CONVERSA POLÍTICA
Ariano Suassuna idealizava a política como ferramenta de revolução sociocultural
O paraibano Ariano Suassuna morreu em 23 de julho de 2014, aos 87 anos. Há exatos 10 anos, nesta terça-feira (23).
Publicado em 23/07/2024 às 11:17 | Atualizado em 23/07/2024 às 15:28
O paraibano Ariano Suassuna morreu em 23 de julho de 2014, aos 87 anos. Há exatos 10 anos, nesta terça-feira (23). Uma morte que deixa um vácuo para a política sociocultural brasileira.
Isso porque Ariano, para além do seu legado como poeta, dramaturgo e amante incondicional da cultura nordestina, exerceu um papel quase missionário de fazer política para o bem comum.
Socialista de ‘carteirinha’, presidente de honra do PSB, o paraibano não custava em reproduzir o papel do socialismo e da política para redução das desigualdades em sua obra e em suas aulas.
“Quem é de esquerda luta para manter a soberania nacional e é socialista. Quem é de direita é entreguista e capitalista. Quem, na sua visão do social, coloca ênfase na justiça, é de esquerda. Quem a coloca na eficácia e no dinheiro, no lucro, é de direita”, disse em um desses eventos.
Morte de Suassuna
A relação com a política estava entranhada em suas veias. Nasceu no Palácio da Redenção no dia 16 de junho de 1927. Era filho do então governador da Paraíba João Suassuna, que foi brutamente assassinato em 1930, no Rio de Janeiro, em meio a uma fraticida disputa com o grupo dos Pessoas. Nessa época, Ariano tinha apenas três anos de idade.
Mesmo com a tenra idade, o episódio foi traumático o suficiente para inserir na sua trajetória a história do pai. Com os desdobramentos da Revolução de 1930, a família de Ariano se mudou para Taperoá e, ainda criança, migrou para o Recife, onde ele se fixou residência até a morte.
A mudança foi tão relevante que Ariano Suassuna cresceu evitando chamar a capital da Paraíba de João Pessoa. Até a morte chamava a capital de Parahyba, com "h" e "y", como no passado.
“Ariano está arrastado do ponto de vista biográfico com essa história porque ele perde o pai assassinato no turbilhão de acontecimentos dos quais redundaria o seu tio João Dantas e assassino de João Pessoa. Então, no romance 'A Pedra do Reino' está justamente a visão do lado derrotado”, comentou o escritor e jornalista Astier Basílio, em depoimento ao Conversa Política.
O próprio Ariano Suassuna reconhecia que o assassinato de seu pai ocupava posição marcante em sua inquietação criadora. No discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em agosto de 1990, disse:
“Posso dizer que, como escritor, eu sou, de certa forma, aquele mesmo menino que, perdendo o pai assassinado no dia 9 de outubro de 1930, passou o resto da vida tentando protestar contra sua morte através do que faço e do que escrevo, oferecendo-lhe esta precária compensação e, ao mesmo tempo, buscando recuperar sua imagem, através da lembrança, dos depoimentos dos outros, das palavras que o pai deixou".
Atuação política
A formação humana de Ariano foi no Recife. Lá seus primeiros estudos e ingressou na Faculdade de Direito do Recife, se aproximou da arte, escreveu seus primeiros livros.
A política, no entanto, nunca saiu de suas veias, através de cultura e dos versos.
Apesar de nunca aceitar disputar a cargos políticos, Ariano atuou muito fortemente na administração pública. Foi secretário de Educação e Cultura do Recife (1975–1978), secretário de Cultura de Pernambuco (1994–1998), secretário especial de Cultura de Pernambuco (2007-2010) e secretário da Assessoria Especial do governador Eduardo Campos (2011–2014).
Movimento Armorial
Como principal marca de ter a 'caneta na mão' está a criação do Movimento Armorial, criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste brasileiro em várias formas de expressão, como música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura.
Ariano dizia que tinha dois compromissos com o projeto: um estético, que pretendia recriar as manifestações culturais populares nordestinas numa roupagem erudita; e o outro político, com desejo de lutar contra a descaracterização da cultura brasileira promovido pela entrada dos meios de comunicação de massa no Brasil.
"Do ponto de vista pessoal, Ariano passou toda a sua vida como defensor da cultura popular, como alguém que vindo das classes privilegiadas procurava e tentou estabelecer uma arte erudita com base nas raízes e arte produzidas pelo povo", destacou Astier Basílio.
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