SAÚDE
Esmalte e unhas postiças são uma combinação desastrosa para a COVID-19
Publicado em 01/05/2021 às 22:23 | Atualizado em 05/02/2024 às 11:43
Você sabia que esmaltes e unhas postiças podem representar um risco enorme?
O principal motivo que leva pacientes com COVID-19 a procurar assistência médica é a falta de ar.
O sistema respiratório é responsável por levar o oxigênio até os pulmões. Nos alvéolos pulmonares ocorre um evento chamado hematose, que é quando o sangue troca gás carbônico pelo oxigênio. Então na inspiração absorvemos oxigênio do ambiente e na expiração exalamos gás carbônico.
O oxigênio é o principal combustível para todas as células e a falta dele faz com que a gente não consiga realizar quase nada, inclusive levando nosso corpo à morte em pouco tempo.
Na COVID-19 há destruição dos alvéolos que não conseguem executar sua função. Essa diminuição da quantidade de oxigênio faz com que os pacientes sintam desde uma sensação de fadiga até uma sensação intensa de falta de ar. A dispneia, que é o nome científico dessa sensação de falta de ar, é um marcador importante de gravidade e tem relação direta com o grau de comprometimento pulmonar - quanto mais grave o comprometimento pulmonar, mais dispneia o paciente apresenta.
Na Covid-19, é curioso o fato de uma ampla quantidade de pacientes apresentarem-se sem dispneia, mesmo com saturações de pulso muito baixas e com hipoxemia grave constatada na gasometria arterial. Mas, como isso é possível?
Como a dispneia surge?
A diminuição da quantidade de oxigênio no sangue estimula uns sensores que ficam nas carótidas, eles então enviam mensagens ao nosso cérebro que comanda a respiração. Então toda vez que o oxigênio abaixa no sangue e o gás carbônico sobe, o cérebro estimula os músculos respiratórios que fazem com que a gente respire mais rápido e também sentimos a sensação de dispneia. hipoxemia é capaz de estimular os bulbos carotídeos, aumentando a resposta do centro respiratório, após sinais enviados ao bulbo.
Hipoxemia silenciosa na Covid-19
O novo coronavírus é capaz alterar o funcionamento dos sensores que alertam nosso organismo da baixa de oxigênio. Além disso, a formação de pequenos trombos nos vasos pulmonares fazem com que o sangue não consiga trocar gás carbônico por oxigênio e ainda assim, de forma inexplicada, nosso corpo não altera a respiração levando a uma hipoxemia ( baixa quantidade de oxigênio no sangue) silenciosa.
Idosos e diabéticos apresentam mais a hipoxemia silenciosa.
Isso quer dizer que alguns pacientes com hipoxemia grave não sentirão dispneia, enquanto outros com hipoxemia leve podem ter um grau de dispneia acentuado.
Por isso uma das formas que nós médicos usamos para monitorar a gravidade da doença é através das medidas de oxigênio no sangue.
Oxímetro de pulso
Antes conhecido só pelos profissionais da área de saúde, hoje praticamente todo mundo conhece o aparelhinho que é vendido em toda esquina. O oxímetro mede o oxigênio no sangue, pela iluminação da pele, mensurando as mudanças da absorção da luz pela quantidade de oxigênio ligado à hemoglobina, uma proteína presente nos células sanguíneas e responsáveis pelo transporte de oxigênio.
Nós médicos usamos oxímetros de pulso para monitorar a gravidade da doença e aconselhamos os pacientes que estão em casa tratando COVID-19 a usar essa estratégia para verificar seu estado frequentemente. Níveis abaixo de 90% de oxigênio indicam casos graves e que necessitam oxigênio.
Esmalte e unhas postiças: combinação desastrosa para a COVID-19
Diversos fatores podem alterar o funcionamento correto dos oxímetros.
Mãos frias, pressão baixa e esmaltes podem levar a falsas medidas de oxigênio, inclusive podem fazer com que o aparelho não funcione.
Essa semana me deparei com paciente grave, que a gente não conseguia medir a quantidade de oxigênio no sangue com oxímetro. A paciente tinha unhas de gel. Mesmo com esmalte clarinho, o aparelho não funcionava direito.
Só com uma medida feita através do exame de sangue é que podemos identificar grave hipoxemia e a necessidade e intubação.
Ou seja, as unhas em gel retardaram o tratamento e poderiam ter levado a paciente à uma situação de risco ainda maior.
Diferente do esmalte que pode ser rapidamente retirado com algumas substancias, as unhas em gel só podem ser retiradas com aparelhos que não temos disponíveis no hospital.
Portanto, em casos de sintomas respiratórios, unhas com esmaltes e mesmo unhas em gel podem representar insegurança.
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