POLÍTICA
'A situação é ruim, mas era muito pior', diz secretário sobre violência na PB
Secretário de Segurança, Cláudio Lima, admite dificuldades para conter violência e reclama da impunidade.
Publicado em 03/11/2015 às 7:45
No mesmo dia que um idoso de 92 anos foi morto com um tiro, dentro de casa, em João Pessoa, o secretário de Segurança Pública da Paraíba, Cláudio Lima, conversou com o JORNAL DA PARAÍBA sobre a situação do Estado, que sofre de um quadro de violência crônica, chegando a registrar 20 homicídios em um único fim de semana. Responsável pela implantação do Pacto Pela Vida, em Pernambuco, Cláudio Lima, que assumiu a pasta da Segurança na Paraíba em 2011, muda o discurso ao falar dos crimes. Se antes ele rebatia as críticas da imprensa, agora admite que a situação da Paraíba é preocupante, embora tenha apresentado uma tímida redução de homicídios nos últimos anos, segundo atesta o Diagnóstico dos Homicídios no Brasil e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Confira os principais trechos da entrevista:
JORNAL DA PARAÍBA - Como a falta de centros especializados para tratamento de dependentes químicos afeta a Segurança Pública?
CLÁUDIO LIMA - (Começa dizendo: ótima pergunta). Nós temos hoje um enfrentamento contra as drogas mais focado na repressão. Nós sabemos que uma demanda tão grande quanto essa precisa de uma política mais eficiente. A maioria dos homicídios tem relação – de forma direta ou indireta – com as drogas. Então é preciso uma política de prevenção e uma política qualificada de repressão... além de tratamento de saúde, que se ofereça tratamento. Os governos estaduais, me refiro a todos, não têm condições de encarar isso sozinhos. A Paraíba não produz drogas, mas sofre os efeitos como qualquer estado, efeitos devastadores como o de um câncer.
E continua...
(…) E o Brasil continua a depender de uma política séria para encarar esse problema sério. Não se combate drogas só com a polícia. O que se tem feito no Brasil é combatido mais com a repressão, e a polícia tem sido eficiente. Para você ter ideia, a Paraíba saiu de 40 kg de drogas apreendidas para quase 3 toneladas anuais. A polícia produz muito porque tem muita droga circulando. É um quadro que precisa ser encarado em várias frentes, com educação, com convencimento da população etc. Acho que falta até política de marketing como aconteceu há 20 anos na campanha do antitabagismo, que deu resultado.
JP - O senhor fala da necessidade de políticas efetivas de combate às drogas. Enquanto isso não for realidade, a Segurança Pública fica de 'mãos atadas'?
CL - Não fica porque produz cada vez mais. No entanto, é como se tivesse buscando água no mar porque cada vez mais tem consumidor. E quando tem consumidor, tem venda. É uma lei da oferta e da procura. Nem podemos aplicar essa lei na droga, mas é uma lei econômica. Quando tem demanda sempre tem oferta. Essa é uma cruel realidade que a polícia precisa se preparar para fazer a parte dela. A população também precisa acordar para esse problema.
JP - A impressão que se tem é que o bandido está dominando o jogo, cercando o cidadão e a própria polícia. Isso é real?
CL - Não. Se fosse assim, tudo estaria perdido. Na Paraíba, saímos de 8 mil presos no início da gestão para cerca de 10 mil (hoje), isso é produção de polícia. As demandas aumentaram. Temos um país que mudou, uma sociedade que mudou. Vale lembrar que há 20 anos o Sudeste tinha 60% dos homicídios do Brasil, e o Nordeste tinha menos de 20%. Hoje a situação se reverteu: o Sudeste tem 30% e os índices do Nordeste subiram. É importante lembrar que o PIB também subiu, a renda familiar dos nordestinos aumentou. Houve melhoria do quadro de extrema pobreza...não justifica o aumento da criminalidade.
(…)
Temos um sistema, do ponto de vista da segurança pública, que precisa ser revisto. É preciso rever leis e o sistema carcerário, mas não apenas do ponto de vista de gestão, mas também de capacitação e de uma série de fatores. Precisamos de ferramentas urgentes que diminuam a criminalidade. A polícia reclama e com razão. Não estou aqui dizendo que a culpa é do Judiciário, mas não podemos negar que há uma impunidade reinante. Hoje um criminoso assalta uma pessoa e sabe que com três meses estará novamente solto. Então, temos uma série de situações que precisam ser revistas. Se fosse apenas uma, tenha certeza que um gestor político já teria resolvido.
JP - O senhor foi secretário de Segurança Pública em Pernambuco, onde a política implantada funcionou e diminuiu a criminalidade. Por que isso não acontece na Paraíba?
CL - Há um fato interessante nisso. Um dos problemas da política hoje no Brasil, e com a segurança não é diferente, é a falta de continuidade. Em Pernambuco, a criminalidade que caiu em 5, 6 anos, agora está voltando. O Diagnóstico dos Homicídios no Brasil e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que dos nove estados que diminuíram as mortes violentas, a Paraíba está presente. No Nordeste, a Paraíba é um dos dois estados que reduziram a criminalidade. Diminuiu pouco, é verdade. Esses números são suficientes para comemorar? De jeito nenhum. Estamos longe, mas temos que mostrar isso porque a população e parte da mídia não acreditam que caiu. Eu dou até razão diante dos números e dos picos que atingimos. Não há como trazer outra sensação para o cidadão, mas essa história que a Paraíba é a pior e que João Pessoa está mais violenta, foi desmistificada com essas publicações. A situação é ruim, mas era muito pior. Quem diz são os estudos, não somos nós (o governo). A gente pode dizer que tem uma política que, apesar de todo defeito, vem apresentando resultados. A diminuição e a sequência de resultados vêm com uma semana, com um mês, às vezes demora anos. Precisamos ter políticas sérias, investimentos e continuidade. O pessoal coloca Pernambuco, mas não tem ido lá ultimamente. É o caso do Ceará também.
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