SAÚDE
Pesquisa da UFPB identifica 3.834 mortes evitáveis de recém-nascidos na Paraíba
Período analisado é de nove anos e vai entre 2009 e 2017. Problema atinge principalmente população da zona rural.
Publicado em 31/01/2022 às 17:10
Estudo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) identificou 3.834 mortes evitáveis de recém-nascidos na Paraíba. Esses óbitos evitáveis ocorreram entre 2009 e 2017 e representam 74,5% das 5.149 mortes registradas em período neonatal, relativo aos sete primeiros dias após o nascimento.
Segundo a pesquisadora Tiê Farias, responsável pelo estudo e egressa do curso de doutorado do Programa de Pós-graduação em Modelos de Decisão e Saúde da UFPB, existem diferentes fatores que estão relacionados a óbitos neonatais evitáveis.
“Quanto maior a escolaridade da mãe, menor a proporção de óbitos neonatais evitáveis. O fato do recém-nascido ser prematuro também aumenta a proporção de óbitos. O aumento da quantidade de partos cesáreos também influencia de forma direta o aumento de óbitos”, explica a doutora pela UFPB.
Ao todo, foram protocolados 7.241 óbitos no período neonatal e no pós-neonatal (primeiro ano de vida) na Paraíba nos nove anos apurados pela pesquisa. No total, houve 522.852 nascimentos nesse intervalo de tempo.
Procurada para comentar o assunto, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que o pré-natal é um componente da atenção básica, indispensável para que os municípios possam acompanhar adequadamente suas gestantes, ofertando atendimento multiprofissional qualificado, garantindo acesso aos exames e encaminhando para o acompanhamento da gestação de alto risco, quando for o caso.
Causas e soluções
Entre as principais causas mais notificadas de óbito evitável de recém-nascido na Paraíba, estão, em ordem decrescente, septicemia bacteriana não especificada do recém-nascido, síndrome da angústia respiratória do recém-nascido, pneumonia congênita não especificada e hipoxia intrauterina durante o trabalho de parto e o parto.
A extensa lista continua: imaturidade extrema, hipoxia intrauterina não especificada, outros recém-nascidos de pré-termo, asfixia ao nascer não especificada, infecção própria do período perinatal não especificada, desconforto respiratório não especificado do recém-nascido e feto e recém-nascido afetados por outras formas de descolamento da placenta.
Tiê Farias pontua que existem também causas que são classificadas como mal definidas. “Elas correspondem a outra grande parte das mortes de neonatais, sobrando para as causas não evitáveis muito pouco, menos de 10% do total das mortes de recém-nascidos na Paraíba. Um exemplo de causa não evitável é uma malformação congênita”, esclarece a pesquisadora.
Os dados utilizados no estudo foram extraídos das declarações de óbito e das declarações de nascidos vivos disponibilizadas pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e pelo Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc), gerenciados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS) do Ministério da Saúde.
“Como esse trabalho começou a ser realizado em 2018, só existiam os dados até 2017 consolidados pelo Ministério da Saúde. Iniciamos com o ano de 2009 porque, em 2010,houve a inclusão dos números da declaração de nascido vivo na declaração de óbito. Através desse código único, foi possível fazer a ligação entre as duas declarações”, esclarece Tiê.
A pesquisadora diz que teve dificuldades para lidar com esses dados porque houve falhas no preenchimento das declarações, como, por exemplo, na escolaridade da mãe. Em 16,9% das declarações essa informação foi suprimida. Essas e outras informações foram recuperadas por meio das respectivas declarações de nascido vivo e, posteriormente, por técnicas estatísticas de imputação de dados.
“Inicialmente, foi realizada a qualificação das informações de óbitos do Ministério da Saúde, através de técnicas estatísticas e demográficas para correção do sub-registro das declarações de óbitos nos municípios paraibanos, que variaram entre 75,9% e 87,4% de subnotificação. Esse percentual corresponde à estimativa de óbitos infantis que não foram notificados”, conta Tiê Farias.
Na avaliação dela, a redução dos níveis de mortalidade infantil neonatal é possível, principalmente, com a intensificação dos cuidados com o recém-nascido e com a mulher durante a gestação, principalmente nas áreas ruralizadas do estado da Paraíba. “As estatísticas produzidas na tese expõem que há diferenças significativas entre os municípios urbanos, intermediários adjacentes e rurais adjacentes na Paraíba”, informa.
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