Pré-candidato a federal da Paraíba quer limite no número de mandatos de presidentes de entidades de classe

Ao Conversa Política, Romeu Lemos explicou o motivo de ter entrado no debate. Ele acha que é preciso um rodízio nessas instituições para que elas ganhem um novo fôlego e sejam mais eficientes.

O empresário do ramo de restaurantes e pré-candidato a deputado federal, Romeu Lemos (PL), resolveu usar as redes sociais para expor seu descontentamento e, claro, apresentar algumas de suas propostas para disputa de outubro.

Uma delas, destaca-se porque é polêmica. Aliás, a polêmica só existe porque ninguém quer polemizar abertamente e ele resolveu fazê-lo: criticar os eternos mandatos dos presidentes de federações e associações de classe.

Nas redes sociais, Lemos afirmou que na política, no Poder Executivo, o eleito só pode cumprir dois mandatos consecutivos, que totalizam 8 anos.

No texto, ele pergunta: “por que nas Federações, Confederações e Associações esses presidentes se eternizam no poder? E tem mais, a maioria não está mais no ramo?”

Na publicação, feita no último dia 30 de abril, ele destaca o caso das eleições da Federação das Indústrias da Paraíba (Fiep), com sede em Campina Grande. Lembra que atual presidente, Buega Gadelha, está no comando há mais de 25 anos.

Meu projeto, como pré-candidato a federal, chegando lá, é acabar com essa ‘mamata’. Para só passarem quatro anos no poder de Federações, Associações, Confederações, Sistema “S”, etc. com uma quarentena de oito anos, sem participar de eleições na entidade. Campina Grande, cidade que adoro, está se transformando numa capitania hereditária”, afirmou na última publicação.

Vale lembrar que, recentemente, pelo menos quatro membros do Conselho Fiscal da Federação das Indústrias da Paraíba (Fiep) – responsáveis pela destinação de orçamento – renunciaram aos cargos nos últimos 12 meses.

Isso ocorreu após a indicação da antecipação das eleições para a presidência da entidade, que só deveriam acontecer no ano de 2023, e desagradou parte dos conselheiros.

O Conversa Política apurou que a insatisfação entre membros do Conselho Fiscal do Sesi, Senai e Fiep continua.

O atual presidente da Fiep, Francisco Buega Gadelha, está no comando do órgão desde o ano de 1995. Se fosse reeleito em um pleito antecipado, ele seguiria para o sexto mandato.

Em nota, enviada ao blog Pleno Poder, que registrou tentativa de antecipação da eleição, a Fiep reforçou que completa 73 anos trabalhando com a representatividade da classe empresarial e defendendo os interesses da indústria paraibana. (Veja a íntegra da nota)

Eternos no poder 

Em publicação anterior, dia 26 de abril, Romeu Lemos dá outros exemplos. Com o título “presidentes de federações se eternizam no poder. não faz sentido isso!”, o empresário registra: “O presidente da CNC, Confederação Nacional do Comércio, no poder há 38 anos; presidente da Faesp- Federação da Agricultura de São Paulo, 43 anos no poder; presidente da Federação do Comércio de São Paulo, 35 anos no poder. E no resto do Brasil não é diferente”, criticou.

Ao Conversa Política, Romeu Lemos explicou  o motivo de ter entrado no debate. Ele acredita  que é preciso um rodízio nessas instituições para que ganhem um novo fôlego e sejam mais eficientes. O pré-candidato afirmou que, se eleito, vai abraçar as bandeiras do setor produtivo e questionar esse modelo antidemocrático.

“Eu tenho todo o respeito por essas pessoas que estão à frente dessas associações, federações, das entidades, já fizeram sua parte e eu acho que está na hora deles abrirem mão para que entre gente nova, com cabeça nova, para tocar para frente e modernizar”, afirmou.

Pré-candidato a federal da Paraíba quer limite no número de mandatos de presidentes de entidades de classe
Romeu Lemos, empresário. Foto: Divulgação

Lei das Federações de esporte

Romeu Lemos lembrou que a mudança já existe no esporte, mas agora é preciso se estender para os setores de Serviço, Comércio e Indústria, que são pilares da economia do país.

Em outubro de 2013, a então presidenta Dilma Rousseff sancionou lei que definiu que o mandato de dirigentes e presidentes de federações esportivas deveriam ser limitados a no máximo oito anos, com direito a uma reeleição na metade do período.

A ideia já havia sido encampada pelo então senador Cássio Cunha Lima (PSDB) que aprovou proposta no Congresso. Na prática, o projeto disciplinou as regras em entidades como, por exemplo, a Confederação Brasileira de Futebol, o Comitê Olímpico Brasileiro e as federações estaduais de futebol.

“Muitos destes presidentes se perpetuam durante décadas no poder. Isto precisa ser modificado”, declarou Cássio à época.

Mudança já 

O projeto do empresário paraibano pode demorar pelo menos um ano para entrar em discussão, se ele for eleito para a Câmara Federal.  Mas o debate e as mudanças precisam começar nesse momento. Não tem lógica, essa perpetuação de presidentes e dirigentes nessas entidades de classe.

A permanência por décadas depõe contra a tão propagada defesa do regime democrático. O revezamento de poder, as trocas de comando, independentemente da eficiência do comandante, revigoram o trabalho de associações, sindicatos, federações do comércio, serviço, indústria e agricultura.  É uma discussão que não acaba aqui.

Aliás, é tão anacrônica que não deveríamos estar falando disso ainda, mas como há muitos “apegados” ao poder, o debate deve continuar.