CONVERSA POLÍTICA
Opinião: PT nacional quer evitar novo "levante" de Anísio e, com punição, faz um convite à desfiliação
Na verdade, querem evitar que Anísio seja líder de um novo movimento contra a aliança do PT Nacional, e parte do local, com Veneziano Vital (MDB), pré-candidato governo; e Ricardo Coutinho (PT), pré-candidato ao Senado.
Publicado em 24/03/2022 às 17:01 | Atualizado em 24/03/2022 às 17:57
O PT nacional tem dedicado um tempo para defender a unidade pela democracia. Vale quase tudo. O adversário é Bolsonaro.
Junta-se em todos os estados com lideranças, políticos e parlamentares que votaram, com justificativas risíveis, a favor do golpe/impeachment da presidente Dilma. É hora de esquecer.
Agora, está prestes a ter ao lado de Lula, como vice, um ex-adversário que já chamou Lula de ladrão e outras coisas mais, o ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB).
Tudo pela unidade contra o "facismo". Racionalmente, até dá para entender. Mas a aplicação da emoção e razão no PT é relativa.
Para fora, benevolência e relativização. Para dentro, medidas para dar exemplo. Exemplo a quem? Há muito tempo o Partido dos Trabalhadores perdeu a capacidade de dar exemplos. Vive, como os outros, sobre as ondas.
Agora, num simulacro de partido democrático, resolveu punir o deputado estadual paraibano Anísio Maia.
A Comissão de Ética (para alguns fatos) resolveu suspender por seis meses o parlamentar, por ter defendido a própria candidatura em 2020.
À época, tinha o apoio de, praticamente, todo partido, em âmbito municipal.
Convite à desfiliação
Com a medida, a legenda convida Anísio a sair. Abre a porta e deixa uma injusta cartinha de despedida, depois de quatro décadas de dedicação.
Suspenso, terá problemas nas convenções e no registro da candidatura à reeleição.
Anísio defendia o direito, aprovado pelos colegas locais, de se candidatar. E fazia isso sem nunca ter traído o partido, não abandonou, nem quando o seu principal líder era chicoteado em praça pública.
Aliás, até embarcou, várias vezes, nas contradições da legenda para defender o que acreditava.
Virou bode expiatório porque resolveu ir contra o desejo da executiva nacional de agradecer a Ricardo Coutinho (então PSB, agora PT), que era candidato a prefeito e tinha o apoio dos "democratas" da cúpula nacional.
Coutinho, à época, fazia um teste eleitoral depois das acusações da Calvário.
Regimento relativo
A Direção Nacional do PT é aquela espécie de síndico que segue o regimento interno, mas só quando é para benefício próprio.
Quando esse síndico é contra o regimento, relativiza-se e se dá uma volta na retórica para justificar as emendas. É o que parece estar acontecendo em vários estados.
Com suspensão, tiram Anísio do caminho, mandam recado para o deputado federal Frei Anastácio, que não foi punido, e para os outros líderes do levante petista de 2020.
A saber: Giucélia Figueiredo, que foi destituída da presidência do PT de JP, após a intervenção da nacional, Anselmo Castilho e Josenildo Feitosa, membros da executiva do partido. Eles receberam uma suspensão de seis meses.
Todos subservientes ao Deus-Lula, que está no céu. Na terra, uma simulação de democracia partidária, envernizada por reuniões, votações, plenárias e instâncias. Mas basta Deus falar e a regra muda.
Direção estadual
À imprensa, o presidente estadual Jackson Macedo, elogiou os punidos. Mas disse que o que aconteceu foi grave e foram 54 votos da Comissão de Ética a favor das sanções.
"São companheiros valorosos, mas o que aconteceu em 2020, não foi pouca coisa. Entramos na eleição sabendo que existia uma regra: a 24 (...) Anísio sabia da regra e mesmo assim, quando o partido decidiu apoiar Ricardo, ele manteve a candidatura. E o mais grave: não só peitou a direção nacional, mas judicializou o processo”, afirmou.
A regra era a de que a palavra final sobre a tática eleitoral para 2020 era da direção nacional. Tudo havia sido divulgado antes.
Injustiça
Anísio poderia ser punido. Mas, agora, perto da eleição, é uma clara injustiça com a sua fidelidade. Por muito mais, seguindo regras ou as quebrando, velhos e novos amigos petistas foram agraciados pelo relativismo.
Felizmente, Maia tem o PSB. Terá até mais chances de se eleger estadual com o socialistas. O PT paraibano não dá frutos há muito tempo. É um partido coadjuvante, vive sob brigas infrutíferas e está sempre rachado. O caso Anísio é só mais um.
O PT nacional faz uma nova aposta. Um novo grupo toma conta e, de fato, tem um bom capital eleitoral. Mas com tantas incoerências, corre o risco de, mais uma vez, manter-se fragilizado. Por isso, apostam tudo, mais um vez, no Deus.
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