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Domésticas têm novo perfil na Paraíba
É difícil encontrar profissional que durma no emprego. Muitas preferem trabalhar como diaristas e outras voltaram a estudar.
Publicado em 23/09/2012 às 11:00
O perfil das empregadas domésticas mudou. Enquanto as patroas continuam querendo alguém que saiba cozinhar, cuidar da casa e também tenha disponibilidade para dormir no trabalho – as funcionárias preferem voltar para seu próprio lar ao fim de um dia de trabalho e assim ter mais tempo para família e outras atividades particulares.
A funcionária pública Maria Araújo foi uma das empregadoras que sentiu essa mudança. Após a saída da doméstica que ela tinha há mais de três anos, não foi fácil achar alguém que assumisse a responsabilidade de cuidar da casa e também passar a noite no emprego.
“Perguntei a várias amigas no trabalho se elas conheciam alguém com esse perfil, enfatizando que eu assinava a carteira e pagava todos os direitos. No entanto, todas que eram indicadas não queriam dormir no emprego”, contou Maria, que apenas após inscrever a vaga no Sistema Nacional de Empregos da Paraíba (Sine-PB) de João Pessoa conseguiu a funcionária que desejava.
“Ainda bem que encontrei alguém, pois meu pai tem 91 anos e eu estava trazendo-o para o meu trabalho todos os dias para que ele não ficasse sozinho”, revelou a funcionária pública.
Conforme os dados repassados pelo Sine-PB, até o último dia 21 de agosto um total de 2.206 pessoas estavam inscritas para concorrer uma vaga de empregada doméstica. A demanda pelo serviço também é contínua, mas há dificuldade no encaminhamento quando os empregadores 'exigem' que a funcionária durma no trabalho.
“Devido à correria as domésticas não querem mais dormir no lar do patrão. Elas querem ir para casa, cuidar da própria família, e no outro dia voltar para trabalhar”, comentou o diretor do Sine-PB, João Carlos Biazon, ao informar que o Sine encaminha entre 30 e 35 profissionais diaristas, empregadas domésticas ou acompanhantes por mês.
Ainda segundo ele, também quase não há mais aquelas mulheres que vinham do interior para trabalhar na cidade grande e ficavam alojadas na casa da família empregadora.
Rita Maria de Jesus, que há 40 anos trabalha com serviços domésticos – já tendo inclusive pego um emprego, no qual dormia na casa do patrão, contou que não aceitaria mais esse tipo de trabalho.
“A gente sabe que dessa forma trabalha muito mais, por isso as trabalhadoras não querem. Você só tem hora para acordar. Eu trabalhava a semana toda em uma casa de família e vinha para casa nos fins de semana. Acordava 5h da manhã, porque botava o café, e muitas vezes ia dormir de meia-noite porque o empregador chegava tarde e pedia um lanche”, relatou ela, ao enfatizar que “hoje, só quem aceita dormir na casa de patrão é quem não tem residência na cidade em que está empregada”.
Conforme Rita, apesar de alguns direitos conquistados (como carteira assinada e todos os benefícios decorrentes dela), as empregadas domésticas ainda não têm uma jornada de trabalho definida por lei. “É uma de nossas bandeiras de luta”, acrescentou.
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