QUAL A BOA?
Spielberg 70 anos: revendo Schindler
Publicado em 16/12/2016 às 5:57 | Atualizado em 22/06/2023 às 13:55
Steven Spielberg faz 70 anos neste domingo (18). Grande homem do cinema, grande cidadão do mundo. Vamos rever seus filmes? Vamos rever A Lista de Schindler?
Rever A Lista de Schindler me traz a lembrança do dia em que fui apresentado ao filme. Da emoção que ele provocou. E da força extraordinária do seu desfecho.
Todas as vezes, o final – no salto da ficção para a realidade, do preto & branco para a cor – me enche os olhos de lágrimas. E remete a um texto de Roger Ebert, o grande crítico americano. Ele também se comovia com o desfecho do filme, com o instante da passagem do preto & branco para a cor:
“Estes são os judeus de Schindler. Estamos olhando para os sobreviventes e seus filhos ao visitar o túmulo de Schindler. O filme começa com uma lista de judeus que estão sendo confinados num gueto. Termina com uma lista dos que conseguiram se salvar. A lista é um bem absoluto. A lista é vida. Tudo à sua volta é aterrorizador”.
O reencontro com o filme de Spielberg reforça a convicção sobre o compromisso permanente de rejeição ao nazismo e seus males. Se a lista – como afirmava Ebert – é um bem absoluto, o nazismo é a encarnação de um mal que, vez por outra, enxergamos em tantas manifestações do mundo contemporâneo.
A Lista de Schindler lembra o dia em que o cineasta discursou na entrega do Oscar em defesa do cinema voltado para a boa palavra, algo que ele acreditava estar em falta no seu ofício.
E me lembra uma experiência pessoal: a tarde em que levei ao Cine Municipal, com uma equipe de televisão ao lado, um judeu que esteve num campo de concentração e, depois da guerra, fez de João Pessoa o seu lar. Foi uma experiência comovente para mim. E assustadora para ele, que reviu na tela o que tinha vivido de verdade.
Vi A Lista de Schindler pela primeira vez numa sala lotada. A câmera na mão faz pensar que estamos diante de um documentário e não de um filme de ficção. O preto & branco também. Mas, curiosamente, Spielberg lança mão da cor quando registra a realidade, no salto do passado para o presente. A sequência é curta. E emocionante. Provoca lágrimas. Mas, naquela sessão, provocou aplausos.
Se fosse num festival de cinema, seria normal, estaria no script. O público bate palmas após a exibição de um filme com diretor e elenco na plateia. Não era o caso. As pessoas que enchiam o Municipal aplaudiram porque tiveram a consciência de que a lista era um bem absoluto. E de que era preciso deixar isto claro. Ainda que estivessem tão longe daquela história e de quem a filmou.
O filme de Spielberg também é um bem absoluto.
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