POLÍTICA
Segurança admite que PB é refém da violência
Cláudio Lima reconhece que a situação não está sob controle no Estado e muito precisa ser feito.
Publicado em 17/03/2013 às 11:30
O secretário de Segurança Pública, Cláudio Lima, disse que o problema da violência na Paraíba não se resolve do dia para a noite. Segundo ele, só com uma política continuada de gestão é que se pode obter bons resultados. “O desafio é muito grande. Nós precisamos dar uma resposta melhor, somos conscientes disso”.
Segundo ele, os resultados já começam a aparecer. Na atual gestão, os índices de violência caíram em alguns municípios do Estado. Ele reconhece, porém, que muita coisa precisa ser feita para a Paraíba voltar a ter segurança. “A gente não pode dizer que a situação está sob controle, mas a situação está progredindo para uma redução”, afirmou Cláudio Lima durante entrevista exclusiva ao JORNAL DA PARAÍBA.
JORNAL DA PARAÍBA - A violência na Paraíba é crescente, diminuiu ou está sob controle?
ENTREVISTADO - Era crescente. Se pegarmos o quadro de 2000 a 2010 a gente vai ver que a violência cresceu. De 2009 a 2010 o crescimento era em torno de 20%, chegando a 24%. Em 2011, já nessa gestão, cresceu sim, cresceu 7% e já em 2012 nós conseguimos quebrar essa curva para 8,21%. Em muitos municípios, os índices caíram muito mais, como é o caso de Cabedelo, que teve uma redução de 28%. Em Bayeux a redução chegou a 16%, na capital chegou a 13% e em outros municípios não teve queda, como é o caso de Santa Rita. Mas neste ano já vem caindo em Santa Rita, como também em Mari, que é outro município com índice muito ruim. Nós temos um quadro em que algumas localidades apresentam quedas muito altas, como é o caso de Cajazeiras. Lá na região de Cajazeiras, em torno de 14 municípios, nós tivemos uma queda de aproximadamente 26%. Na região de Catolé do Rocha, com as operações que foram feitas, nós conseguimos também dar um basta na violência que era crescente há muitos anos. Já em alguns municípios nós não tivemos a mesma sorte, precisamos implementar este ano uma melhoria. É uma situação em que nós podemos dizer que o caminho certo é esse. A gente não pode dizer que a situação está sob controle, mas a situação está progredindo para uma redução. O desafio é muito grande, falta muita coisa. Nós precisamos dar uma resposta melhor, somos conscientes disso. E temos a consciência também de que isso só ocorrerá com uma política continuada de gestão e segurança pública, de preferência que ela tenha um foco principal para o resultado e o resultado é a diminuição. Nós temos consciência de que não está sob controle, de que a situação não está boa, mas também temos consciência de que depois de 12 anos o melhor resultado é esse que se obtém agora.
JP - Em Pernambuco houve uma redução, exatamente na época em que o senhor era secretário de Segurança naquele Estado. Qual a razão dessa queda da violência no estado vizinho?
ENTREVISTADO - Pernambuco segue a mesma tendência daqui. Nós estamos na realidade buscando repetir o que aconteceu em Pernambuco. Em Pernambuco não caiu imediatamente. No primeiro ano da gestão de Eduardo Campos, em 2007, não houve redução. Em 2008, a redução foi muito pequena, parecido com o nosso caso. A partir do terceiro ano houve uma acentuada queda. Pernambuco tinha uma taxa de homicídio acima de 57 por 100 mil habitantes. Hoje está numa faixa em torno de 37, o que é muito bom você ver uma redução dessa em poucos anos. Mas isso não aconteceu da noite para o dia. A gestão de Eduardo Campos está no segundo mandato. Nós aqui estamos no terceiro ano, mas podemos contar dois anos consolidados com redução. A gente pode até dizer que não está satisfeito em razão da redução que é pequena. E realmente ela deve ser maior. Nós temos que ampliar essa redução, temos que melhorar o aparato de segurança pública para que essa redução possa se consolidar, mas a verdade é que nenhum Estado conseguiu diminuir do dia para a noite.
JP - O senhor acredita que até o final da atual gestão há como atingir essas metas?
ENTREVISTADO - Sim, mas é necessário dizer que a segurança pública depende de uma política continuada. É necessário nós avançarmos em tudo, em estrutura física, estrutura tecnológica, recursos humanos e aí ter uma política de gestão melhorada, focada em resultados. Em todo o Brasil, nós temos uma necessidade muito grande de melhorar a gestão dos serviços públicos e a segurança pública não é diferente. Que nós precisamos melhorar a gestão da segurança pública isso todo mundo sabe. E é isso que nós buscamos.
JP - Quando o senhor fala em melhorar, o senhor está querendo dizer que deve haver mais investimentos?
ENTREVISTADO - Falo em todos o sentidos. Na gestão de pessoas, na formação, na capacitação. Hoje não dá para fazer segurança pública sem os recursos tecnológicos. O que esse governo tem feito é procurado avançar nisso. Você pode até dizer que foi pouco, mas o que você pensar em termos de uma gestão mais moderna a gente avançou, nós começamos. Agora, não se consegue dar uma resposta em nenhum Estado da federação em dois, três, quatro anos, no estado em que se encontrava a segurança. São Paulo demorou mais de 15 anos para virem os resultados. O Rio de Janeiro não foi diferente e agora eles obtêm um expressivo resultado. Se você for analisar o Rio de Janeiro você vai ver que há uma continuidade de ações. A gente sabe também a situação das grandes cidades, o resultado não é ideal e não somos nós aqui que poderíamos exigir que a Polícia Militar e a Polícia Civil buscassem um resultado de um dia para a noite. Mas é necessário ter um norte e esse governo tem apontado para isso.
JP - Sempre que cresce a violência no Estado, a primeira coisa que pedem é a 'cabeça' do secretário de Segurança Pública. Como é que o senhor recebe essas críticas de que está na hora do secretário sair?
ENTREVISTADO - Quando isso parte da população é muito bom, significa dizer que é porque realmente precisa mudar alguma coisa. Quando isso acontece é bom, desde que seja dentro de uma política que tenha um foco, que tenha um resultado, que tenha um norte. Se for só para trocar de pessoas eu acho que isso é o de menos importância. O importante é que seja feito dentro de um critério, onde se busca um objetivo maior, uma finalidade, que é reduzir os índices de criminalidade. Isso é normal, quem ocupa cargo de secretário tem que estar consciente disso, de que essas mudanças são importantes.
JP - O senhor tem recebido o apoio total do governador Ricardo Coutinho para pôr em prática essas mudanças?
ENTREVISTADO - Nós temos um Estado que tem muitas dificuldades. A gente começou a gestão com greve dos policiais. O primeiro ano de governo foi muito difícil. Em 2012 tivemos um quadro onde o governador pôde reconhecer melhor a categoria dos policiais, que agora tem uma data base estabelecida, além dos aumentos que foram concedidos, embora eu saiba que algumas pessoas não reconhecem isso. A maior parte da polícia reconhece isso como um ganho muito positivo. O que acontece é que não se muda um quadro desse com muita rapidez. O desafio é grande. É claro que a gente não tem as condições ideais, principalmente no que se refere a custeio. Com relação a investimentos o Estado avançou muito. De imediato eu não vejo como você resolver uma situação de 12 anos de crescimento da criminalidade, principalmente num país hoje onde você tem um fator fundamental para o aumento da violência, que é a problemática das drogas. Nós estamos dentro de um contexto nacional, que além do Estado depende de outros setores, principalmente do governo federal, para um enfrentamento muito mais complexo. Além disso, a gente tem uma visão muito policialesca da segurança pública e não é só isso. Você tem uma série de ações e outros órgãos são muito importantes nesse sistema de contenção da criminalidade, além das políticas públicas para acompanhar essas situações. Eu não vejo hoje nenhum Estado que tenha um quadro dentro do ideal, principalmente os Estados mais pobres como é o caso do Nordeste. Tem até Estado que investiu muito e não reduziu a violência, como é o caso do Ceará.
JP - O senhor falou na questão das drogas e a gente observa que o tráfico de drogas na Paraíba está sendo comandado de dentro dos presídios. Isso mostra que o Estado perdeu a guerra para os traficantes?
ENTREVISTADO - Não é bem isso. Nós temos um sistema prisional muito enfraquecido, um sistema prisional que não atendeu às expectativas. Nós temos um sistema prisional caótico, que não é só na Paraíba. Tem Estado da federação muito pior que a Paraíba. Você sabia que a Paraíba é um dos Estados da federação que não tem preso em delegacia? Temos um sistema caótico, sim, mas pelo menos nós não temos essa pecha. Em outros Estados, inclusive do Nordeste, grande parte desses presos vive amontoada em delegacias. Isso mostra a falência do sistema prisional brasileiro. Graças a Deus nós não temos isso. Nós usamos a delegacia só para atender o cidadão e os casos de enfrentamento, das ocorrências policiais. Mas não tem a delegacia hoje como depósito de presos. Graças a Deus essa parte a gente superou.
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