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SAÚDE

Perda de impressões digitais causa problemas de identificação

Perda de impressões digitais pode ser causada pelo uso frequente de produtos de limpeza, contato com cimento ou ácido de castanha de caju.

Publicado em 22/03/2015 às 8:12 | Atualizado em 30/06/2023 às 11:54


                                        
                                            Perda de impressões digitais causa problemas de identificação
Impressão digital - Imagem: Bram Cymet/Flickr

Com a modernização, bancos, clínicas médicas, academias de ginástica e demais estabelecimentos implantam serviços de identificação biométrica, por meio da impressão digital, para garantir segurança aos clientes. Para a ciência criminal, as linhas que não se repetem são peça-chave para desvendar crimes, identificar suspeitos e absolver inocentes. Contudo, algumas atividades podem causar desgastes nas cristas papilares, o que dificulta ou impede a identificação. A perda de impressões digitais pode ser temporária ou definitiva. Nesse período, a pessoa perde a identidade que a diferencia das demais.

No Instituto de Polícia Científica da Paraíba (IPC-PB), órgão responsável pela retirada de documentos e investigação de crimes, casos desse tipo são vistos com frequência. Segundo o papiloscopista Clébio Gomes, que há 30 anos trabalha com a identificação de pessoas através das digitais, a perda temporária pode ser causada pelo uso frequente de produtos de limpeza, por isso é possível que pessoas que realizam serviços domésticos de forma contínua estejam na lista das que têm desgastes nas cristas papilares.
Trabalhadores da construção civil também são alvo em potencial para perder as digitais, segundo informou o papiloscopista. O contato com o material, sobretudo com o cimento, pode ocasionar o problema. Nessas situações, a recomendação é suspender a atividade e aguardar o reaparecimento das linhas nas pontas dos dedos. Em alguns casos é possível que a pessoa tenha de fazer algum tipo de tratamento para ter de volta sua marca individual, conforme explicou o especialista.
Dificilmente, segundo Gomes, alguém vai sofrer desgaste em todos os dedos. O problema é mais comum nos polegares e indicadores, os mais usados na identificação biométrica de clínicas médicas, bancos e academias de ginástica. “Mulheres que usam detergente e outros produtos de limpeza com frequência são fortes candidatas a perder as digitais de forma temporária, mas isso tem de ser por muito tempo. Não estamos dizendo que o uso esporádico desses produtos vai resultar na perda”, declarou o papiloscopista.
A deficiência costuma passar despercebida. Algumas pessoas passam a vida inteira sem ter esse conhecimento. Outras só descobrem quando vão fazer o cadastramento biométrico (seja para identificação para planos de saúde, retirada de documentos ou para votação). O desgaste pode atingir as digitais parcialmente, mas, se alguns pontos foram preservados, ainda é possível fazer a identificação, segundo afirmou o profissional do IPC.
A quebra da castanha de caju, atividade comum nas regiões do interior, também pode implicar na perda das impressões. De forma contínua, a atividade 'apaga' as digitais em consequência do óleo ácido encontrado na castanha. A sorte é que, ao se afastar dessa rotina, as digitais reaparecem.

Dificuldade na leitura de impressões digitais

A dificuldade de leitura das digitais faz parte da rotina da secretária Laryssa Lima, que trabalha em uma clínica de cardiologia, em João Pessoa. Segundo ela, muitos pacientes, depois de algumas tentativas de identificação, são orientados a limpar os dedos com álcool gel. O produto pode ser a solução quando os dedos estão sujos ou com resíduos de creme, mas é ineficiente quando as digitais sofrem desgaste. Em casos mais sérios, os pacientes têm de ir à sede da operadora do plano de saúde para cadastrar outra digital, além do indicador.
De acordo com Laryssa, uma das pacientes realizou esse cadastro quatro vezes, mas nem assim conseguiu resolver o problema. “Toda vez que ela vem ao consultório eu ligo para a operadora do plano para liberar a consulta. Ela já não faz mais a tentativa da identificação biométrica”, revelou a secretária, que já percebeu o problema.
A operadora de planos de saúde Unimed João Pessoa informou, por meio da assessoria de imprensa, que o sistema de biometria foi implantado há cerca de 10 anos. A cooperativa disse que utiliza um dos equipamentos mais recomendados do mercado, produzido por uma das empresas líderes desse segmento no mundo, com qualidade reconhecida.
Quando a digital de um cliente não consegue ser identificada pelo sistema, a Unimed afirmou que o atendimento é liberado por telefone, após a confirmação dos dados. Contudo, se o problema se repete em diferentes equipamentos, o cliente é orientado a procurar um dermatologista, que precisa emitir um laudo atestando o problema. Ainda de acordo com a Unimed, com base nesse laudo, a cooperativa libera o cliente da necessidade de utilizar a biometria de forma temporária ou permanente, a depender do diagnóstico apresentado. Com cerca de 140 mil clientes, o percentual de problemas com digitais é considerado pequeno pela Unimed. Em fevereiro deste ano, por exemplo, foram 70 casos.
Dona de uma academia de ginástica no José Américo, Cibelle Maria Soares, explicou que quando a digital de algum aluno não é identificada, é feito um recadastramento para que ele possa ser identificado pelas impressões. Na prática, isso impede que um aluno se identifique como outro, evitando prejuízos para o estabelecimento. Nas clínicas médicas, o objetivo é o mesmo.
“De uma forma geral podemos afirmar que não temos problemas relacionados à leitura das digitais. Às vezes, quando está difícil de ler as impressões, a pessoa lava as mãos e tenta novamente”, explicou.

Problema para identificar cadáveres

Dentre as dificuldades causadas pelo desgaste das digitais está a identificação de cadáveres. De acordo com o papiloscopista Clébio Gomes, já houve casos no Instituto de Medicina Legal da Paraíba (IML-PB) de pessoas que morreram e não tinham as impressões digitais. “Quando isso acontece, temos um problema. As alternativas passam a ser a identificação pela arcada dentária ou DNA”, declarou.
As digitais do cadáver são comparadas às existentes no sistema de biometria do IPC, implantado há dois anos. Nesse banco constam cerca de 100 mil impressões digitalizadas, no universo de 4 milhões, segundo informou Marcos Lacet, da direção do Instituto. Na identificação necropapiloscópica é possível encontrar as digitais na derme, camada intermediária da pele, ainda que na epiderme elas não apareçam.
“Após a retirada da luva cadavérica conseguimos fazer a coleta das digitais, mas isso dependendo das condições do corpo”, afirmou. Fatores externos, como o clima, modificam o estado do cadáver, o que pode impossibilitar a coleta das digitais. “Até cinco dias depois da morte, em um cadáver em estado avançado de decomposição, conseguimos encontrar as digitais”, explicou o papiloscopista.

Produtos químicos prejudicam impressão digital

A forma mais conhecida de perda de impressões digitais é pelo contato frequente de produtos químicos, mas também pode ser consequência da idade ou de alergias, segundo explicou a médica dermatologista Carla Gayoso. “Geralmente verificamos esse problema em pessoas que entram em contato com diversas substâncias cáusticas e ácidas”, declarou. A solução mais viável, segundo a dermatologista, seria afastar-se das atividades para recuperar as impressões digitais. “O ideal seria, sempre que possível, usar luvas adequadas, de preferência forradas de algodão”, explicou.
A médica orientou a usar cremes hidratantes emolientes com mais frequência. “Na fase mais crítica podemos recomendar cremes antiinflamatórios”, declarou Carla. Segundo ela, caso a dermatite não seja severa, a pele se reconstitui por completo, o que significa o ressurgimento das digitais. Pessoas que já nascem sem as digitais têm a síndrome de Nagali, considerada rara no mundo.
Em outros casos, a perda é permanente, quando não há mais possibilidade de tratamento. Formação de bolhas e vesículas, por exemplo, podem comprometer as digitais, mesmo após a cicatrização. Nesses casos permanentes, o paciente deve andar com uma cartilha do médico, justificando a perda das digitais, para facilitar a identificação em instituições que exijam máquinas finger, segundo informou a dermatologista.
Saiba mais notícias sobre saúde no Jornal da Paraíba.
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Jornal da Paraíba

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