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Carreira professor universitário: vantagens e desvantagens
Muitos jovens saem da graduação direto para o mestrado e doutorado visando uma das vagas abertas em universidades.
Publicado em 26/04/2015 às 7:00
Ser professor universitário pode ser um dos caminhos trilhados para uma vida financeira estável e, ainda, para muitos, fazendo aquilo que se mais gosta: transmitindo conhecimento. Atualmente, diversas universidades públicas estão com editais abertos, seja para professor efetivo ou professor substituto. O percurso para se chegar até lá, no entanto, exige dedicação, muito estudo e, principalmente, comprometimento.
De acordo com o último Censo do Ensino Superior, divulgado em 2014, existem no Brasil 321.700 professores universitários em atividade, distribuídos entre 2.090 instituições privadas e 301 públicas. Para se tornar um professor universitário, é necessário ter, pelo menos, o diploma de nível superior. Especializações e titulações, porém, como Mestrado e Doutorado, podem render gratificações.
Ainda de acordo com o Censo do Ensino Superior divulgado em 2014, o número de professores universitários cresceu 36% na última década, enquanto que o número de alunos matriculados e o volume de cursos abertos cresceram mais de 80%. São 321,7 mil professores universitários na ativa, para 7,3 milhões de alunos matriculados em 32 mil cursos superiores. O mercado para professores universitários, portanto, está em expansão, o que pode ser percebido pela quantidade de concursos que estão sendo abertos para o cargo.
Além disso, o Censo revela, também, que o Brasil tem aproximadamente 121 mil professores universitários com doutorado, sendo que 70% dos professores doutores trabalham em universidades públicas. Um professor com Doutorado em regime de dedicação exclusiva em uma universidade pública pode receber até R$ 17.057,74. Além de tudo, portanto, é uma ótima oportunidade de estabilidade financeira. As instituições privadas, por sua vez, empregam 60% dos professores universitários do Brasil. Existem cerca de 2,4 mil instituições de ensino superior no país, e dessas, 2.090 são particulares.
De acordo com o pró-reitor de ensino da Universidade Federal de Campina Grande, Luciano Barosi, existem áreas que têm como grande mercado profissional a academia. É o caso, por exemplo, de cursos como o de Ciências Sociais, Física e Química, cursos cujo mercado de trabalho, principalmente na Paraíba, são mais voltados para a academia. "Além disso, o selo profissional da academia agrega valor ao seu currículo. Isso, claro, do ponto de vista pragmático para o profissional", explica.
Outra grande vantagem, no entanto, que pode ser vista na carreira de professor universitário e que poucos conhecem trata-se de uma característica do próprio universo acadêmico: a competitividade que existe entre os professores. "A interação é bastante competitiva. Mas não é aquela competição para derrubar um ao outro. É uma competição para tentar ser melhor. Ninguém sai efetivamente perdendo, mas os professores querem mostrar o tempo todo um para os outros que são os melhores nas suas áreas. É, portanto, um ambiente de competição para o aumento do conhecimento. E essa é a parte mais bonita da academia em ganhos reais", comenta.
Já de acordo com o consultor de carreiras da plataforma de empregos Job1, Renato Mendes, a carreira de professor conta com algumas vantagens: primeiro, fazer aquilo que se gosta, que já é uma grande vantagem; a possibilidade de estar sempre se atualizando; a faixa salarial que, dependendo do nível, é confortável, e o fato de se poder ter férias duas vezes por ano.
Na hora de preparar o currículo, de acordo com Renato, deve-se ter em mente que o currículo deve ser direcionado com cursos dentro da área, palestras que frequentou. "Caso tenha ministrado alguma palestra é interessante colocar e sempre continuar estudando. Isso, aliás, é válido para qualquer área", pontua. "Sempre é interessante ter uma experiência prática", comenta.
“Upgrade é primordial”
A professora universitária da UEPB Lívia Cirne optou pela carreira devido à sua inclinação para a pesquisa. "As pesquisas satisfazem e instigam minhas curiosidades. Acho um outro fator bem significativo é o fato do mercado privado não ser muito atrativo, meio precário, em relação à jornada de trabalho e aos salários. Isso acaba sendo levado em consideração também. Ainda que não tenha sido um fator decisivo, no meu caso", afirma. Ela, que fez duas graduações simultaneamente - e em áreas diferentes -, uma em Ciências Sociais e Aplicadas e outra na área de Exatas, conseguiu unir os dois cursos através da pesquisa, com trabalhos de conclusão que tivessem um viés mais prático e interdisciplinar.
O Mestrado veio quase que imediatamente posterior à graduação e, nele, a confirmação de que aquele era o caminho a ser seguido. "No mestrado veio a confirmação de que estava valendo o investimento. De que era o que eu queria. A empolgação com a dissertação, uma das etapas da pós-graduação, e a participação em laboratório de pesquisa me levaram a já querer o doutorado em seguida. Antes de terminar o mestrado, submeti-me à seleção do doutorado e passei. Os quatro anos foram muito proveitosos. Além de uma experiência de vida, foi bastante importante para o meu desenvolvimento acadêmico. Para a maturidade acadêmica", explica. "Quando encabecei o doutorado estava decretado, definitivamente, que iria direcionar minha atuação como professora e pesquisadora", pontua.
Concluído o Doutorado há cerca de um ano, no entanto, ela não quer parar por aí: a ideia é engatar no pós-doutorado, para não perder o "timing" das propostas que lançou em sua tese (trabalho de conclusão do doutorado). "Particularmente, acredito que o ensino – de maneira geral – exige uma atualização constante. Sou totalmente a favor de estudos, de eventos e de cursos periódicos. Para quem trabalha com ensino, o “upgrade” é primordial. As mudanças têm acontecido cada vez mais rápido. As discussões em sala e as pesquisas têm que acompanhar o desenvolvimento dos fenômenos. Então, é imprescindível essa busca tanto por uma renovação do agendamento dos assuntos como, inclusive, das formas de atuação em sala. Sim, porque acho que temos que se desdobrar cada vez mais em sala para disputar atenção com os celulares ou demais aparelhos eletrônicos e instigar os alunos a pensarem, a questionarem e a se interessarem pelas abordagens propostas pelas disciplinas", finaliza.
Lívia já coleciona algumas experiências em sala de aula: após ter sido professora temporária da UFPB, está atualmente, como professora substituta na UEPB e prestes a se mudar para o Maranhão, onde passou para ser efetiva adjunta na UFMA. Sobre as experiências anteriores, ela comenta: "Todas as minhas experiências foram válidas, até porque elas não se diferenciam das de efetivo, praticamente. Só no que se refere ao salário... O próprio processo de seleção, via concurso público, é muito semelhante. As exigências nas provas são as mesmas. Talvez, o que seja mais característico desse tipo de experiência é a questão do regime de trabalho. Muitas vezes, dependendo do departamento, os professores temporários e os substitutos assumem uma carga horária excessiva, que boa parte dos efetivos nem têm. E assumem disciplinas que, nem sempre, fazem parte do seu quadro de interesses ou têm uma configuração bem complicada (exijam uma infraestrutura que a universidade não atende ou estão em horários que a produção dos alunos já não tem o mesmo rendimento, como no final do dia, numa sexta-feira). Tem que gostar muito mesmo para conseguir dar conta e superar esses obstáculos. É um desafio. E é um teste para o caminho da carreira efetiva".
Salário dos professores
A tabela de remuneração para professores do ensino superior na rede federal de ensino, por exemplo, leva em conta:
- A quantidade de horas dedicadas: 20 horas semanais, 40 horas semanais ou Dedicação Exclusiva
- A classe: Auxiliar, Assistente, Adjunto, Associado ou Titular
- O nível: dentro de cada classe, de acordo com promoções recebidas
- A titulação: aperfeiçoamento, especialização, mestrado ou doutorado
De acordo com a Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes), o piso salarial do professor universitário na rede federal em regime de dedicação exclusiva fica entre 4 mil reais e 17 mil reais. Seguem alguns exemplos:
- Professor Auxiliar: de R$ 4.366,98 a R$ 8.818,30
- Professor Assistente: de R$ 4.836,70 a R$ 9.320,82
- Professor Adjunto: de R$ 5.357,53 a R$ 10.952,19
- Professor Associado: de R$ 6.788,55 a R$ 15.464,45
- Professor Titular: de R$ 7.621,46 a R$ 17.057,74
Entenda as diferenças entre professor auxiliar, assistente, adjunto, associado e titular:
Além das diferenças em termos de remuneração, a classe de cada professor universitário tem influência, também, sobre as atividades que devem ser exercidas por cada profissional. De acordo com a Lei nº 11.713 / 1997, são cinco tipos de classe: professor auxiliar, professor assistente, professor adjunto, professor associado e professor titular. Confira:
I - Professor Auxiliar: exercício das atividades de ensino, participação em atividades de pesquisa e/ou extenção, em caráter coletivo ou individual, seleção e orientação de monitores, orientação de monografias de cursos de graduação e participação na gestão acadêmica e administrativa.
II - Professor Assistente: além das atribuições da classe de Professor Auxiliar, atividades de ensino em cursos de pós-graduação "lato-sensu", elaboração de projetos de pesquisa e/ou elaboração e coordenação de projetos de extensão; orientação de alunos de pós-graduação "lato-sensu" e/ou bolsistas de iniciação científica ou aperfeiçoamento e participação em banca de concurso público pra a classe de Professor Auxiliar.
III - Professor Adjunto: além das atribuições da classe de Professor Assistente, atividades de ensino em cursos de pós-graduação "stricto-sensu", coordenação de projetos de pesquisa, orientação de alunos de pós-graduação "stricto-sensu", participação em banca de concurso para a classe de Professor Assistente.
IV - Professor Associado: além das atribuições da classe de Professor Adjunto, consolidação de uma linha de pesquisa e elaboração de proposta teórico-metodológica em sua área de conhecimento, participação em banca de concurso público para a classe de Professor Adjunto e atividades de pós-graduação.
V - Professor Titular além das atribuições da classe de Professor Associado, coordenação de pesquisa e desempenho acadêmico de grupos de produção de conhecimento e participação em banca de concurso para as classes de Professor Associado e Titular.
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