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POLÍTICA

Mariz morreu sem ver uma Paraíba solidária

A trajetória do político, de Sousa ao Palácio da Redenção, e a luta árdua contra o câncer, que o mataria. 

Publicado em 13/09/2015 às 12:00

“O país vive o momento trágico do afastamento de um presidente”. Foi a frase que Antônio Mariz me disse, ao telefone, quando escolhido relator, no Senado, do processo de impeachment de Fernando Collor. Era início de outubro de 1992, Collor acabara de ser afastado pela Câmara e, antes do final do ano, não seria mais presidente. É uma das muitas lembranças que tenho do político que morreu há duas décadas, vencido por um câncer que o impediu de governar a Paraíba.

Muito antes, as imagens e a fala de conteúdo forte do jovem Mariz, prefeito de Sousa na década de 1960, estão no desfecho de “O País de São Saruê”, documentário de Vladimir Carvalho que se tornou símbolo da luta contra a Censura durante o regime militar. Mariz ajudou Vladimir a realizar o filme, e a sua presença ali permite que o associemos mais às ideias generosas daquele tempo do que ao momento em que aderiu à Arena, o partido de sustentação dos governos de exceção.

Mariz era um homem de gestos contidos. Falava baixo, a voz de tonalidade grave cada vez mais marcada pelo tabagismo que lhe custaria a vida. Mal conseguia disfarçar a timidez que aliados e adversários às vezes confundiam com ausência de simpatia. Na tribuna, não tinha a eloquência que notabilizou tantos políticos. Mas havia a integridade dos argumentos e das atitudes, características essenciais do líder que se projetou a partir da administração de sua cidade.

Nos anos 1970, o município de Sousa tinha, na Câmara Federal, dois representantes que atuavam em trincheiras opostas. Mariz, contrariando posturas da juventude, era da Arena, enquanto Marcondes Gadelha, orador brilhante, se destacava no grupo dos autênticos do MDB, o partido que fazia oposição à ditadura. Lá na frente, trocariam os papéis. Mariz iria para a oposição, Marcondes para o governo, elegendo-se senador pelo PDS, em 1982.

Antônio Mariz rompeu com a ditadura na escolha de quem governaria a Paraíba a partir de março de 1979. O indicado foi Tarcísio Burity. Mariz contestou e decidiu disputar, como dissidente, a eleição indireta realizada na Assembleia Legislativa. Perdeu e, na volta do pluripartidarismo, filiou-se ao PP de Tancredo Neves. Em 1982, as regras estabelecidas para impedir a vitória da oposição levaram o PP a fundir-se ao PMDB. Mariz disputou o governo e foi derrotado por Wilson Braga.

Deputado constituinte em 1986, senador em 1990, governador em 1994. Foram as últimas eleições que disputou e venceu. Foi o caminho que percorreu no retorno às suas origens de político progressista. Homem de partido, era sempre lembrado para disputar o governo. Em 1986, foi a vez de Tarcísio Burity voltar pela via direta, agora filiado ao PMDB. Em 1990, Ronaldo Cunha Lima venceria Wilson Braga. O sonho de Mariz ficou para 1994, quando já não tinha mais a saúde como aliada.

Devastado por um câncer contra o qual lutava desde o início de 1993, Mariz enfrentou a campanha em condições absolutamente adversas, sabendo o quão incerto era seu futuro. Venceu a disputa em segundo turno, a despeito das advertências sobre a sua saúde feitas no guia eleitoral pela oponente, Lúcia Braga, e assumiu o governo em 1º de janeiro de 1995. Afastou-se do cargo em maio, passando-o ao vice, José Maranhão, e, até setembro, viveu a sua agonia.

Na minha memória, a morte dele está associada à cobertura que fizemos na TV Cabo Branco. Na noite de 15 de setembro, a movimentação na Granja Santana indicava que o governador estava perto do fim. Os amigos se uniram à família numa vigília que se estendeu pela madrugada. No dia 16 de setembro, um sábado, a edição noturna do JPB exibia as matérias produzidas na residência oficial, quando a repórter Nelma Figueiredo pediu que apressássemos sua entrada ao vivo.

Os que comandavam o telejornal entenderam a “senha”, suspenderam a exibição das reportagens do dia e anteciparam a participação de Nelma. No monitor, tínhamos em preview a imagem da repórter ao lado do senador Ney Suassuna no jardim da granja. Foi ele que, através da TV Cabo Branco, deu em primeira mão a notícia da morte do governador. Antônio Marques da Silva Mariz, o político que projetava a Paraíba em tempos de solidariedade, não tinha mais como realizar seu sonho.

Imagem

Jornal da Paraíba

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