POLÍTICA
Arquivos secretos revelam os paraibanos espionados pelo SNI
Documentos conseguidos com exclusividade pelo JORNAL DA PARAÍBA mostram como o dia a dia dos paraibanos era bisbilhotado pelos agentes do SNI
Publicado em 09/08/2015 às 12:00
“Pedro Inácio de Araújo, comunista convicto e atuante, líder dos camponeses, tomava parte em quase todas as suas concentrações e comícios, esteve preso, logo após a Revolução de 64, para averiguações subversivas. Em dezembro de 64, o nominado fazia trabalho de aliciamento para o Partido Comunista Brasileiro”. O relato sobre o líder camponês Pedro Fazendeiro é do Sistema Nacional de Informação (SNI) - aparelho criado pelo Regime Militar para informar Brasília sobre o que se passava nos Estados - e integra o conjunto de documentos fornecidos com exclusividade ao Jornal da Paraíba pelo coordenador do projeto Resgate na História, o pesquisador Grimaldo Carneiro Zachariadhes.
O acervo é formado por mais de 300 mil documentos, mapeados e coletados nos arquivos do Sudeste e de Brasília, que ajudam a contar a história política recente dos estados do Norte e Nordeste. Desse total, cerca de 8 mil documentos são do “SNI – Agência Pernambuco”, responsável pelos estados da Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte. Os originais estão sob a guarda do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro.
Pedro Fazendeiro - desaparecido em 1964 ao lado de outro líder camponês, o ex-vereador de Sapé Nego Fuba - é apenas uma das dezenas de lideranças paraibanas que interessavam ao regime e, por isso, eram monitoradas pelo órgão até a sua extinção, em 1991. Políticos, líderes camponeses, religiosos, jornalistas, intelectuais, professores universitários, empresários (da imprensa, inclusive), ninguém escapava aos olhos do SNI.
Os arapongas do regime agiam de muitas formas. “A nossa correspondência era violada. Não posso afirmar com conhecimento de causa, mas nós sentíamos que era porque elas sempre eram entregues por pessoas diferentes”, lembra o arcebispo emérito da Paraíba, dom José Maria Pires.
Grimaldo Carneiro explica que os documentos do SNI tinham o objetivo de municiar Brasília com informações locais. “Muitas pessoas eram vigiadas e não faziam ideia que eram”, disse o pesquisador.
Havia descrições sobre a “periculosidade” dos monitorados. O prontuário do ex-deputado estadual Assis Lemos o identificava como “o maior responsável pelas agitações no interior da Paraíba, especialmente em Sapé e Mari”. Lá constam informações até 1981, sobre a absolvição das acusações.
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