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SAÚDE ALERTA

O futuro da saúde é chegar antes

Pressão arterial, febre, vacinas, obesidade e tecnologia: o que mudou em 2025 e como isso afeta o cuidado com a saúde.

Publicado em 29/12/2025 às 15:14

Por André Telis


				
					O futuro da saúde é chegar antes
Fim de tarde em João Pessoa simboliza o encerramento de um ano de mudanças na saúde e o olhar mais atento para o que vem pela frente. Foto: André Telis

Pressão arterial: o que é “normal de verdade” e o que muda na prática

Durante décadas, o “12 por 8” funcionou como uma linha rígida entre estar bem e estar doente. O que os estudos mais recentes mostraram é algo mais simples: o risco cardiovascular não surge de repente quando um número ultrapassa um limite. Ele começa a se construir antes, de forma silenciosa.

O que a diretriz de 2025 fez foi criar um sinal amarelo mais amplo, chamado de pré-hipertensão. A ideia é simples: enxergar risco mais cedo e agir com prevenção, não com remédio na maioria dos casos. Pelas diretrizes brasileiras atualizadas, pressão entre 120 por 80 e 139 por 89 entra nessa zona de atenção, enquanto hipertensão continua sendo pressão igual ou acima de 140 por 90, confirmada em mais de uma medida.

Isso significa que 120 por 80 virou doença?

Não. E aqui vale ser bem claro. Pré-hipertensão não é diagnóstico de remédio. É um convite a medir direito e a corrigir o que ainda dá tempo. A própria diretriz reforça técnica adequada de medida e, quando necessário, confirmação com monitorização fora do consultório.

Na prática, quem tem pressão em torno de 120 por 80 deve confirmar a medida corretamente e focar em hábitos básicos: menos sal, controle do peso, sono melhor, atividade física regular, menos álcool e menos estresse. Para quem já trata hipertensão, a meta geral passou a ser manter abaixo de 130 por 80.

Sobre a polêmica, minha leitura é direta: eu entendo a desconfiança de quem ouviu “mudou a régua” e pensou em medicalização. Mas o espírito da mudança é exatamente o contrário. Pré-hipertensão funciona como um alarme de fumaça. Ele não diz que a casa está pegando fogo — diz que ainda dá tempo de evitar o incêndio.

Febre em crianças: números novos, menos pânico e mais observação

Em 2025, a definição de febre em crianças foi ajustada: a partir de 37,5 °C na axila já se considera febre. O número mudou, mas a mensagem central continua a mesma, e talvez até mais importante: febre é sinal, não vilã.

A mudança na definição de febre infantil gerou ansiedade desnecessária. O ajuste no número não veio para estimular correria ao pronto-socorro nem o uso automático de antitérmicos. Veio para reforçar algo essencial: febre é um sinal de defesa do organismo.

O foco não deve ser apenas o termômetro, mas o estado geral da criança.

O mais importante continua sendo observar a criança como um todo — se está ativa, hidratada e se alimentando bem. Reduzir o medo também é uma forma de cuidar.

O que realmente preocupa são sinais como prostração importante, dificuldade para respirar, vômitos repetidos, incapacidade de se hidratar ou piora progressiva do comportamento. Ajustar o número ajuda a padronizar condutas, mas reduzir a “febrefobia” é parte essencial do cuidado.

Vacinas: retomada de cobertura e o inimigo invisível da desinformação

A ampliação da proteção contra meningite e a incorporação da vacina contra o vírus sincicial respiratório talvez não chamem tanta atenção, mas representam um enorme ganho em saúde pública. Menos internações, menos UTI e menos sofrimento para famílias, especialmente de bebês. É a ciência funcionando de forma silenciosa e contínua.

Um dos dados mais positivos de 2025 foi a retomada da cobertura vacinal no Brasil. No primeiro quadrimestre do ano, houve aumento na cobertura de 15 das 16 vacinas do calendário infantil em relação a 2024, reflexo da reorganização do Programa Nacional de Imunizações, campanhas como o Dia D e garantia de abastecimento.

Na Paraíba, os dados também mostram avanço em vacinas importantes, como tríplice viral, BCG, pneumocócica e meningocócica. Isso é resultado direto de política pública e mobilização.

Aqui entra minha opinião sem rodeios: hoje, muitas vezes, o problema não é falta de vacina — é falta de confiança. A desinformação faz isso. Ela rouba o óbvio. Vacina boa é vacina no braço, na data certa.

Peso e metas: sem terrorismo, com régua clara — e o que as “canetinhas” mudaram

Em 2025, ficou ainda mais claro que obesidade não pode ser tratada apenas como questão de aparência. O excesso de peso está diretamente ligado a doenças cardiovasculares, diabetes e outras condições crônicas.

Avaliar risco, acompanhar de perto e, quando indicado, usar medicamentos modernos não é banalizar o tratamento. É tentar reduzir eventos graves no futuro. O foco deixa de ser a balança e passa a ser a saúde como um todo.

Para o público leigo, a régua precisa ser simples. A faixa de IMC considerada saudável segue entre 18,5 e 24,9. Mas o mais importante não é o número isolado, e sim o impacto no risco.

A ciência mostra que perder cerca de 5% do peso corporal já melhora pressão, glicemia e colesterol. Em pessoas com risco cardiovascular maior, diretrizes brasileiras de obesidade apontam que perdas mais significativas, como 10% sustentado, trazem benefícios ainda maiores.

As chamadas “canetinhas”, como os análogos de GLP-1, viraram assunto de família inteira porque mudaram o jogo. Não por estética, mas porque estudos robustos, como o SELECT, mostraram redução de eventos cardiovasculares em pessoas com sobrepeso ou obesidade e doença cardiovascular estabelecida.

Não é milagre. É ferramenta. E ferramenta boa é a que entra num plano com médico, sono, comida de verdade e movimento — não a que vira atalho de internet.

Diabetes: valores, pré-diabetes e por que o rastreio começou mais cedo

Antecipar o rastreamento do diabetes não significa sair diagnosticando mais pessoas sem critério. Significa identificar quem já está em risco antes das complicações aparecerem.

Descobrir cedo quase sempre permite tratar melhor, com menos impacto na vida do paciente e menos custo para o sistema de saúde.

Para falar com segurança, os números são claros. Glicemia de jejum normal fica entre 70 e 99 mg/dL. Hemoglobina glicada normal é abaixo de 5,7%. A chamada zona de risco, ou pré-diabetes, geralmente fica entre 5,7% e 6,4% de HbA1c ou jejum entre 100 e 125 mg/dL.

Em 2025, a Sociedade Brasileira de Diabetes recomendou iniciar o rastreamento do diabetes tipo 2 a partir dos 35 anos, além de pessoas mais jovens com sobrepeso ou fatores de risco. Isso não foi feito para “arrumar mais diagnóstico”, mas porque o diabetes está chegando mais cedo — e o custo de descobrir tarde é alto: coração, rim, visão e nervos.

Implanon no SUS: o que é, quem pode e a situação na Paraíba

O implante contraceptivo subdérmico é um método de alta eficácia, válido por até três anos, reversível e com retorno rápido da fertilidade após retirada. Na rede privada, sempre teve custo elevado, frequentemente entre dois e quatro mil reais.

Em 2025, o Ministério da Saúde iniciou a incorporação no SUS, com previsão de distribuição de até 1,8 milhão de dispositivos até 2026. A implementação ocorre em etapas, com compra, diretriz e capacitação de profissionais.

Na Paraíba, o que se pode afirmar com segurança é que o processo está em fase de qualificação e expansão. Em 2025, houve capacitação inicial em municípios maiores e com maior volume de partos, como João Pessoa, Campina Grande e outros polos regionais. A disponibilidade na UBS pode variar conforme o município e a equipe habilitada.

A orientação prática é simples e honesta: procurar a UBS e perguntar se o método já está sendo ofertado e se há profissional treinado. Registrar interesse ajuda a organizar a demanda. E é importante diferenciar: Implanon é método contraceptivo com indicação clara; não tem relação com os chamados “chips da beleza”.

A incorporação do implante contraceptivo subdérmico ao SUS é um avanço importante. É verdade que a oferta acontece de forma gradual e depende da organização local dos serviços, inclusive na Paraíba. Ainda assim, o recado é claro: ampliar o acesso a métodos eficazes de planejamento reprodutivo é uma estratégia de saúde pública.

Inteligência artificial: o que muda na vida real

Os próximos meses devem consolidar uma tendência clara: mais tecnologia no cuidado e menos medicina baseada no susto. Monitoramento em casa, equipamentos menores, análise de dados e inteligência artificial devem ajudar a prever riscos antes que eles virem doença.

Nada disso substitui o médico ou a relação humana, mas amplia a capacidade de cuidar melhor e mais cedo.

O grande salto para 2026 não é robô substituindo médico. É inteligência artificial ajudando a organizar cuidado. Pesquisas mostram ganho em leitura de exames, identificação de padrões, priorização de risco e redução de filas, especialmente na atenção primária e em sistemas grandes.

Na prática, isso significa sistemas que ajudam a identificar achados em exames de imagem, ferramentas que organizam quem precisa voltar antes e quem pode esperar, e lembretes inteligentes para controle de pressão e diabetes.

Minha frase de equilíbrio é esta: inteligência artificial boa é a que deixa o médico mais humano — com mais tempo para olhar no olho e menos tempo brigando com burocracia.

Uma virada silenciosa na saúde

Se 2025 deixou uma lição clara, foi esta: mudanças em saúde não precisam virar susto coletivo. Diretrizes não surgem para criar doenças, mas para evitar que elas apareçam. Antecipar risco é ganhar tempo, não perder tranquilidade. Informação bem explicada orienta, empodera e protege — enquanto o medo paralisa. Caminhar para uma saúde mais preventiva, mais tecnológica e mais humana exige justamente isso: menos alarde e mais entendimento.

André Telis é médico, cirurgião cardíaco, doutor pela Unifesp e professor de Medicina da UFPB, com atuação em assistência, ensino e divulgação científica em saúde.

Fim de tarde em João Pessoa simboliza o encerramento de um ano de mudanças na saúde e o olhar mais atento para o que vem pela frente

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