CONVERSA POLÍTICA
Eduardo Leite diz que votar em Bolsonaro foi um erro, critica polarização, defende programas sociais e privatizações
Publicado em 07/08/2021 às 10:47 | Atualizado em 03/09/2021 às 14:59
Por LAERTE CERQUEIRA e ANGÉLICA NUNES
"Eu faço política com sentido de missão". Foi com essa frase que o governador do Rio Grande do Sul, pré-candidato à presidência da República, começou o bate-papo com o Conversa Política.
O gestor de 36 anos foi vereador e prefeito de Pelotas e desde 2018 comanda o estado que tem a quarta maior economia do país.
Em novembro, Leite disputa as prévias do PSDB, com João Dória (SP), Arthur Virgílio (AM) e Tarsso Jereissati (CE) que vão definir nome tucano para disputa presidencial de 2022.
Eduardo Leite afirmou que se sente capacitado, mas que não tem todas as repostas. "Ninguém tem. Por mais idade que tenha", afirmou.
"A gente tem conciliar também a nossa aspiração pessoal com o sentido de missão. Política é sobre colocar o outro em primeiro lugar. E não a nós mesmos. Não é sobre ser presidente da República. É sobre fazer, através da política, a diferença na vida das pessoas [...] a nossa missão primeira é trazer o país para o equilíbrio, para a sensatez e sobriedade", declarou em um dos momentos da entrevista.
Nesse primeiro trecho da entrevista, você confere seu argumentos sobre capacidade de governar, necessidade de aglutinação e de diálogo. Confira:
Visita ao Nordeste
Num segundo momento, o pré-candidato à presidência falou sobre a inserção do nome dele no Nordeste, os palanques regionais e a vinda à região.
De acordo com Eduardo Leite, uma agenda de visita está programada para segunda metade deste mês de agosto. O governador deve passar por Caruaru, em Pernambuco, onde terá como anfitriã a prefeita Raquel Lira. Aqui na Paraíba, o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) fará a ponte.
Sobre encontrar lideranças de outros partidos no NE, Leite afirmou que não pode desconsiderar políticos que estão em outros campos, mas que estão dispostos a dialogar.
"Vamos enfrentar as ideias e não uns aos outros", afirmou.
"Vamos buscar convergências, construir alianças em torno de projetos. Com uma agenda para o estado (PB), para o Brasil". Segundo ele, será uma oportunidades de se apresentar e conhecer de perto as demandas locais. Confira:
"Foi um erro", diz governador sobre voto a Bolsonaro
O governador fez críticas duras ao governo Bolsonaro e à gestão do presidente na pandemia. Eduardo Leite afirmou que não pediu voto para Bolsonaro, não apoiou, não fez campanha junto, mas votou nele, como um cidadão que precisava fazer um escolha num cenário de polarização, contra o candidato do PT, que entendeu, naquele momento, que era o melhor caminho.
"É evidente que mesmo assim foi um erro. Porque a crueldade do presidente, a falta de empatia, a falta de humanidade dele se revelou, especialmente na pandemia [...] milhares de vidas perdidas por conta de uma conduta irresponsável. Simplesmente para sustentar uma narrativa, para sustentar o seu discurso ideológico e isso é tenebroso", desabafou.
E continuou:
"É sem dúvida uma grande mal que foi feito ao país. Não dimensionávamos o tamanho que essa crueldade significava para o país. Precisamos corrigir [...] o que eu tenho salientado é que a volta de Lula não vai cicatrizar as feridas deixadas por Bolsonaro.
Programas sociais e privatizações
O pré-candidato defendeu os programas sociais de transferência de renda e também algumas privatizações de empresas, que "pesam" nas contas do Estado e não trazem benefícios à população.
"A gente trabalha nas duas frentes. Aí entra a questão de desenvolvimento econômico e de educação para desenvolver nossas crianças e jovens para que elas sejam capazes de assegurar as vagas de trabalho que esse novo mundo apresenta para eles, para elas. Mas reconhecer que infelizmente essa oportunidade não vai chegar a tempo para muitas pessoas. Aí tem o papel sim de redução das desigualdades com ação afirmativa de governo, com políticas públicas de transferência de renda, e de serviços públicos que deem dignidade a essas pessoas", explicou.
Leite defende um estado eficiente que gaste menos para dentro da máquina pública para conseguir gastar com a população.
"Se eu tenho que sustentar uma empresa deficitária que é pouco eficiente, é dinheiro público que está indo naquela empresa e que deixa de ir para um problema que evidentemente faria a diferença na vida das pessoas", afirmou Leite.
Ameaças à democracia, voto impresso e papel do PSDB
O governador afirma que não há nada objetivamente que justifique adoção do voto impresso. Apenas ilação. "É bravata do presidente para causar confusão", crava.
Leite faz uma ressalva, lembrando que nem todo mundo que é a favor do voto impresso quer confusão. "Acho até que é legítimo. O problema é que sob Bolsonaro tudo vira um risco institucional. Para ele, o presidente estimula o conflito, gera a confusão, a instabilidade. "Ainda bem, as instituições parecem estar tendo reações mais contundentes", disse.
"Essas ameaças vão esticando a corda, vão gerando a instabilidade [...] quando se dá conta pode ser tarde demais", afirma o governador lembrando que não é adepto às teorias conspiratórias, mas que é preciso criar limites.
Com relação ao pedido de impeachment, Eduardo Leite acredita que já há base jurídica, crimes para iniciar um processo no Congresso. Mas, para ele, apesar da base jurídica, não há ambiente político para isso.
"Impeachment se faz também nas ruas", explicou.
Sobre o papel do PSDB, o pré-candidato afirmou que é legítimo que o partido busque o protagonismo.
"Não é sobre atender a vaidade individual ou a do partido, mas o projeto de país. Isso significa ter humildade para sentar a mesa, com outros partidos pedir o apoio. Mas com humildade de saber apoiar", afirmou.
Declaração de que é gay
O governador falou também sobre uma declaração envolvendo a vida pessoal, feita recentemente. Ele explicou que precisou dizer que era gay para evitar que adversários político usassem a orientação sexual como combustível para "piadinhas" ou evitar a tentativa de alguns de fazer as pessoas acreditarem que ele tinha algo a esconder.
"Eu nunca menti. Eu nunca neguei a minha orientação sexual. Nunca falei sobre ela, porque ela foca na minha vida, não na vida dos outros. Mas não Brasil de hoje isso é assunto", afirmou.
E continuou: "Entendi que hoje era o caso de falar publicamente sobre isso porque alguns adversários começam a fazer piadinhas ou uma tentativa de fazer crer que que tivesse algo a esconder [...] eu não tinha falado porque não era assunto. Não falei na minha eleição para prefeito. Não foi assunto na eleição para governador. Mas com a política do jeito que está no Brasil (...) Não tenho nada a esconder, não tem nada de errado, é um característica minha. Não me faz nem melhor nem pior que ninguém", afirmou.
No fim da conversa, ao falar diretamente para nordestinos e paraibanos, disse que é preciso olhar para as vocações locais e desenvolver melhor as potencialidades. "Na região Nordeste, me parece muito claro, que duas frentes precisam ser trabalhadas: infraestrutura e qualificação do mercado de trabalho", explicou. Veja a fala completa:
Edição de vídeos: Luana Silva
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