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Academia é opção para muitos
Apesar de árdua e exigir muito estudo e disciplina, carreira acadêmica é cada vez mais considerada pelos estudantes universitários
Publicado em 22/09/2013 às 6:00 | Atualizado em 17/04/2023 às 16:07
Ao entrar na universidade, muitos jovens ainda não sabem bem o caminho que querem seguir. Mas alguns, no decorrer do curso, decidem que querem seguir carreira acadêmica, ser professor universitário. Os motivos para essa escolha são vários. Vão desde a remuneração, considerável em alguns casos, ao dom de ensinar. Mas, antes de chegar à sala de aula, é preciso seguir uma longa trajetória.
Quando iniciou o curso de Rádio e TV na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Geanne Batista tinha 18 anos e até então nunca tinha pensado em seguir a carreira acadêmica.
“Como todo estudante de Comunicação, sonhava em trabalhar em algum veículo. Ainda trabalhei em rádio por um tempo e fiz dez anos de assessoria de imprensa em João Pessoa”, declarou.
Depois dessa experiência, percebeu que o mercado não era muito atrativo e decidiu voltar para a academia. Participou de um grupo de estudos sobre 'cotidiano e jornalismo'. Ao mesmo tempo que intensificou a leitura, observava a mídia paraibana com um olhar de pesquisadora. Com o grupo de pesquisa veio o desejo de fazer mestrado. “Foi aí que me entreguei de vez a esse universo”, afirmou.
Quando as aulas iniciaram, Geanne percebeu que nasceu para ser professora. “Adoro o que faço. A sala de aula é minha terapia”, frisou. Ela contou que a escolha não foi difícil, “pelo contrário. Acho que antes mesmo de entrar no mercado de trabalho me desencantei e busquei os livros. Na sala de aula também estou atuando”.
Ela disse que a carreira acadêmica é árdua, pois requer disciplina, dedicação e comprometimento.
“Apesar disso percebo que estou no caminho certo. Ano que vem pretendo tentar doutorado em Recife (PE) para aprofundar ainda mais os meus conhecimentos na área. Mesmo com todos os desafios que a carreira acadêmica oferece, como por exemplo, a falta de incentivos à educação e à pesquisa, não se pode negar que na academia nos sentimos mais livres”, afirmou.
Matheus Andrade trabalha com música desde os 13 anos e por muito tempo pensou em viver exclusivamente disso. Mas quando entrou na graduação na UFPB, percebeu que o rumo seria outro. No terceiro semestre veio a ideia da docência. “Foi por uma questão de afinidade de trabalho. Aprendi a gostar da pesquisa, da problematização, senti a facilidade de entender as teorias e gosto do ritmo de trabalho do professor”, afirmou.
Após se formar em Comunicação Social, ele atuou como professor substituto da UFPB, passou pela UFCG e agora está de volta à sua universidade de origem, na área de direção e fotografia. Ele criticou a formação vertical na academia. “É muito importante para nós pesquisadores, porém tem criado um sistema problemático de vaidade e hierarquia nas universidades”, declarou Andrade.
SATISFAÇÃO EMN FORMAR PROFISSIONAIS
Para Rodrigo Vianna, o desejo de seguir carreira acadêmica se deu no final da graduação de Engenharia de Alimentos, quando ele entrou em um projeto de pesquisa.
“Nesse trabalho recebi uma bolsa de iniciação científica do CNPq e comecei uma atividade nova e muito mais interessante que já tinha vivenciado até aquele momento, que era justamente buscar o conhecimento para resolver um problema real”, afirmou. O trabalho era sobre a má qualidade da merenda escolar e ele tinha a missão de descobrir formas alternativas para melhorar a alimentação.
Depois da graduação veio o mestrado em Engenharia Agrícola e em seguida o doutorado, em Saúde Coletiva. Atualmente Vianna é professor do curso de Nutrição. “Acredito que é importante escolher uma atividade que seja interessante, prazerosa e que se tenha vontade de conhecer, falar a respeito, estudar, aprender”, declarou.
Para ele, as escolhas de uma faculdade ou curso nem sempre são definitivas, nem implicam a definição de uma ocupação no futuro para o resto da vida.
Ele disse que o maior desafio da carreira de professor universitário é ter que realizar todas as atividades necessárias e desejadas ao mesmo tempo (ensino de graduação, pós-graduação, pesquisa e extensão universitária), além de atender às necessidades da universidade, que são reuniões, planejamentos, avaliações, etc.
“No caso da UFPB, por ser uma instituição pública, a estrutura administrativa é bastante lenta, assim como o andamento das decisões. Nem sempre funciona como deveria ou gostaríamos”, frisou Vianna.
Em contrapartida, a profissão proporciona momentos importantes e prazerosos. “O que há de melhor é o fato de estudar sempre, conhecer e aprender coisas novas, como também passar conhecimento para novas pessoas. Formar pessoas é, sem dúvida, o mais gratificante. É ver os alunos se transformando em profissionais ou novos professores, isso é uma recompensa indescritível”, afirmou.
CAMINHO PARA A DOCÊNCIA É LONGO E REQUER MUITO ESTUDO
Quem escolhe a docência para a vida profissional precisa estar preparado para os inúmeros desafios. Para o professor Matheus Andrade, o problema tem sido na estrutura sistemática das universidades. “A necessidade de transformar o ambiente em estatística para política. Então para quem quer fazer um trabalho mais sério (o trabalho correto), o sistema dificulta nossos anseios de desenvolver pesquisa e extensão, publicação, atividades práticas, leitura, reciclagem, eventos, cursos de formação complementar, etc”, frisou o professor.
Segundo ele, tudo isso a ser conciliado com salas de 40 alunos, muitas vezes sem estrutura adequada, com muitos alunos que não estão a fim de estar ali. “Até defendo que a universidade não é o único caminho para vencer na vida. Acho que o mundo dos negócios é muito interessante para quem resume a vida em ganhar dinheiro”, declarou. Para Matheus, o que a academia tem de mais gratificante é o diálogo humano.
Para quem deseja seguir a carreira acadêmica como os personagens acima, precisa passar por especializações, mestrado, doutorado e pós-doutorado, por que não? Em seleções para professores, na maioria das vezes é exigido, no mínimo, o título de mestre. O doutorado, apesar de não ser requisito fundamental, enriquece o currículo e, claro, é capaz de eliminar os concorrentes em uma seleção.
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