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POLÍTICA

Jean Willys diz que homofobia é mais forte no Nordeste

Deputado federal Jean Willys (PSol-RJ)  garante  que já foi ameaçado de morte várias vezes.

Publicado em 13/10/2011 às 6:30

Um marco na defesa dos direitos dos homossexuais. É assim que o deputado federal Jean Willys (PSol-RJ) é visto dentro de boa parte do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), desde que assumiu o primeiro mandato, no começo deste ano. Ameaçado de morte várias vezes por meio das redes sociais, o jornalista e ganhador do reality show 'BBB', da Rede Globo, disse, em entrevista ao Jornal da Paraíba, que o preconceito contra gays se tornou "aceitável", com o uso dos mesmos argumentos usados para negar direitos civis a mulheres e a negros em outros tempos.


- Como você avalia os números de assassinatos motivados por homofobia na Paraíba? Já foram 17 só este ano.

- Esses dados comprovam uma tendência que as estatísticas frágeis comprovam, de que os Estados do Nordeste têm grandes índices de homofobia, a despeito de São Paulo, onde esses crimes têm crescido de forma assustadora. Isso acontece porque no Nordeste o machismo, o sexismo, a homofobia, vigoram com mais força do que em outras regiões. Nós lidamos com estatísticas precárias, já que não temos um instrumento de avaliação dos crimes homofóbicos, apenas um levantamento que é feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), com uma metodologia imprecisa. A Secretaria dos Direitos Humanos, através da ministra Maria do Rosário, vem tentando desenvolver estatísticas mais precisas com o Disque-Homofobia, criado neste ano. O que eu posso avaliar em relação a esses crimes aqui na Paraíba é isso, a confirmação de uma tendência. É lamentável. A maioria das vítimas desses crimes é de travestis e transexuais, confirmando outra tendência, de que o segmento mais vulnerável da comunidade LGBT é das transexuais, que já sofrem uma violência ao serem excluídas do mercado de trabalho e são empurradas deliberadamente para a prostituição.

Elas se tornam vulneráveis ao tráfico internacional de pessoas, ao trabalho escravo sexual e à violência, seja por conta de quem alicia e explora o serviço delas, seja por quem faz programas com elas.

- Você acredita que hoje os casos de violência contra homossexuais estão mais comuns ou apenas estão sendo mais divulgados?
- As duas coisas. Os casos hoje são mais divulgados, já que a população tem mais instrumentos de divulgação desses crimes, como as redes sociais, o YouTube, os blogs, e antes a primazia da divulgação desses crimes era da imprensa. Hoje, pessoas comuns podem fazer denúncias e servir até de fonte para a imprensa. Mas o número de crimes está aumentando como uma reação às conquistas da comunidade LGBT, que tem feito conquistas significativas em termos de visibilidade, já que o Brasil é o país com maior número de 'Paradas Gays' no mundo, temos as Conferências LGBT em todo o país, a Conferência Nacional, etc. Essas conquistas têm provocado uma reação nos setores mais conservadores que têm respondido, não só com campanhas difamatórias, mas também com os crimes propriamente ditos.

- Por que é tão difícil aprovar legislações específicas em relação aos direitos gays no Congresso? A PLC 122, chamada de lei contra a homofobia, por exemplo, não consegue avançar...
- Porque os direitos LGBTs fazem parte do que se convencionou chamar de "causas polêmicas". Existem as causas unânimes, como os direitos das crianças, o meio ambiente, dos idosos, e desses nenhum parlamentar pensa duas vezes antes de dizer, ainda que seja da boca pra fora, que são a favor. Mas muitos deles se colocam publicamente contra a cidadania LGBT e essa é a principal dificuldade na aprovação de leis. A homossexualidade é tratada como uma questão moral e não como uma questão da violação de direitos humanos, de liberdades civis. Muita gente acha que é legítimo alguém perder direitos ou ser violado nos seus direitos humanos por ser homossexual e é o mesmo pensamento que já norteou, por exemplo, a violência contra os negros, contra as mulheres. Muita gente achou que era legítimo e "natural" que as mulheres não votassem, porque elas seriam "naturalmente inferiores", um pensamento que hoje é rechaçado por ser absurdo e que muito tempo foi sustentado por políticos. Já hoje, você vê que um pensamento como esse é sustentado por vários parlamentares, inclusive por parlamentares aqui da Paraíba.

- Você acredita que os parlamentares que aparecem criticando a luta dos homossexuais publicamente, como Jair Bolsonaro (PP-RJ) ou Marcos Feliciano (PRB-SP), querem apenas ganhar visibilidade com a polêmica?
- São oportunistas. Querem construir uma cortina de fumaça para que a população não preste atenção naquilo que interessa mesmo. Pra mim, o que deveria importar para a população são as igrejas neopentecostais gozarem de livre isenção fiscal e arrecadarem milhões de reais sem prestar contas à sociedade. Você viu que recentemente o Ministério Público de São Paulo ajuizou ação contra Edir Macedo (bispo da Igreja Universal e da TV Record) por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha. Você pode imaginar o quanto do dinheiro para saúde, segurança pública, educação já foi desviado nessa evasão de divisas por sonegação? Isso deveria ser de interesse da população. Mas quando você levanta a questão da homossexualidade como uma questão moral você cega a população para aquilo que realmente interessa. São caroneiros, oportunistas, que não têm uma agenda, nem um conjunto de trabalhos para o Brasil e que aparece publicamente e ganham espaço rechaçando os direitos dos homossexuais.

- Você acha que homossexuais não têm tantos direitos políticos por conta da falta de representatividade nos espaços de poder?
- Acho que os gays não gozam de tanta proteção do estado e de um conjunto de proposições legislativas e dispositivos legais que os protejam. Também porque não têm representantes e eles são incapazes, neste momento, de se organizar politicamente e eleger representantes que possam lutar por isso que eles não têm.

- O polêmico pastor evangélico Silas Malafaia tem um discurso muito incisivo contra os direitos dos homossexuais e fala do risco da criação de uma "ditadura gay", após a aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo e da proposta de lei contra a homofobia. Você acredita que esse risco existe, ou, pelo contrário, há o risco de ter cada vez mais influência da igreja no Estado, com a eleição de deputados e senadores ligados a grupos religiosos?
- Vou citar as palavras do pastor Ricardo Gondim, que eu respeito muito e que prova que o cristianismo tem quadros que são totalmente o contrário desses fundamentalistas: “Deus me livre de um Brasil evangélico”. Quando eu digo isso, eu digo de um país fundamentalista, que cerceia a liberdade de expressão, nossas manifestações culturais, que censure a nossa música, que transforme a tevê num espaço de reprodução de seus dogmas. Corremos muito mais risco de termos uma ditadura fundamentalista cristã do que uma ditadura gay.

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Jornal da Paraíba

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