POLÍTICA
Arlindo Chinaglia nega ser candidato de Dilma na disputa pela Câmara
Petista disse que não precisa do aval do governo para concorrer à presidência da Câmara.
Publicado em 18/01/2015 às 7:00 | Atualizado em 28/02/2024 às 17:22
Dois dos três candidatos que disputam a presidência da Câmara dos Deputados estiveram fazendo campanha na Paraíba na semana que passou. Arlindo Chinaglia (PT) e Eduardo Cunha (PMDB) falaram com exclusividade ao JORNAL DA PARAÍBA sobre suas propostas e também de temas polêmicos como mensalão, operação Lava Jato e a reforma política. O primeiro a visitar o Estado foi Chinaglia, que negou qualquer vinculação de sua candidatura com o governo da presidente Dilma. “Eu não preciso do aval do governo”. Ele se irritou quando perguntado sobre a existência do mensalão. “É da sua responsabilidade a afirmação de que existiu o mensalão”. Arlindo Chinagia acredita que é preciso melhorar a imagem da Câmara dos Deputados por meio de uma atuação séria, sobre temas importantes para a população. Já as reformas política e tributária, na opinião do candidato ainda não saíram do papel por causa das disputas de poder.
JORNAL DA PARAÍBA - O que motivou sua candidatura à presidência da Câmara dos Deputados?
ARLINDO CHINAGLIA - Foi um conjunto de partidos que discutiu a partir da necessidade de a Câmara ter uma plataforma nacional, porque nós temos desafios. Eu posso mencionar a segurança pública. Não é admissível que haja tanta violência e a gente conviva com isso há tantos anos sem um movimento seguro por parte da Câmara. É claro que esse papel é essencialmente do Executivo, mas eu creio que nós devemos discutir o tema. Se necessário, fazer mudanças na legislação e também acompanhar a aplicação das leis. E nós dissemos isso antes da própria presidente Dilma ter anunciado e ela já colocou em andamento uma integração entre a União e os Estados no sentido de combater a violência. Eu posso estender isso para a violência no trânsito, que é outra verdadeira carnificina. Não tem uma família no Brasil que fique tranquila com a violência no trânsito e a falta de segurança pública. Temos outros temas, como a questão tributária. Então, a Câmara precisa estar atenta porque naturalmente é um tema de conflito. Se você pegar governadores do mesmo partido, dependendo da região onde ele governa, ele terá opiniões divergentes dentro do seu próprio partido, e o poder moderador para isso é a Câmara dos Deputados. Nós temos que discutir em profundidade para produzir acordos. Eu acho que a essência é exatamente ter uma pauta nacional para que a população brasileira se sinta bem representada pela Câmara dos Deputados.
JP - Aliás, a população brasileira tem criticado a atuação da Câmara dos Deputados. Como melhorar a imagem do Poder Legislativo?
ARLINDO CHINAGLIA - A imagem é consequência da autoridade. Eu acho que o desafio da Câmara, como de todo o Legislativo, é a gente ter autoridade e sermos respeitados perante a população. Então, nós temos que dar exemplos. Muitas vezes as pessoas generalizam no julgamento, que é injusto. Na minha opinião, nós temos que atuar em grandes movimentos. Ali nós tomamos decisões que afetam a vida de qualquer um, inclusive as nossas próprias, das nossas famílias. Vamos pegar um grande tema como o da saúde. Não há município brasileiro onde não haja reclamações da saúde. Que alternativa nós temos? Como resolver? Mesmo a chamada saúde complementar ou suplementar deixa muito a desejar. A defesa e a organização de um bom sistema público de saúde é um desafio ainda presente no Brasil. Eu acho que na hora que nós começarmos a tratar desses temas e a população perceber que nós estamos agindo com seriedade, com determinação, fazendo o que é justo, a nossa autoridade vai melhorar e por consequência a imagem. Quando eu presidi a Câmara a imagem da Câmara melhorou.
JP - Por que os projetos que tratam da reforma de um modo geral não saem do papel?
ARLINDO CHINAGLIA - Porque há divergências em torno de cada um deles. Eu quando fui presidente da Câmara coloquei o relatório do deputado Caiado sobre a reforma política, que tinha dois pilares: um era a chamada lista preordenada e a outra era o financiamento público de campanha. Um dos grandes partidos da oposição recuou e ali quando perdeu esses dois itens nós paramos a votação, porque se desse sequência naquele tipo de proposta, perdendo os dois itens principais, geraria algo muito disforme. Era um verdadeiro monstrengo. Se tenta votar a reforma, mas por conflitos, por contradições, por disputa de poder não tem avançado. Da mesma maneira a reforma tributária. As reformas não caminham porque o Congresso é multifacetado e se você não consegue construir uma sólida maioria negociada, temas como esses são difíceis de caminhar.
JP - Por falar em maioria, como o senhor vê essa questão do mensalão ter existido na Câmara Federal, por conta dessa dificuldade do governo de formar maioria?
ARLINDO CHINAGLIA - É da sua responsabilidade a afirmação de que existiu o mensalão.
JP - O Supremo disse que existiu.
ARLINDO CHINAGLIA - Eu estava na conversa entre Roberto Jeferson, Lula, Zé Múcio, Aldo Rebello e Fleury e não foi isso que o Roberto Jeferson falou naquela conversa. Não quero entrar nesse tipo de abordagem, porque se for fazer esse padrão de análise, se o Legislativo é necessariamente corrupto, o que dizer então de cada Assembleia Legislativa, de cada Câmara de Vereador? É muito grave esse tipo de afirmação. Eu não trabalho com essa lógica.
JP - Existe interferência do governo na eleição da mesa?
CHINAGLIA - Não. Pode ter por parte de partidos políticos que compõem o governo posições até divergentes, mas não é papel do Executivo entrar na eleição.
JP - O senhor não é candidato do governo?
ARLINDO CHINAGLIA - Eu sou candidato dos deputados. A tentativa de me caracterizar como candidato do governo vem de uma candidatura que é da base do governo e tentou se colocar como representante da oposição, que não funcionou, porque o PSDB, PSB e PPS estão apoiando Júlio Delgado. Eu tenho história, tenho trajetória, portanto, eu não preciso do aval do governo. Eu quero o respeito do conjunto de deputados e como o governo tem maioria na base, eu quero o respeito da maioria dos deputados, tanto os que apoiam o governo como os da oposição.
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