PLENO PODER
Demissões políticas: uma prática vergonhosa, mas ainda presente nas disputas eleitorais de Campina
Médico foi dispensado do Hospital de Trauma após o lançamento da candidatura do cunhado. Diretor técnico do hospital pediu afastamento após 'demissão'
Publicado em 28/08/2020 às 11:43 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:22
No imaginário popular é bem presente a ideia de que, no jogo político, vale tudo para obter espaços de poder e ter êxito nas disputas. A máxima, infelizmente, muitas vezes parece ser colocada em prática. Um exemplo disso é a perseguição de servidores públicos motivada apenas por divergências eleitorais, às vésperas dos pleitos - uma prática vergonhosa que pode colocar em risco, inclusive, o bom funcionamento do serviço público.
Essa semana a retirada de um médico cirurgião dos quadros de pessoal do Hospital de Trauma, de Campina Grande, levantou a discussão.
O profissional dispensado é cunhado de um pré-candidato à prefeitura campinense e recebeu a 'carta de demissão' após o anúncio da candidatura.
A situação foi tão desconfortável que ontem o diretor técnico da unidade, médico Gilney Porto, pediu afastamento do cargo. Ele seria sócio do médico demitido numa empresa, mas isso não faz diferença alguma.
O fato é que, sobretudo na saúde, a permanência dos servidores nas unidades deve ser sempre motivada pela competência, e não pela posição política dos profissionais. E, no caso em tela, o médico dispensado foi homenageado por outros profissionais, recentemente, como um dos melhores profissionais do Hospital de Trauma.
Mesmo assim, até agora a direção do Hospital e a Secretária de Saúde do Estado não se posicionaram sobre a questão e nem explicaram, à sociedade campinense, o porquê de terem dispensado o médico da unidade.
Os rumores do uso político da saúde com viés eleitoral não é uma novidade na Paraíba. No âmbito da Operação Calvário, do Ministério Público, o delator Daniel Gomes disse que as contratações e demissões de servidores nas Organizações Sociais eram feitas, em alguns casos, com base no alinhamento político dos profissionais. Quem não se enquadrava, segundo ele, era dispensado sem ter as suas competências técnicas avaliadas.
No caso do Trauma é preciso que a direção do hospital ou a Saúde Estadual se pronunciem sobre o tema para afastar, quem sabe, quaisquer dúvidas sobre o que motivou o desligamento. O silêncio, por enquanto, está repercutindo muito mal.
Comentários