Falta de profissionais de saúde especializados pode ser outro problema se Covid-19 avançar mais na PB

Por ANGÉLICA NUNES e LAERTE CERQUEIRA 

A notícia da ampliação de mais 150 leitos de UTI para Covid-19 em João Pessoa e a chegada de 70 respiradores é, sem dúvida, um alívio, em meio à apreensão com o aumento vertiginoso de casos. Como consequência, os hospitais públicos e privados estão chegando ao limite (alguns chegaram). Na região metropolitana, as UTIS já estão com a ocupação acima de 80% e as enfermarias acima de 70%.

A realidade, no entanto, é que o esgotamento físico dos profissionais de saúde que atuam na 'linha de frente', o afastamento de muitos, combinado com as dificuldades legais para contratar mais pessoal, rapidamente, poderá ser um outro "nó" que as autoridades de saúde precisarão desatar. E o pior, com o "navio" no meio da tempestade.

Relatos angustiantes 

Os relatos que chegam ao Conversa Política dos profissionais que atuam nos hospitais de referência para Covid-19 são angustiantes: leitos praticamente 100% ocupados, pacientes internados com sensores apitando por todos os lados, praticamente a noite toda. Ninguém consegue parar, mesmo com fome, porque estão paramentados sempre à disposição para situações de urgência. Muita gente estafada, outras tantas de atestado, desfalcando os plantões.

Inexperiência de profissionais 

Na outra ponta, quem está disposto a entrar na "guerra" esbarra na inexperiência e na falta de tempo para capacitação. Problema que, agora, é até menor que na primeira onda. O que não é menos preocupante.

O perigo é se uma nova onda chegar com mais força depois da "combinação de carnaval, fim de viagens de verão, nova cepa e o período de aumento de síndromes gripais, março e abril", explicou médico consultado pelo blog.

Médicos lembram que são UTIs que exigem profissionais com experiência. Quem tem expertise para UTI deste tipo no nosso estado? Em situação grave, o número fica limitado. "E quem é doido de colocar gente sem experiência numa UTI? Ano passado até recebemos alguns profissionais sem experiência. Foi bronca, porque foi preciso treinar todos. E mesmo assim muita gente não aprendeu e precisou ser desligada, senão seria um risco para os pacientes. E olhe que foram feitos processos seletivos", relatou um profissional da saúde da "linha de frente" de um hospital publico de JP.

Obstáculos legais

Para aumentar o 'nó', há dificuldade de contratação de profissionais de forma direta, rapidamente, porque os órgãos de controle entendem que isso poderia ser usado para beneficiar os "conhecidos". O que de fato pode acontecer. Históricos pelo Brasil afora colocam o procedimento sempre sob suspeita.

Por outro lado, os processos seletivos não atendem a demanda com a agilidade que o momento exige. É quando diálogo e transparência precisam entrar em cena.

E os especialistas na gestão do "caos-covid" não têm dúvida: aumentar o número de profissionais é fundamental. Os casos voltaram a subir. Só no boletim deste sábado (20) foram 1.349 novo casos de covid-19 registrados no estado, acumulando 211 mil ao longo da pandemia. Nos últimos dias, a quantidade de mortes variou entre 13 e 22. Municípios voltaram à bandeira vermelha, outros tantos regrediram para a laranja.

Novo decreto conjunto vai sair 

Autoridades de Saúde dão como certa a adoção de medidas restritivas nas próximas horas, foi o que disse uma fonte, ontem à noite (20), ao blog. O texto municipal é finalizado, passa pelo jurídico, e visa tentar reduzir a circulação de pessoas.

Mas, por causa de algumas divergências, nesta segunda-feira (21), fomos informados que o governador João Azevêdo (Cidadania) deve se reunir com gestores. O decreto tem tudo pra ser conjunto e mais duro do que se imaginou, inicialmente. A preocupação ficou evidente em vídeos e mensagens divulgadas por autoridades e médicos, neste fim de semana, nas redes sociais. Pelo menos dois bares foram autuados por provocar aglomeração.

Ontem, foram realizadas fiscalizações em toda cidade, onde já havia indicações claras de que aglomerações iriam acontecer. O trabalho realizado pelos órgãos de vigilância deve embasar o novo decreto.

Em resumo, estamos entrando em uma outra fase dura. Mas enquanto não chega, hoje foi dia de praia lotada.