Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar

Relatório da Comissão Estadual da Verdade traz os nomes de mortos e desaparecidos na Paraíba durante o período da Ditadura Militar, que vigorou entre os anos de 1964 e 1985. Neste domingo (31), se completa 60 anos do golpe que instaurou a ditadura.

Ditadura militar deixou mortos e desaparecidos na Paraíba; veja histórias – Foto: Comissão estadual da verdade

O Golpe Militar de 1964 completa 60 anos. Em todo o país, de acordo com a Comissão Nacional da Verdade (CNV), 434 mortes aconteceram entre 1964 e 1985, além de 210 desaparecimentos que estão em aberto até o presente momento.  

Na Paraíba, as ramificações da Ditadura Militar também puderam ser vistas. No estado, pelo menos 14 pessoas foram mortas ou tiveram desaparecimentos confirmados pela Comissão Estadual da Verdade da Paraíba. 

O Jornal da Paraíba relembra quem foram as pessoas vítimas do regime repressivo adotado no Brasil durante o período da ditadura. Veja abaixo os mortos e desaparecidos na Paraíba no período militar. 

Mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar

O presidente da Comissão Estadual da Verdade, Waldir Porfírio, destacou a importância histórica e social dos trabalhos feitos pela organização em elucidar diversos crimes cometidos durante o período da ditadura na Paraíba. 

Na Paraíba, a Comissão Estadual da Verdade conseguiu ouvir dezenas de vítimas da ditadura e desvendar vários acontecimentos que estavam escondidos. Documentos sigilosos, secretos e confidenciais do Serviço Nacional de Informação (SNI) foram encontrados mostrando as perseguições contra estudantes, sindicalistas, políticos, magistrados, profissionais liberais, professores e servidores públicos e entregues às vítimas”, ressaltou. 

Veja abaixo a lista final da comissão sobre os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar. 

Saiba como foi a trajetória de cada um desses mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar no Brasil. 

Adauto Freire da Cruz

Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar
Adauto Freire foi um dos mortos e desaparecidos na Paraíba durante a época da ditadura militar – Foto: Comissão Estadual da Verdade

Nascido originalmente em Bananeiras, no interior da Paraíba, Adauto Freire participava de uma organização política conhecida à época da década de 1970 como “Ligas Camponesas”. Ele era militante do Partido Comunista do Brasil (PCB) e teve contato com a literatura marxista primeiramente em 1946. Foi uma peça relevante de greves que ficaram muito conhecidas na história da Paraíba, como a dos operários pelo abono de natal [13º salário] em Campina Grande e em Rio Tinto no final da década de 40. 

O militante Adauto foi morto enquanto estava em uma viagem de ônibus para Teresópolis, no Rio de Janeiro. Ele estava retornando de uma reunião da organização chamada Anistia Ampla, Geral e Irrestrita. Policiais militares da época entraram no ônibus, perceberam panfletos de propaganda da anistia e, após fortes agressões, o homem morreu.  

Conforme a comissão, a morte dele ocorreu “em decorrência de ação perpetrada por agentes do Estado brasileiro, em contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovidas pela ditadura militar, implantada no país a partir de abril de 1964”. 

Dilermano Mello do Nascimento

Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar
Dillermano foi um dos militantes contra a ditadura militar na lista de mortos e desaparecidos na Paraíba – Foto: Comissão Estadual da Verdade

Apesar de não ter sido constatada a participação de Dilermano em organizações de militância, a atividade política dele incomodou parte do exército brasileiro. Inclusive, Dilermano fez parte, por um período, da Força de Expedicionários Brasileira (FEB), tendo participado de uma batalha, na Itália, em 1946, durante a Segunda Guerra. 

Fazia parte do Ministério da Justiça no ano do Golpe Militar, mas foi exonerado pelo Exército e começou a ser perseguido. A versão oficial do caso dava conta de que ele teria cometido suicídio, ao pular do sexto andar de um prédio. No entanto, essa versão foi contestada e a comissão constatou que Dilermano morreu em decorrência da ação de agentes da ditadura. 

Ezequias Bezerra da Rocha

Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar
Ezequias Bezerra foi um dos mais perseguidos pela ditadura militar e está na lista de mortos e desaparecidos na Paraíba – Foto: Comissão Estadual da Verdade

Tendo sido um “ajudante” do Partido Comunista do Brasil, Ezequias era geólogo e nasceu em João Pessoa. Apesar da formação, ele chegou a dar aulas de Matemática, Inglês e outras matérias no estado de Pernambuco. Foi morto quando agentes do Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) interceptaram ele e a própria mulher, em Recife. 

Os agentes da ditadura levaram ambos para um local não identificado e começaram a fazer torturas, principalmente com Ezequias. A esposa dele, Guilhermina Bezerra, disse em relato para a comissão que viu o marido sendo espancado, com o corpo cheio de sangue e desacordado. 

“Depois de muito tempo eles pararam de torturá-lo e o colocaram numa cela perto da minha. Quando ele passou por mim, carregado por policiais, parecia um farrapo humano, havia sangue por todas as partes do seu corpo”, disse Guilhermina. 

A mulher foi liberada da situação naquele momento, mas o marido não. O corpo de Ezequias nunca foi encontrado. 

Francisco das Chagas Pereira

Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar
Francisco das Chagas foi outro perseguido político pela ditadura militar e consta na lista de mortos e desparecidos na Paraíba – Foto: Comissão Estadual da Verdade

Entre os considerados desaparecidos oriundos da ditadura, Francisco das Chagas nasceu em Sumé, no interior do estado, e também participava do Partido Comunista Brasileiro. Ele era servidor da Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel) e, na versão oficial, morreu em um incêndio na sede da empresa em 1971.

Inicialmente o nome dele não foi incluído na lista de mortos e desaparecidos na Paraíba na ditadura e, somente em 1995, após denúncia do irmão para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, que houve o começo da investigação do seu desaparecimento. 

Mesmo com o trabalho da Comissão da Verdade, não ficou muito bem estabelecido como o desaparecimento aconteceu. Uma mulher entrou em contato com um representante da comissão e disse ter estudado em uma faculdade de direito juntamente com Francisco das Chagas, no Chile, em 1973. A comissão conseguiu confirmar que, de 1971 a 1973, o homem realmente esteve no país, com base em uma vasta documentação, no entanto, não aferiu com certeza se o desaparecimento do Brasil havia sido “forçado”. 

João Alfredo Dias (Nego Fuba)

Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar
João Alfredo Dias, conhecido como “Nego Fuba”, foi um dos nomes mais perseguidos pela ditadura militar no Brasil – Foto: Comissão Estadual da Verdade

Também conhecido como “Nego Fuba”, João Alfredo Dias foi mais um integrante do Partido Comunista do Brasil que acabou desaparecendo após um período em Sapé, na Paraíba. Foi um dos principais representantes da Liga Camponesa de Sapé. 

Como líder da Liga, ele alcançou certa popularidade por conta justamente dessa militância. Ele alcançou tanta relevância no cenário político do município que um ano antes da implantação da Ditadura Militar, foi eleito vereador de Sapé. Quando o golpe foi instaurado, em 1964, foi perseguido por sua atuação considerada fora do padrão pelos militares. 

Ele foi preso pelo 15º Regimento de Infantaria do Exército, no bairro de Cruz das Armas, em João Pessoa, sendo duramente torturado entre abril e setembro de 1964. O corpo dele nunca foi encontrado. 

João Pedro Teixeira

Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar
Uma das figuras mais conhecidas que foram mortas na ditadura militar foi João Pedro Teixeira – Foto: Comissão Estadual da Verdade

Nascido em Guarabira, em 1918, João Pedro Teixeira é mais um dessa lista que se notabilizou pelo engajamento em causas sociais, principalmente na Liga Camponesa de Sapé, assim como João Alfredo Dias. 

Por conta de uma militância que buscava os direitos aos trabalhadores de grandes latifúndios, os donos dessas propriedades, que estavam em conformidade com as forças que alguns anos depois instaurariam a Ditadura Militar, se insurgiram contra as atividades de João Pedro Teixeira.

Antes do golpe, já havia um clima de embate entre alas políticas ideológicas diferentes e, por conta disso, conforme o relatório da Comissão, João Pedro morreu em 1962 e mesmo assim é contabilizado como uma morte que tem relações com os agentes do que viria a ser uma ditadura anos após o assassinato. A morte dele aconteceu em uma emboscada quando retornava da capital João Pessoa para casa, que ficava localizada no sítio Barra de Antas, na entrada de Sapé. 

De acordo com a comissão, o Estado brasileiro, mesmo antes e também depois do golpe militar, foi conivente e se omitiu nas investigações do crime. 

João Roberto Borges de Souza

Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar
João Roberto consta na lista de mortos e desaparecidos na Paraíba pela ditadura militar – Foto: Comissão Estadual da Verdade

Natural da capital do estado, João Roberto passou toda a infância e adolescência em Cabedelo, no litoral do estado. Ingressou na vida política em 1967, já depois da ditadura em curso, quando participou de movimentos estudantis com ligações ao Partido Comunista do Brasil. 

Em um dos eventos estudantis que participava, a polícia da ditadura fez um cerco policial, que acabou prendendo João Roberto e o encaminhando para o Presídio Tiradentes, em São Paulo, onde ficou por um tempo, foi liberado, depois preso novamente e, em dezembro de 1968 foi solto. Esse foi apenas o primeiro de muitos episódios de prisão em que João Roberto foi vítima da ditadura, inclusive sendo alvo de tortura em todos esses processos. 

Por conta dessas perseguições, João Roberto se manteve escondido em seus últimos dias de vida. Na manhã de 10 de outubro de 1969, em um sítio no interior da Paraíba, ele foi tomar banho em um açude e acabou morrendo, de acordo com as autoridades da época. Com base em versões de testemunhas, a comissão concluiu que, de fato, o Estado brasileiro se portou autoritariamente contra a figura de João em relação às prisões, mas a morte dele ainda não foi confirmada como tendo ligação com a ditadura. 

José Maria Ferreira de Araújo 

Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar
José Maria também foi perseguido pela ditadura militar por sua atuação política – Foto: Comissão Estadual da Verdade

Integrante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), José Maria Ferreira morreu em São Paulo em 1970. Por conta das perseguições políticas que sofreu, ele atuou na militância com codinomes falsos. 

De acordo com a investigação da comissão, uma pessoa com o codinome Edson Cabral foi espancada, sofreu diversos choques elétricos, torturado em pau de arara e, por conta dessas ações acabou morrendo. José Maria utilizava esse codinome. Os restos mortais dele nunca foram encontrados pela família. 

Luís Alberto Andrade de Sá e Benevides

Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar
Luis Alberto teve conduta política contestada pela ditadura militar e acabou sendo morto – Foto: Comissão Estadual da Verdade

Depois da promulgação do Ato Institucional número 5, o que mais cassou os direitos da população e de classes afins durante a ditadura, Luis Alberto começou a ser perseguido pelo regime, isso porque ele tinha uma forte atuação política em movimentos estudantis e também pedia abertamente o fim da própria ditadura militar. 

Ele foi morto em um acidente forjado por agentes da ditadura militar enquanto viajava na BR 432, no trecho entre Cachoeirinha e São Caetano. Conforme o relatório, o homem não morreu imediatamente, mas às 19h15 do dia 8 de março de 1972. 

Marcos Antônio da Silva Lima

Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar
Perseguido pela ditadura, Marcos Antônio da Silva Lima era engajado em questões políticas – Foto: Comissão Estadual da Verdade

Também integrante do Partido Comunista no Brasil, Marcos Antônio fez carreira dentro da Marinha Brasileira e em movimentos pedindo mais direitos para a classe. No entanto, após o golpe, ele foi expulso da corporação, criou juntamente com Leonel Brizola uma outra organização, dessa vez eminentemente política. No ano de 1970, veio a ser morto após uma emboscada. 

Ele morreu em 8 de janeiro daquele ano, quando recebeu um tiro na cabeça e teve o corpo deixado no hospital. A versão oficial do regime dá conta de que ele foi morto em um tiroteio. 

Margarida Maria Alves

Margarida Maria Alves
Sindicalista Margarida Maria Alves foi assassinada há 38 anos durante a ditadura militar – Foto: divulgação

Uma das vítimas mais conhecidas entre os mortos na ditadura na Paraíba foi a professora e sindicalista Margarida Maria Alves, que nasceu no município de Alagoa Grande. Ela desde cedo se engajou nos direitos dos trabalhadores rurais da região em que nasceu, fazendo parte de vários movimentos políticos voltados para esses direitos. 

Desde 2000, entidades e organizações de trabalhadores realizam anualmente a “Marcha das Margaridas”, em homenagem aos serviços políticos prestados e como símbolo de resistência. 

Ela foi morta em 12 de agosto com um tiro no rosto. Ela foi morta na presença do próprio marido e também do filho. A morte aconteceu na frente da própria residência. Conforme apurou a comissão, ela era ameaçada por latifundiários da região. Ninguém foi responsabilizado pela morte dela e a comissão concluiu que a morte dela teve “motivações políticas”. 

Pedro Inácio de Araújo

Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar
Pedro Inácio é mais um dos mortos e desaparecidos na Paraíba pela ditadura militar – Foto: Comissão Estadual da Verdade

O militante político Pedro Inácio de Araújo nasceu em Itabaiana em 1909 e, por conta dos trabalhos como camponês desde cedo, quando atingiu a maioridade, se engajou na briga por direitos da classe. Ele integrava a Liga Camponesa, uma organização que lutava justamente por esses direitos. 

Pedro Inácio é considerado desaparecido desde a ditadura, isso porque diversas vezes foi preso por conta de repressões dos agentes do regime contra os trabalhos de militância dele. Em uma dessas vezes em que ele foi preso, no ano de 1964, mesma época do golpe, por volta de 7 de setembro, a polícia o liberou após interrogatório, na versão oficial. No entanto, nunca mais ele foi visto por nenhum parente ou amigo. 

Severino Elias de Mello

Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar
Morto no Rio de Janeiro, Severino Ellias era engajado na luta contra a ditadura militar – Foto: Comissão Estadual da Verdade

Com longa história na política, Severino Elias sempre esteve em lutas partidárias. Em 1935 ele foi preso por participar de uma insurreição, a chamada “Intentona Comunista”, liderada por Luiz Carlos Prestes. 

Um ano depois da instauração da ditadura no Brasil, Severino Elias apareceu morto. A versão oficial foi de que ele cometeu suicídio. No entanto, conforme trabalhos da comissão, Severino foi preso por militares, levado para dependências de um órgão de Estado brasileiro no Rio de Janeiro, e foi morto no local após sofrer torturas. 

Umberto de Albuquerque Câmara Neto

Quem foram os mortos e desaparecidos na Paraíba durante a ditadura militar
Morte de Umberto de Albuquerque ainda é preciso ser investigada, segundo comissão que investiga a ditadura militar – Foto: Comissão Estadual da Verdade

Outra vítima da ditadura que morreu no Rio de Janeiro foi Umberto de Albuquerque. Ele também era militante político e começou nesta vida em protestos estudantis. Foi morto após desaparecer em 1973. 

De acordo com a comissão, o homem teve um “desaparecimento forçado”, ou seja, foi sequestrado por agentes da ditadura, torturado e posteriormente morto. No entanto, a comissão informou à época da divulgação final do relatório que ainda era necessário continuar investigando as circunstâncias da morte de Umberto.