PLENO PODER
Debate sobre traição na política é raso. Políticos precisam discutir desafios da Paraíba
Senadora Daniella Ribeiro acusou Cícero de ter 'traído' grupo ao deixar partido
Publicado em 07/10/2025 às 16:32

Que a política brasileira é pródiga em incongruências e incoerências todo mundo sabe. Há no país até o famoso paradigma de que na política as nuvens do céu mudam com maior fluidez que os movimentos feitos na atmosfera. Com raríssimas exceções, de partidos mais radicais à esquerda e à direita (como PSOL, PC do B e Novo), as demais legendas e atores trocam de lado a depender das conveniências.
Na Paraíba esse xadrez não é diferente. Mas vez por outra aparece alguém puxando a discussão sobre traição e coerência.
O último episódio desses ficou registrado nesta segunda-feira (06) nas declarações da senadora Daniella Ribeiro, do Progressistas, que acusou de traição política o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena.
Isso depois do gestor ter encontrado portas fechadas dentro da base do Governo para disputar o Palácio da Redenção em 2026 e deixar o Progressistas - partido comandado pela família dela e que tem um outro pré-candidato, escolhido pelo critério da 'naturalidade' - Lucas Ribeiro.
A discussão é, contudo, superficial e improdutiva para a população paraibana. E não pode ser transformada em plataforma principal da campanha vindoura.
É que os paraibanos estão, certamente, muito mais interessados em debater os problemas e desafios do Estado. Que, aliás, não são poucos - apesar da propaganda governamental pintar uma moldura muito mais otimista que a realidade que temos.
Estamos falando do Estado em que professores que se destacam nacionalmente em pesquisas, na UEPB, estão em greve por falta de pagamento de progressões funcionais. O mesmo também que amarga faz anos uma das piores taxas de analfabetismo do país e viu forças de segurança irem às ruas denunciando receberem os piores salários do Brasil.
A Paraíba teve avanços nos últimos anos. O turismo e a saúde são exemplos disso. Mas não pode se dar ao luxo de ter o debate político de 2026 resumido a "quem traiu quem".
Os mais de 3,1 milhões de eleitores paraibanos não merecem isso. Eles esperam projetos, experiências bem sucedidas, capacidade administrativa e propostas para o desenvolvimento econômico e destravamento de obras que há décadas são prometidas em guias eleitorais.
Esperam um debate de ideias, com perspectivas de soluções. E menos hipocrisia. Até porque, como disse no início, a coerência dos grupos e famílias que militam na política paraibana não é das mais puritanas.
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