POLÍTICA
Conheça mais sobre a política de Campina
Destaque pelo 'Maior São João do Mundo' e pela produção tecnológica, a cidade tem força política e desafios para a administração.
Publicado em 08/07/2012 às 9:00
Hoje é dia de conhecer um pouco mais sobre o município de Campina Grande, penúltima cidade da série de reportagens do projeto Eleições 2012, do JORNAL DA PARAÍBA. Localizada a 132 quilômetros de João Pessoa, Campina Grande se destaca não apenas pela realização do Maior São João do Mundo, como também pela produção tecnológica exportada para vários países. Quando o assunto é política, Campina tem suas particularidades e uma história interessante e curiosa.
De acordo com o analista político Jonas Duarte, as eleições municipais de 1972 registraram altos índices de abstenção e de votos brancos e nulos, pois havia na cidade um descontentamento muito forte com a Ditadura Militar. O fato foi gerado em especial pela cassação dos mandatos de Newton Rique e, principalmente, de Ronaldo Cunha Lima, eleito prefeito em 1968 pelo MDB, derrotando Severino Cabral e Vital do Rêgo, também do MDB. Ronaldo é cassado pelo AI-5 (Ato Institucional nº 5), antes mesmo de assumir o cargo.
O município de Campina Grande, conforme Jonas Duarte, fez parte de um grupo de cidades do interior, muito reduzido por sinal, que sofreu intervenção federal pela Ditadura nos anos 60.
Campina, que tivera seu prefeito eleito em 1968 cassado, teve, em 1982, a oportunidade de devolver o mandato a Ronaldo Cunha Lima e derrotar a Ditadura nas urnas. Nesse período, na Paraíba e, em especial, Campina Grande, a crise econômica tinha especificidades que a tornara mais grave. O ciclo do algodão estava em pleno declínio, conforme o analista político.
Com a crise no Nordeste, houve o maior processo de migração do campo para a cidade. “Campina Grande 'incha'. Sem condições econômicas de absorver a mão de obra e sem condições de planejar infraestrutura urbana para alojar os novos moradores, a cidade esborra de becos, favelas e moradias de péssimas condições”, afirmou. Nos anos 80, apesar da crise socioeconômica, Campina respirava uma atmosfera política e cultural progressista, altiva, crítica e criativa.
O grupo Cunha Lima se firma na cidade após a eleição de Ronaldo para prefeito. Antes disso, segundo o analista político, havia se candidatado e foi eleito senador e deputado federal, mas sem uma carreira própria ou de liderança. Em 1986, Ronaldo apresenta seu filho Cássio Cunha Lima, o qual é eleito com uma votação estrondosa na cidade. “Isso demonstrou a aprovação da gestão do pai à frente da prefeitura”, declarou Jonas Duarte.
Conforme o analista, “na Constituinte, Cássio teve uma passagem apagada, mas suficiente para se eleger prefeito de sua cidade, em 1988, sucedendo Ronaldo que se preparava para a eleição de governador em 1990”. O grupo ganhou também as eleições de 1992 (com Félix Araújo Filho) e de 1996, novamente com Cássio. “Detalhe que Campina Grande não tinha dois turnos, pois ainda não tinha 200 mil eleitores. Cássio foi eleito com menos de 50% dos votos”, afirmou. Em 2000, Cássio é reeleito com o PT de Cozete Barbosa, de vice.
Duarte lembrou que Cozete simbolizava todo o sentimento de oposição aos Cunha Lima e havia conseguido uma excelente votação para vereadora (a mais votada) nas eleições de 1996.
“Segundo dirigentes petistas da época, havia o compromisso de Cássio apoiar Lula em 2002”, disse. O PMDB, partido com o qual Cássio foi eleito em 2000, não o abrigara para a disputa de 2002, pois Ronaldo e Maranhão haviam rompido. “Ronaldo já estava filiado ao PSDB, partido do então presidente Fernando Henrique Cardoso”, destacou.
“Sem partido e ambicionando as eleições para governador em 2002, Cássio acenou ao PT, flertou com o PDT, namorou o PTB, mas fez o que todos que conhecem minimamente a família já esperavam, filiou-se ao PSDB, onde Ronaldo, Cícero e o esquema governista nacional o esperavam”, declarou o analista político.
Nas últimas décadas, grupos opositores surgiram para enfrentar o poderoso grupo Cunha Lima. Um deles, Enivaldo Ribeiro, com características de um populismo de direita. Era uma liderança muito popular na cidade, mas que não conseguia votos na classe média. Outros opositores foram Vitalzinho e Veneziano, filhos de Vital do Rêgo, que por um largo período ficou rompido com os filhos que apoiavam Maranhão.
Na eleição de 2004, quando o grupo Cunha Lima apresentou Rômulo Gouveia como candidato, a classe média não se entusiasmou com a candidatura. “Isso porque não tinha as características dos candidatos do grupo anterior. Rômulo não era um político falante, eloquente. Esse aspecto fragilizou a candidatura de Rômulo, além do desgaste à época do governo Cássio, que passava por grande impopularidade na cidade, sobretudo nas camadas mais populares”, disse Duarte.
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