SAÚDE ALERTA
Dia do Médico: a medicina entre a tela e o toque
A medicina brasileira mudou muito — e foi muito rápido.
Publicado em 18/10/2025 às 11:49 | Atualizado em 18/10/2025 às 12:38

Há poucas décadas, o médico era uma figura quase lendária: conhecia cada paciente pelo nome, fazia visitas domiciliares e se guiava mais pelo olhar clínico do que por exames de imagem.
Medicina Digital
Hoje, o cenário é outro. A medicina é digital, acelerada, tecnológica — e, paradoxalmente, mais distante de quem mais precisa dela.
Segundo o Censo Médico 2024 do Conselho Federal de Medicina, o Brasil ultrapassou a marca de 600 mil médicos ativos.
A formação cresce de forma vertiginosa: são mais de 390 escolas médicas, o maior número do mundo.
Formamos mais de 40 mil médicos por ano, mas as vagas de residência não acompanharam o ritmo.
Isso significa que milhares de novos profissionais saem das faculdades sem espaço para se especializar — e, ao mesmo tempo, milhares de brasileiros continuam sem médico para chamar de seu.
A conta não fecha nem mesmo nas grandes cidades
Em João Pessoa, por exemplo, há cerca de 5 médicos para cada mil habitantes, número acima da média nacional (3,2) e bem superior ao mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 1 médico para cada mil pessoas.
Ainda assim, parte da população segue sem atendimento regular, principalmente nas periferias e na zona rural.
O problema não é mais a falta de médicos — é a má distribuição, a precarização e a desorganização do sistema.
Enquanto isso, o exercício da medicina também muda de forma
Consultórios se transferem para telas, e o toque se transforma em teleconsulta.
A pandemia acelerou a aceitação da telemedicina, uma ferramenta poderosa quando usada com responsabilidade — mas que não substitui a escuta e a presença.
A tecnologia aproxima, mas também pode afastar, se fizer o médico trocar o paciente pelo protocolo.
Nas redes sociais, outro fenômeno: médicos viram influenciadores, acumulam seguidores, respondem dúvidas em tempo real e combatem fake news.
A comunicação se democratizou — e isso é bom.
Mas é preciso cuidado para que o palco digital não se sobreponha ao compromisso ético.
A medicina não pode virar performance
Divulgar informação é serviço público; fazer autopromoção é risco para a credibilidade da profissão.
E no meio disso tudo está o médico: sobrecarregado, cobrado, conectado o tempo inteiro.
Entre o jaleco e o celular, entre o plantão e o post, entre o algoritmo e o afeto.
A nova medicina pede novas habilidades — mas o mesmo coração.
Neste Dia do Médico, mais do que comemorar, é hora de refletir.
A profissão evoluiu, o conhecimento multiplicou, os recursos cresceram.
Mas a essência é a mesma: a medicina continua sendo o encontro entre a ciência e a compaixão, entre a técnica e o toque.
E talvez, no meio de tantas telas, o maior desafio seja justamente esse: não perder o contato.
Dr. André Telis
Médico, Cirurgião cardíaco e apresentador do Saúde Alerta – Jornal da Paraíba / CBN João Pessoa
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