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PLENO PODER

Chacina da Praça da Bandeira: os 75 anos da maior tragédia eleitoral de Campina Grande

Tragédia durante a campanha de 1950 marcou para sempre a política de Campina Grande e revelou a face mais violenta da redemocratização paraibana

Publicado em 09/07/2025 às 10:38 | Atualizado em 09/07/2025 às 11:14


				
					Chacina da Praça da Bandeira: os 75 anos da maior tragédia eleitoral de Campina Grande
(Foto: Reprodução / Retalhos Históricos de Campina Grade)

Campina Grande sempre foi reconhecida por sua intensa politização. Em períodos eleitorais, essa efusividade dos ânimos se manifesta de forma ainda mais aguda, quase visceral — algo enraizado na cultura política do povo campinense.

Contudo, há exatamente 75 anos, essa paixão por disputas ideológicas resultou em uma das mais trágicas páginas da história política da cidade.

O dia era 9 de julho de 1950, em plena campanha para o governo estadual. A cidade, que já despontava como um dos principais polos urbanos do interior nordestino, respirava política em cada esquina.

Naquele domingo, Campina Grande se preparava para receber um grande comício — ou, nos moldes da época, um "showmício" — organizado por apoiadores da União Democrática Nacional (UDN), que lançava o nome de Argemiro de Figueiredo para disputar o Palácio da Redenção.

O evento serviria também para celebrar a inauguração do então novo prédio dos Correios e Telégrafos, símbolo da modernização urbana que Campina vivia naquele momento.


				
					Chacina da Praça da Bandeira: os 75 anos da maior tragédia eleitoral de Campina Grande
(Foto: Reprodução / Retalhos Históricos de Campina Grade)

A concentração teve início ainda no distrito de Santa Terezinha, na entrada da cidade. Uma passeata partidária atravessou diversas ruas, ganhando apoio e volume até alcançar a Praça da Bandeira, onde estava montado um grande palanque.

Segundo relatos do escritor Josué Sylvestre, em sua obra Lutas de Vida e de Morte, "discursos inflamados e entusiásticos tomaram conta do espaço", sendo proferidos por nomes de destaque da política paraibana até os dias de hoje como Joacil de Brito, Ivandro Cunha Lima, Ernani Sátiro, João Agripino, Pereira Lima, e, encerrando a sequência, o próprio Argemiro de Figueiredo.

O ato político terminou com apresentações musicais de grandes ícones da era de ouro do rádio brasileiro, como Emilinha Borba e Luiz Gonzaga, figuras carismáticas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. A festa, contudo, transformou-se em tragédia.

Com o encerramento do evento e a dispersão da multidão, começaram os encontros entre grupos adversários, especialmente entre militantes da UDN e apoiadores da Coligação Democrático Paraibana, que reunia setores do PSD e PTB que apoiavam o nome José Américo de Almeida naquela eleição.


				
					Chacina da Praça da Bandeira: os 75 anos da maior tragédia eleitoral de Campina Grande
(Foto: Reprodução / Retalhos Históricos de Campina Grade)

A tensão aumentou quando manifestantes contrários à UDN ocuparam o palanque recém-utilizado pelo partido e passaram a discursar com tom desafiador.

A partir dali, o que era uma disputa retórica, deu lugar a uma pancadaria generalizada e, logo em seguida, a disparos de armas de fogo. O cenário foi descrito por testemunhas como o de uma verdadeira batalha campal.

A repressão policial foi imediata — e brutal. Em vez de conter o conflito, os relatos indicam que oficiais da Polícia Militar agiram com extrema violência, usando a força de forma desproporcional.

Testemunhas afirmaram que alguns soldados ajoelhavam-se na praça, fazendo pontaria contra a multidão em pânico. O saldo foi devastador: três mortos, mais de 20 feridos graves e dezenas de pessoas com escoriações.

As vítimas fatais foram:

  • Rubens de Souza Costa, bancário, espancado brutalmente por policiais;
  • José Ferreira dos Santos, mecânico, alvejado durante o tumulto;
  • Oscar Coutinho, técnico que trabalhava na instalação dos elevadores dos Correios, atingido por bala perdida.

A repercussão foi imediata em todo o estado. O advogado Aluísio Campos, então presidente do PSB em Campina Grande, sintetizou a indignação popular ao afirmar:

Citação

Jamais sofri tamanho desapontamento. Nunca testemunhara facínoras fardados investirem de modo tão selvagem sobre o povo para matá-lo friamente.

Aluísio Campos

O triste episódio ficou conhecido como a “Chacina da Praça da Bandeira” — expressão cunhada posteriormente por memorialistas e intelectuais da cidade. Foi, de longe, o momento mais sangrento da história política de Campina Grande e um símbolo da falência do diálogo em tempos de transição democrática.

O contexto

Apesar de marcante, o evento não pode ser compreendido isoladamente. Ele se insere num contexto nacional de rearranjo institucional pós-Estado Novo, quando o país ensaiava os primeiros passos rumo à democracia formal, mas ainda carregava práticas herdadas do regime anterior.

A análise desse episódio ajuda a compreender não apenas o ambiente eleitoral da época, mas os desafios enfrentados por José Américo ao compor seu governo, negociar alianças e lidar com as heranças políticas do Estado Novo.

Mais do que uma lembrança trágica, a chacina da Praça da Bandeira permanece como advertência histórica sobre os riscos da intolerância e da repressão política — um passado que insiste em dialogar com o presente.

Texto: Pedro Pereira

*O texto acima teve por referências históricas, além da obra de Josué Sylvestre, os ímpares artigos do Blog Retalhos Históricos de Campina Grande e a rica dissertação feita por Jivago Correia Barbosa, do departamento de História da UFPB.

Imagem ilustrativa da imagem Chacina da Praça da Bandeira: os 75 anos da maior tragédia eleitoral de Campina Grande

João Paulo Medeiros

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