CONVERSA POLÍTICA
Forças Armadas têm que decidir se estão com Bolsonaro ou com a democracia, diz artigo no NYT
Publicado em 22/07/2021 às 19:51 | Atualizado em 30/08/2021 às 18:54
Por LAERTE CERQUEIRA e ANGÉLICA NUNES
O diretor-executivo na Sciences Po, de Paris, Gaspard Estrada afirmou em artigo publicado nesta quinta-feira (22) no New York Times que o Brasil vive uma acelerada degradação institucional sob o governo Jair Bolsonaro —e que esse processo, muitas vezes, conta com a chancela das Forças Armadas.
"O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, está estimulando uma ruptura institucional na segunda maior democracia do continente americano, de maneira semelhante a Donald Trump nos Estados Unidos", diz Estrada.
"E o problema é que no Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, os escalões superiores das Forças Armadas têm tido um papel central nesse objetivo, muitas vezes respaldando o ataque autoritário do capitão reformado", segue o artigo, publicado em espanhol.
O cientista político afirma que, embora o governo Bolsonaro tenha cruzado muitas "linhas vermelhas" anteriormente, neste momento o país se encontra diante do "inaceitável".
"Se as Forças Armadas querem manter a adesão às leis e à Constituição, devem decidir se estão com o Bolsonaro ou com a democracia", diz Estrada em publicação no jornal norte-americano.
Nas últimas semanas, Jair Bolsonaro (sem partido) disparou sucessivos ataques às urnas eletrônicas, chegando a afirmar que as eleições de 2022 podem não ocorrer caso não exista um sistema eleitoral confiável —segundo ele, o voto impresso.
O cientista político da Science Po afirma que qualquer iniciativa que coloque em dúvida a realização do pleito marcado para o próximo ano e a modificação do sistema eleitoral ou do regime político, a exemplo das propostas quer versam sobre o voto impresso e o semipresidencialismo, deveriam ser repudiadas pelo Congresso, pelo Judiciário e pela sociedade civil.
O artigo no New York Times também cita a CPI da Covid no Senado, atribuindo a ela descobertas relacionadas a indícios da participação de militares na compra de vacinas contra a Covid-19 a preços elevados.
"As altas autoridades militares exigiram publicamente a impunidade para os seus próprios. Ao fazer isso, o Exército duplica sua aposta a favor dos desejos golpistas de Bolsonaro e contra a democracia brasileira", diz Gaspard Estrada.
Ele se refere a nota divulgada no início do mês pelo ministro da Defesa, Braga Netto, e pelos comandantes das Forças Armadas em repúdio a declarações do presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM).
Na ocasião, Aziz afirmou que havia muitos anos que o Brasil "não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo".
Em resposta, Braga Netto e os comandantes afirmaram que o senador desrespeitou os militares e que as Forças Armadas não aceitariam "qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro".
"Ao apoiar cegamente um governo que realiza um dos processos mais extremos de destruição da democracia no mundo, as Forças Armadas correm o risco de ficarem indelevelmente associadas a ele", diz Estrada.
"Ao contrário da década de 1960, quando Washington [EUA] apoiou um golpe militar que levou a uma ditadura de 21 anos no Brasil, o governo Bolsonaro está agora politicamente isolado no hemisfério e no mundo", segue o cientista político.
Informações da Folha
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