CONVERSA POLÍTICA
De maneira "planejada", Bolsonaro e seus seguidores alimentam clima de descrença no voto eletrônico
Publicado em 09/06/2021 às 16:56 | Atualizado em 30/08/2021 às 18:55
Por LAERTE CERQUEIRA e ANGÉLICA NUNES
No início da década de 90, Bolsonaro questionou o voto em cédula. Defendeu informatizar apuração das eleições para combater fraudes.
"Esse Congresso está mais do que podre. Estamos votando uma lei eleitoral que não muda nada. Não querem informatizar as apurações pelo TRE [Tribunal Regional Eleitoral]. Sabe o que vai acontecer? Os militares terão 30 mil votos e só serão computados 3.000", afirmou o deputado, durante um encontro no Clube Militar, segundo a edição de 21 de agosto de 1993 do Jornal do Brasil. O regaste foi feito pelo Jornal O Globo.
Agora, lidera um movimento para que o Congresso aprove a impressão do voto na urna eletrônica, como forma de ter uma contraprova física.
Confia no trator de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, negociador de emendas, para empurrar goela abaixo a mudança.
Mais do que isso. Sua claque, no Congresso e nas ruas, repete o discurso pronto e inventa justificativa para desacreditar o modelo de votação brasileiro, que nunca, em 25 anos, demostrou indícios de insegurança.
Hoje (09), o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, em meio a pandemia, com quase meio milhão de mortos, foi falar para os parlamentares aquilo que todo eles já sabem: o voto eletrônico é seguro, é auditável e tem camadas de segurança conhecidas por partidos e seus representantes.
É mais um dos episódios do Brasil atual que nos faz pensar que estamos voltando no tempo, com debate infrutífero e produzido para gerar o caos. A maioria se elegeu, reelegeu e criou raiz em Brasília com esse sistema de votação.
O presidente planta a desconfiança para ter um seguro eleitoral. Se ganhar, dirá que poderia ter sido com um número de votos maior (como já fez).
Se perder, deixou florescendo na cabeça de seus seguidores, e de boa parte da população, a descrença na Justiça Eleitoral. O sentimento de insegurança pode alimentar revolta, insatisfação e estremecimento social. É isso que o governo parece querer alimentar.
Cria um cenário de nenhuma fé, de podridão na imprensa, no judiciário, no legislativo, na bases do Estado Democrático de Direito. Torna os que pensam diferente em inimigos. Vira salvação.
A oposição, como o PDT, de Ciro e Carlos Luppi, dá força à ideia, com motivações históricas. Seria uma forma de evitar contestações futuras de um perdedor.
Sabem que esse não é o problema e querem pagar para ver. Ajudam a montar uma armadilha. Em qualquer cenário: com voto eletrônico, de papel, com comprovantes, a eleição será contestada por Bolsonaro.
O presidente prepara o terreno para continuar fincado no Planalto e quer ter o máximo de pessoas ratificando que ele merece porque o sistema é injusto. O sentimento de desconfiança já ferve, como planejado.
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