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TECNOLOGIA

Gênio da informática é suspeito de roubar bancos

Delegado alerta sobre o talento do jovem hacker. Ele foi indiciado esta semana por furto qualificado.

Publicado em 01/12/2008 às 8:55

Do G1

João Sperandio Neto é considerado um gênio do mundo virtual. E já ajudou a polícia a prender um pedófilo: “Eu fiz um software que listava todas as imagens que estavam no computador da pessoa”, conta. Mas também usou este talento para cometer fraudes milionárias: “Dizem que eu sou um banco ambulante, um caixa eletrônico com pernas.”

Pela internet, ele já conseguiu senhas e invadiu redes de informática de universidades e de bancos do Brasil e de países como Estados Unidos e da Inglaterra. Chegou a manter em um computador da Guatemala, sem que o dono soubesse, esta lista em código com nomes e senhas bancárias. “Todo sistema pode ser invadido, né?”, diz.

Indiciado esta semana por furto qualificado e formação de quadrilha, João Sperandio Neto teve os computadores apreendidos e entregou à polícia um arquivo com dados que conseguiu ilegalmente. O rapaz, que tem como hobby o aeromodelismo, responde ao processo em liberdade e recebeu a nossa equipe na casa dele, na Grande São Paulo.

Concordou dar esta entrevista, desde que não mostrasse o rosto. Diz que sofre ameaças. João Sperandioo Neto afirma que o talento com os números não se repete com as palavras: “Tenho dificuldade, bastante assim, para entender textos, tenho que ler várias vezes.”

O relógio é outro problema: “Eu me confundo com os ponteiros”, afirma. “E como é que você faz para ver as horas?”. “Com o celular ou então com relógio digital.”

Segundo o setor de inteligência da Polícia Civil de São Paulo, o rapaz foi indiciado porque, em setembro, fez ataques virtuais a um banco brasileiro. A investigação mostra que, em menos de dez dias, desviou R$ 2,2 milhões para as contas de 28 pessoas.

“Ele consegue descobrir lacunas que técnicos experientes não conseguem enxergar”, diz o delegado Luiz Storni. O banco bloqueou a tempo a maior parte do dinheiro mas, pelo menos, R$ 180 mil ainda não foram recuperados. “Esse dinheiro foi para onde?”. “Eu não sei. Eu mandei aleatório para pessoas que eu nem conhecia”, relata. “Você não ficou com nenhuma parte do dinheiro que você já desviou de bancos e de empresas?”. “Não.”

A polícia não acredita nessa versão: “Nas fraudes praticadas, ele já chegou a receber em torno de R$ 90 mil”, afirma o delegado.

João Sperandio Neto era um hacker obsessivo. Passava dias e noites sem dormir em busca de falhas nos sistemas de segurança de empresas e bancos. A Febraban informa que o setor investe R$ 1,5 bilhão por ano em segurança eletrônica e que as fraudes estão diminuindo.

Em 2004, ele foi acusado de desviar R$ 10 milhões. Na época, disse que pagou propina a um policial para que um comparsa não fosse preso. Por este desvio de dinheiro, ele passou cinco meses na cadeia, até ser solto em fevereiro deste ano.

Agora, aguarda o julgamento. O rapaz conta a seguinte versão para explicar porque entrou no mundo dos crimes virtuais: “Eu devia ter uns 15 anos, aí fazia por diversão. Só que aí tinha que dar dinheiro para polícia, aí vinha ladrão, aí tinha que fazer para pagar ladrão”, disse. Ele alega que já foi seqüestrado cinco vezes, e forçado a usar os conhecimentos de informática para beneficiar criminosos. “Por quem você foi seqüestrado?”. “Por bandido, por polícia...”

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que não compactua com nenhum irregularidade. Alega também que João Sperandio Neto jamais informou ao delegado, que o interrogou nesta semana, ter sido vítima de extorsão por parte de policiais civis.

Se for condenado pelo desvio do dinheiro, o hacker pode ficar na cadeia por mais oito anos. Neto é um jovem que escreve em russo, está tirando licença para pilotar aviões e cursa Ciências da Computação e Direito. Hoje se diz arrependido e afirma: quer usar o dom que tem para ajudar as instituições financeiras e a polícia a combater as fraudes eletrônicas. “Você vai mudar a sua vida a partir de agora?”. “Com certeza. Eu acho que esta vida acabou.”

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Jornal da Paraíba

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