TECNOLOGIA
Professora da área de tecnologia relata desafios e preconceitos
Professora da Universidade Federal da Paraíba e embaixadora do projeto Techmaker fala sobre a importância da inserção de mulheres no mercado da tecnologia.
Publicado em 08/03/2023 às 16:21 | Atualizado em 21/06/2023 às 13:52
Apaixonada pela área de exatas, Vanessa Dantas, atualmente professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), entrou na universidade aos 17 anos para fazer bacharelado em ciências da computação na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Aos 23 anos, já graduada e com mestrado na área, ela tinha certeza que queria ser professora universitária. Deu aulas em diversas faculdades particulares de João Pessoa até 2009, quando passou no concurso para ser professora efetiva do campus IV da UFPB, em Rio Tinto, onde é professora dos cursos de Ciência de Computação e Sistemas de Informação. Mas esse percurso não foi feito sem obstáculos. Vanessa viveu momentos que, hoje, meninas que enfrentam a área da tecnologia já podem passar mais tranquilas.
Por ter entrado no mercado de trabalho muito jovem, Vanessa relata que era muito difícil ser levada a sério pelos outros alunos, tanto por ser mulher quanto por ter, muitas vezes, a mesma idade dos alunos. A professora conta que presenciava uma quebra de expectativa entre os alunos. “Em vez de encontrar um homem com aparência nerd, achavam uma jovem garota”, revela. Por mais que ela fosse simpática e descontraída, teve que criar uma imagem mais dura para se impor e evitar comentários negativos e assédios.
A professora conta que passou a se policiar com a forma como se vestia. Usava calças e evitou usar saias e vestidos por anos. Mas ela adverte que, atualmente, as mulheres devem buscar se sentir mais confortáveis e ocupar o espaço que é delas, sem preocupação com a imagem. E que essa estratégia de masculinização e neutralização do que a fazia ser feminina era também uma forma de opressão.
A professora incentiva as alunas a não irem por esse caminho e observa que as mulheres precisam ser respeitadas e reconhecidas por serem quem são, sem ficar tentando provar algo que elas não precisam fazer ou ser.
Mudanças no mercado de trabalho
Apesar de alguns avanços sociais, Vanessa Dantas conta que não observa um avanço da participação de mulheres dentro da graduação.
"Na minha turma de graduação, em 1997, éramos 9 mulheres num total de 35 vagas. Então, a proporção era até alta. Mas desde que comecei a dar aulas, em 2003, tem sido muito menor. Já tive turmas de ingressantes com quase 50 alunos e nenhuma mulher", desabafa.
Então, mesmo com todos os esforços que ela e outras pessoas fazem para incentivar mulheres a entrar e permanecer nessas carreiras, a professora ainda considera estar longe de uma equiparação.
"Acredito que já evoluímos muito, sim, porque hoje vemos mulheres em cargos de gestão e de destaque em empresas importantes, mas os fatores culturais da nossa sociedade continuam sendo um problema", declara.
Sobre a participação feminina no mercado de trabalho, ela comenta que houve um aumento de participação e que as mulheres passaram a buscar mais cursos e novas oportunidades.
E mesmo no período da pandemia houve inúmeros casos de transições de carreira. As mulheres querem entender mais sobre esse mundo e como podem se envolver, mas ainda enfrentam questões como a falta de equiparação salarial e a segmentação de espaços.
O Projeto Mulher Tech Sim Senhor
O projeto Mulher Tech Sim Senhor foi criado em 2015 por outras quatro universitárias de João Pessoa. No começo de 2016 elas procuraram algumas professoras universitárias da cidade com o objetivo de unir forças para realizar um evento conjunto no mês de março. Assim nasceu o Mulher Tech Sim Senhor, um evento para homens e mulheres, de natureza mais acadêmica e técnica.
Só no segundo semestre de 2017 que Vanessa Dantas foi convidada a assumir a liderança do projeto, após as universitárias deixarem o grupo por questões profissionais, mudando o formato do evento e o transformando em algo exclusivo para mulheres, contemplando também discussões não técnicas sobre carreira, diversidade e maternidade, por exemplo, para criar uma grande comunidade.
O Mulher Tech Sim Senhor voltou em 2023, no dia 4 de março, com trilhas, palestras, workshops e uma maratona de atividades que aconteceu no Centro de Convenções de João Pessoa.
Para as meninas que querem ingressar na tecnologia, Vanessa Dantas incentiva e apoia. “A melhor dica que posso dar é que não precisamos ser perfeitas. Somos muito cobradas o tempo todo, e cada falha é colocada sob uma lente de aumento. Quando aceitamos que vamos errar, que podemos errar, e que isso não nos faz menos competentes nem menos incríveis, podemos ir muito mais longe sem carregar pesos desnecessários. O mundo já vai fazer inúmeras cobranças, então precisamos nos acolher”.
*Sob supervisão de Dani Fechine
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