CONVERSA POLÍTICA
Semana Santa: gestores gastam quase R$ 4 milhões em peixes e outros produtos para doações
De acordo com dados do Mural de Licitações do TCE-PB, gestores compraram quase 300 toneladas de peixe, além de, em alguns casos, cestas incrementadas com arroz, coco ou leite de coco, alho e até chocolate.
Publicado em 14/04/2022 às 14:55
O feriado da Semana Santa é marcado por uma série de tradições cristãs, como comer peixe na Sexta-feira da Paixão. Por causa disso, na Paraíba, a distribuição de pescados para a população carente segue firme em vários municípios paraibanos, mesmo em período de crise econômica ainda latente.
De acordo com dados do Mural de Licitações do TCE-PB, atualizados até às 8h desta quinta-feira (14), pelo menos 37 prefeituras abriram processo para doar itens na Semana Santa ao povo.
O montante em dinheiro chega a quase R$ 4 milhões para a compra de quase 300 toneladas de peixe, além de, em alguns casos, cestas incrementadas com arroz, coco ou leite de coco, alho e até chocolate. Ano passado, também com base no TCE, foram gastos R$ 2,9 milhões.
São recursos públicos usados para atender a necessidade da população carente, de modo formal, mas sem regras sobre o processo.
Alguns dos procedimentos, com base em decretos de calamidade pública em decorrência da pandemia, inclusive, foram realizados com dispensa de licitação. Ações que amparadas em lei, por tabela, geram dividendo políticos inquestionáveis.
Transparência
Algumas prefeituras optaram por usar recursos do Fundo de Assistência Social do Município e alegam que usaram o cadastro prévio de todas as pessoas aptas a receberem o benefício social. Confirmações que precisam de uma atenção e, principalmente, fiscalização maior dos órgãos de controle.
Os contratos disponíveis no sistema do TCE-PB não demonstram quais critérios serão utilizados pelas prefeituras para a distribuição dos produtos na Semana Santa.
A prefeitura de Conde, por exemplo, divulgou a a distribuição de 42,5 toneladas de alimentos. Afirma que foram distribuídas 17 toneladas de peixe, mil quilos a mais que no ano anterior; 17 toneladas de macaxeira adquiridas de produtores rurais da região; com 8,5 mil quilos de arroz tipo 1, beneficiando as famílias cadastradas no CadÚnico.
A gestão de Conde divulgou que alimentos foram adquiridos pela Prefeitura através de processo licitatório, mas o procedimento não foi protocolado no TCE-PB. Apenas no portal de transparência do município.
Sem impessoalidade
Uma questão que destoa nesse processo é a distribuição direta do peixe pelo prefeito ou prefeita às pessoas carentes. Ainda que não seja ano de eleições municipais, é algo a ser evitado, a fim de descaracterizar o fim eleitoreiro do programa. Muitos têm parente ou aliado político de olho na disputa.
Um exemplo na edição deste ano, pós-flexibilização de medidas sanitárias contra Covid-19, é em Bayeux. A prefeita Luciene Gomes 'pagou' seu marketing pessoal na distribuição das doações. Foi in loco nas escolas onde os kits estavam sendo entregues. Ao todo foram 10 toneladas de peixe, além de arroz e coco ao custo de R$ 242.700.
O prefeito de Cabedelo, Vitor Hugo (União Brasil), também foi pessoalmente entregar peixes aos moradores, como fez questão de postar em sua redes social ao lado de beneficiários e até fez uma selfie com o produto.
Além de 17,9 toneladas de peixe, o município incrementou a cesta da Semana Santa deste ano com leite de coco, alho e até chocolate. Tudo registrado nas redes sociais do gestor, ao lado da primeira-dama, que é cotada para disputa na Assembleia Legislativa.
A Prefeitura Municipal de Lucena, através da secretaria de desenvolvimento social, fechou uma parceria com a empresa Coco do Vale. Cerca de 8 toneladas de peixe e coco para a comunidade carente do município foram distribuídos na última quarta-feira (13), com direito a compartilhamento das ações nas redes sociais e no site oficial da prefeitura. No site do TCE consta a aquisição de 4,5 mil kg de peixe, no valor de R$ 85.050,00.
Fiscalização
Outro ponto é: não basta adquirir, o produto tem que chegar às pessoas que deveriam ser contempladas com a doação. Não apenas entregues, mas comprovadas mediante recibo ou documento similar assinado pelo beneficiário. É o que diz a lei.
Esse controle se torna relevante ainda mais depois de casos recentes, como o exposto na durante a Operação 5467, que expôs toneladas de peixes em deterioração no galpão da Empasa, além de outros alimentos. Comida que deveria estar na mesa da população, que tem fome e não apenas na Semana Santa.
Confira os municípios que compram itens para distribuir na Semana Santa:
Município | Peixe comprados (quilos) | Valor da compra |
Alagoa Nova | 6.000 | R$ 55.200,00 |
Alagoinha | 11.000 | R$ 161.700,00 |
Alcantil | Não informado | R$ 15.373,50 |
Arara | 10.000 | R$ 139.900,00 |
Araruna | 3.500 | R$ 67.480,00 |
Bananeiras | 12.000 | R$ 138.000,00 |
Bayeux | 10.000 | R$ 242.700,00 |
Belém | 6.000 | R$ 107.940,00 |
Borborema | 1.800 | R$ 32.760,00 |
Cabedelo | 17.000 | R$ 212.500,00 |
Cacimba de Dentro | 6.000 | R$ 77.940,00 |
Capim | 7.000 | R$ 121.730,00 |
Catolé do Rocha | 10.000 | R$ 169.000,00 |
Cruz do Espírito Santo | 15.000 | R$ 269.850,00 |
Cuité | 4.500 | R$ 69.750,00 |
Cuité de Mamanguape | 2.700 | R$ 49.959,00 |
Cuitegi | 5.500 | R$ 61.050,00 |
Curral de Cima | 5.000 | R$ 100.425,00 |
Damião | 13.000 | R$ 11.306,25 |
Dona Inês | 3.000 | R$ 43.200,00 |
Jacaraú | 7.000 | R$ 116.900,00 |
João Pessoa | 20.000 | R$ 299.800,00 |
Juripiranga | 7.000 | R$ 117.780,00 |
Logradouro | Não informado | R$ 50.100,00 |
Lucena | 4.500 | R$ 85.050,00 |
Mamanguape | Não informado | R$ 49.010,00 |
Mari | 13.000 | R$ 161.700,00 |
Mataraca | 1.500 | R$ 24.000,00 |
Montadas | 2000 | R$ 49.980,00 |
Pedras de Fogo | 6.000 | R$ 108.660,00 |
Pedro Régis | 3.500 | R$ 66.280,00 |
Pilõezinhos | 6.000 | R$ 87.900,00 |
Pocinhos | 6.000 | R$ 113.400,00 |
Riachão | Não informado | R$ 35.980,00 |
São Vicente do Seridó | 5.000 | R$ 62.500,00 |
Santa Cecília | 2.000 | R$ 128.000,00 |
Santa Rita | 12.000 | R$ 102.000,00 |
TOTAL | 244.500 | R$ 3.806.803,75 |
Em tempo de pandemia, de aumento do desemprego e de dificuldades para colocar o alimento na mesa, um presente seria muito bem vindo. O problema é que nem todos têm esse direito.
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