CONVERSA POLÍTICA
Opinião: diante de diplomatas, Bolsonaro adota discurso de derrotado e mostra que 'semeia' o golpe
A campanha eleitoral dele não é para ganhar a eleição, mas para "perder bem" e convencer a população que perdeu por causa de fraude no sistema de votação.
Publicado em 19/07/2022 às 10:53 | Atualizado em 19/07/2022 às 11:03
O presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu diante de embaixadores de vários países que não vai respeitar o resultado das eleições. Não foi com essas palavras, mas nem precisava. Juntou os diplomatas e apresentou uma série de mentiras contra o sistema eleitoral brasileiro. Sem provas, somente com teorias conspiratórias.
Falou do sistema que o elegeu parlamentar seis vezes, elegeu os filhos outras tantas vezes e o colocou no Palácio do Planalto.
Quer semear no mundo a descrença no processo eleitoral brasileiro e continuar a gestação do golpe. Faz isso com entusiastas das Forças Armadas que estão ocupando cargos estratégicos no governo.
O TSE, pré-candidatos à Presidência (Ciro, Tebet, Lula e Janones) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), rebateram as declarações por meio de notas e postagens nas redes sociais. Mas é preciso mais.
O movimento no sentido contrário tem que chegar com mais força, tem que ser coletivo, de instituições, empresas, sociedade, presidentes de partidos e do sistema judiciário. Bolsonaro já fala como derrotado e procura uma justificativa para continuar comandando o país, mesmo sem a legitimidade do voto popular.
A campanha eleitoral dele não é para ganhar a eleição, mas para "perder bem" e convencer a população que fracassou por causa de uma fraude no sistema de votação.
Vale lembrar que, de acordo com as pesquisas, ele perde até para Ciro no segundo turno, e que o voto impresso já foi derrotado no Congresso.
Eleitores dos presidente deveriam cobrar dele uma postura de competidor e não de perdedor. Aliás, os seus eleitores acreditam mais na vitória do que ele mesmo.
Mas o que Bolsonaro quer, agora, é plantar a semente da desconfiança para iniciar a fervura do caos. Quer cultivar em uma parte da população a dúvida que provoca inércia, paralisação.
O Centrão
Parlamentares do Centrão, comandados por Artur Lira (PP), presidente da Câmara ( o presidente de fato do país), silenciaram. Silenciaram porque ainda se lambuzam com as verbas do Orçamento Secreto.
Porém é preciso saber: se eleitos pelo sistema eletrônico, sempre confiável, vão deixar o presidente, que parece derrotado por antecipação, "melar" seus mandatos?
Gravidade
O que o presidente fez, ontem (18), sem aplausos dos diplomatas, foi atentar contra a Constituição porque coloca em risco a eleição. Tá tentando remover cláusula pétrea, com a justificativa de que todo o sistema está contra ele.
Fez e faz tudo sob a proteção de Lira e de um Procurador-Geral da República, Augusto Aras, uma espécie de marionete do presidente, que envergonha o Ministério Público Federal.
Muitos até acham que não tem clima para um "golpe", mas Bolsonaro já mostrou que ele sabe criar clima.
Ação no STF
Nesta terça-feira, parlamentares de diversos partidos pediram ao STF investigação de Bolsonaro pelo ataque ao sistema eleitoral. Eles alegam que o presidente cometeu improbidade administrativa, propaganda eleitoral antecipada e abuso de poder político e econômico. Caberá à PGR decidir se vai apresentar denúncia contra Bolsonaro.
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