VAMOS TRABALHAR
Síndrome causa estresse em quem lida diretamente com o público
Síndrome de Burnout, chamada também de "esgotamento", consome física e emocionalmente profissionais que lidam com pessoas.
Publicado em 21/11/2010 às 8:00
Karoline Zilah
"Burn" (do inglês, "queima") e "out" (que significa "exterior"). Duas palavras que, juntas, são sinônimos de um tipo de estresse cada vez mais comum no Brasil entre quem lida diretamente com o público: a Síndrome de Burnout. Para os pesquisadores brasileiros, o termo "Síndrome do Esgotamento" é o que mais se aproxima do original em inglês.
Apesar de ainda ser desconhecido por quem sofre seus sintomas e até por médicos e psicólogos que poderiam diagnosticá-lo, o problema tem características com as quais muitas pessoas podem se identificar. Trata-se de um tipo de estresse que consome física e emocionalmente, causando um comportamento agressivo e irritadiço ou depressivo.
De acordo com o pesquisador Waldemir Borba, a Síndrome de Burnout é uma definição utilizada exclusivamente para "pessoas que trabalham com pessoas", a exemplo de profissionais da saúde (médicos e enfermeiros) e professores, sendo diagnosticada até em policiais e jornalistas. É um tipo de estresse que se diferencia por ser doença ocupacional, desencadeada pelas atividades profissionais. Mesmo sendo pouco conhecida, ela consta na legislação trabalhista brasileira desde 1999.
Causas
De acordo com Jaqueline Brito (foto), psicóloga e professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a sobrecarga de trabalho é o principal responsável pelo sentimento de "exaustão" que compromete os relacionamentos profissionais.
Pesquisadora do assunto, ela esclarece que a doença se revela em baixa autoestima, irritabilidade, distanciamento dos colegas, pacientes ou clientes, ansiedade, temor de voltar ao trabalho no dia seguinte e sentimento de fracasso.
A síndrome também se manifesta fisicamente, causando enxaqueca, fadiga, insônia, doenças de pele, distúrbios gastrointestinais e dependência química, principalmente de medicamentos tranquilizantes.
Instituições informam funcionários
Por ser confundida com o estresse cotidiano, a doença muitas vezes não chega a ser identificada. Na Paraíba, instituições têm procurado esclarecer os funcionários que têm uma tendência maior a desenvolver a síndrome. Como professores e médicos são os profissionais mais afetados, o Hospital de Emergência e Trauma, em João Pessoa, e o Sindicato dos Trabalhadores da Borborema, em Campina Grande, providenciaram palestras sobre o assunto este ano.
Na Capital, um simpósio debateu a saúde mental dos profissionais que lidam com pacientes, apresentando os conceitos da Síndrome de Burnout. “Pelas peculiaridades do trabalho do profissional de saúde, segundo estudos, estes estão mais propensos a desenvolver os sintomas característicos da síndrome”, afirmou a coordenadora do setor de Psicologia do Trauma, Maria Gorete de Rezende.
Segundo ela, o hospital desenvolve atualmente duas linhas de pesquisa junto aos seus profissionais, sendo uma com médicos da urgência e emergência e outra com os médicos da Unidade de Terapia de Queimados. A proposta é acompanhar o dia a dia dos funcionários e encontrar soluções para amenizar o estresse cotidiano e os possíveis sintomas de exaustão.
Entre os professores de escolas públicas de Campina Grande e da região da Borborema, o objetivo foi evitar a desmotivação em sala de aula. Durante a II Semana do Servidor, em outubro eles tiveram acesso à palestra "Professor desencantado: A síndrome de Burnout e o trabalho docente", ministrada pelos professores Silvana da Cruz Barbosa, da área de Psicologia Organizacional do Trabalho da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Alarcon Agra, da Unidade Acadêmica de História.
Tratamento
A doença, na maioria das vezes, não é identificada pelo profissional. Ele não consegue enxergar no trabalho a origem do esgotamento físico e mental e, muito menos, reconhece que está doente e que precisa de ajuda.
A psicóloga Jaqueline Brito explica que é possível se prevenir, mas também tratar a Síndrome de Burnout. O procedimento é semelhante ao adotado contra o estresse. Medidas simples no dia a dia colaboram para a redução do desgaste no ambiente de trabalho, como mudanças na escala de trabalho e organização de horários.
Geralmente, o primeiro passo é o encaminhamento para um psicólogo. Entre as opções, existem as sessões individuais de terapia e as sessões em grupo, onde o paciente troca ideias com outras pessoas. Os psicólogos podem recomendar atividades de relaxamento para complementar, como massagens, musicoterapia, meditação ou ioga, ou mesmo exercícios físicos. "Associadas, as atitudes apresentam bons resultados", comenta Jaqueline.
Assista ao vídeo do Jornal Hoje sobre o assunto:
Comentários