Hervázio Bezerra vai na contramão e diz ser contra cotas para mulheres na disputa eleitoral

O deputado Hervázio Bezerra (PSB) tem embarcado em uma bravata, provavelmente em busca de sobrevivência para tentar se eleger no próximo ano. Primeiro instigou os colegas parlamentares a pressionar os senadores pela volta das coligações. Agora, resolveu se posicionar "flagrantemente contra as cotas para mulheres" para a disputa eleitoral.

O deputado aproveitou a votação de um projeto da deputada Pollyana Dutra, que cria o 'Dia Estadual da Participação da Mulher na Política' para desabafar, segundo ele, de "forma corajosa", contra a ampliação da participação das mulheres na política.

O projeto de Pollyana foi aprovado na sessão remota de hoje (1º), sem amplo debate, inclusive por parte das outras cinco deputadas que compõem a Assembleia Legislativa da Paraíba.

Antes da votação, Hervázio despejou seu posicionamento sobre o assunto:

Sou flagrante contra as cotas. Veja o problema que estamos enfrentado agora no país inteiro e aqui na Paraíba. Não vamos botar a culpa na Justiça, a culpa é do nosso parlamento, de chegar e decidir essa história de quantidade de mulheres em cada partido e em cada coligação, declarou.

O deputado não falou expressamente sobre o que o incomoda, mas no Senado tramita uma proposta que prevê a contagem em dobro dos votos dados a mulheres e a negros na Câmara Federal para efeito de distribuição de fundo eleitoral e partidário.

Há outra proposta para reservar porcentagem mínima de cadeiras na Câmara, nas assembleias legislativas e nas câmaras municipais a ser preenchida por mulheres. Ambas já valeriam para o próximo ano.

"Eles vão tomar um postura que não tem nada a ver diretamente com eles. Os senadores são candidatos majoritários, não posso ter hipocrisia. Eu só tenho uma cara, uma postura, que me permita os senadores, como eu vou tomar uma decisão que não vai me afetar em absolutamente nada?", questionou.

Mais representatividade

O xis da questão é que as mulheres correspondem a 51,8% da população brasileira, segundo dados do IBGE. Natural, portanto, que haja um movimento dos poderes para fomentar uma maior representatividade feminina na política.

O Congresso Nacional, por exemplo, caminha para aprovação de novas regras para as Eleições 2022 que devem assegurar mais espaço das mulheres não apenas na disputa eleitoral, como também nas cadeiras no legislativo.

A Justiça Eleitoral também tem cumprido seu papel com uma campanha de conscientização sobre o tema, inclusive tocando em feridas pouco tratadas: o assédio moral e sexual contra àquelas que conseguem "chegar lá".

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou, ontem (31), a criação de um cadastro online para dar visibilidade a mulheres juristas. Mais um passo nesse processo de ampliação da participação feminina no Judiciário brasileiro.

As declarações do deputado, embora claramente com conotação de buscar assegurar sua eleição em 2022, vai na contramão de todo esse movimento para dar maior representatividade proporcional da população brasileira.

Se há distorções, como as 'candidaturas laranjas', que elas sejam corrigidas, com estímulo à participação efetiva das mulheres no processo político-partidário.

O projeto da deputada Pollyana Dutra, aprovado hoje, inclusive, caminha nesse sentido. Incentiva a promoção de cursos de formação e conscientização em escolas, universidades e órgãos públicos sobre a importância da participação da mulher na política. Que não vire letra morta, caso consiga passar sem veto pelo Executivo.

Confira a declaração de Hervázio Bezerra: