o porquê do atraso. Ele disse que foram identificados uma série de erros, tanto na execução do projeto, como no uso de materiais e mão de obra de má qualidade, que comprometem a segurança da estrutura. Foram mais de R$ 1,5 milhão investidos e tem 90% da obra concluída. Foi constatado um desvio de recursos públicos que foi denunciado. Foi movida uma ação contra o ex-gestor, contra o engenheiro fiscal da prefeitura, contra o dono da construtora contratada e contra a pessoa jurídica da empresa”, complementa.
Em Mogeiro, estão sendo construídas três Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF). Duas delas estão paradas e a terceira nem chegou a começar a ser construída. Uma delas fica no Loteamento Maria Peixoto. Lá, apenas as paredes foram levantadas, mas como nem o aterro nem o resto da estrutura foi feito, o que foi erguido está se desgastando com o tempo. O secretário de saúde do município, Jammes Araújo, disse que a obra, no valor de R$ 135.104,92, teve início em 2 de dezembro de 2010, com prazo inicial de conclusão de seis meses. Na época da última medição feita pela prefeitura, em outubro de 2011, o dono da construtora morreu e a prefeitura aguardou os trâmites legais para a empresa continuar a obra, mas a construtora não se pronunciou até 2013 e a gestão fez o distrato.
Já em Caraúbas, no Cariri, a obra de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) está parada há cinco meses. A placa foi arrancada para ser usada como porta, para que ninguém entre no prédio.
Nem oração - Moradora pede a Deus por solução
A dona Severina Carolino, de 65 anos, é uma evangélica fervorosa. Teme a Deus e é uma crente fiel no Seu Poder. Um dia, a fé que cultiva a levou, junto com outros evangélicos, para dentro do hospital-maternidade que está em construção na cidade de São Bento, a 396 quilômetros de João Pessoa. Fizeram uma oração para que Deus intercedesse na conclusão daquele espaço: uma unidade hospitalar, pensada para atender casos de média e alta complexidade e pacientes de várias cidades e regiões.
Em São Bento, um hospital modesto atende os casos menos graves. Nas situações mais complexas, os pacientes são levados para cidades como Campina, João Pessoa, Patos. “Como eu qeuria que ele fosse terminado”, relata. “A gente já foi orar. Fazer oração nesse hospital. Quando o pastor vem aqui – porque eu sou evangélicas há 22 anos – a gente diz: faz uma oração aí para ver se abre o coração desses homens”.
Pelo visto não adiantou. A aposentada mora a alguns metros do prédio que começou a ser construído em 2001. São 14 anos de espera. Nunca atendeu a ninguém e, de vez em quando, serve de criadouro de animais. As salas erguidas com objetivo de ser enfermaria e ambulatório viraram cocheiras.
Outro lado
A obra foi iniciada pelo Estado em 2001. Um ano depois, parou. Foi repassada ao município, que não tinha dinheiro para concluir. Até que em 2008, o governo federal aprovou um projeto de financiamento. Em 2010, os trabalhos foram retomados, mas parou novamente em 2012. Já foram gastos R$ 1,3 milhão.
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