VIDA URBANA
Anvisa registra teste que detecta zika virus em até 20 minutos
Atualmente o exame mais comum disponível no Brasil para diagnosticar a doença é o PCR, que só detecta a presença do vírus no corpo na fase aguda da doença.
Publicado em 15/02/2016 às 19:29
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu nesta segunda-feira (15) registro de um teste rápido para detecção do vírus zika. O produto, do laboratório canadense Biocan Diagnostics, é capaz de detectar se o paciente está ou esteve infectado pelo zika em até 20 minutos.
Atualmente o exame mais comum no Brasil para diagnosticar o zika é o PCR, que só detecta o vírus na fase aguda da doença. Este teste rápido é o quarto produto aprovado pela Anvisa para o diagnóstico do zika e o terceiro capaz de identificar se o paciente teve a doença mesmo após a eliminação do vírus, pois faz a detecção pela presença de anticorpos.
A necessidade de ter mais exames disponíveis para a detecção do zika aumentou depois que o Ministério da Saúde confirmou que quando gestantes são infectadas pelo vírus podem vir a ter bebês com microcefalia, uma malformação no cérebro.
Enquanto em 2014, quando o vírus ainda não circulava fortemente no país, foram registrados 147 casos da malformação, entre outubro de 2015 e o começo de fevereiro de 2016 foram confirmados mais de 460 casos, sendo que 41 têm relação confirmada com o vírus zika. Mais 3.852 registros de suspeita de microcefalia estão em investigação.
Pesquisa do Paraná identifica vírus Zika em cérebro de bebês com microcefalia
Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná identificou a presença do vírus Zika no cérebro de bebês que nasceram com microcefalia, malformação em que o bebê nasce com crânio com tamanho menor que o normal. As análises foram feitas com amostras de tecidos de fetos que morreram por complicações da doença no Nordeste do país e foram cedidas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O vírus é capaz de ultrapassar a placenta da mãe.
Coordenado pela médica Lúcia Noronha, o Laboratório de Patologia Experimental da PUC-PR vem analisando amostras de placenta e de tecidos de fetos com microcefalia desde 2015. Neste carnaval, as pesquisas, feitas em regime de urgência, encontraram o vírus em duas amostras do tecido cerebral dos bebês, exatamente em pontos com inflamações. Antes, no fim de 2015, o laboratório já havia comprovado que inflamações na placenta da gestante eram causadas pelo vírus zika.
“Conseguimos agora ver que essa relação [entre zika e microcefalia] existe. Se você tem a infecção, tem a quebra da barreira placentária – que conseguimos ver em algumas amostras – temos o vírus no bebê, causando inflamações. Quer dizer, onde tem inflamação, tem vírus, essa evidência, essa relação entre zika e microcefalia existe”, frisou. A médica ponderou, no entanto, que poucas amostras foram estudadas e que é necessário comprovar a tese com mais pesquisas.
“Descartar completamente ou provar 100% essa relação só será possível quando tivermos muitas amostras com o mesmo padrão”, disse a pesquisadora, que integra também a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP). Segundo a médica, por uma série de questões éticas e científicas, como a autorização dos pais para a coleta de tecidos de fetos com microcefalia e a particularidade de retirada de amostras do cérebro, as pesquisas não são tão rápidas, embora avançadas.
Com base em resultados de pesquisas internacionais, a professora acredita que o Brasil está no caminho certo para desvendar a zika. Ela lembra que recentemente, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), e outro laboratório de patologia na Eslovênia também encontraram o vírus em cérebros de bebês com a malformação. As amostras avaliadas pelos pesquisadores norte-americanos foram cedidas pela Fiocruz e são parte das mesmas enviadas ao Paraná.
Na avaliação de Lúcia Noronha, é possível que as pesquisas ajudem na elaboração de uma vacina contra o vírus. Como os fetos são muito sensíveis a antirretrovirais, remédios que poderiam impedir a mãe de passar a zika para o bebê, a médica aposta na imunização, além do combate de criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus, nas cidades.
Complicações da Zika
A pesquisa da PUC-PR também não conseguiu identificar quais fatores fazem com que a Zika seja mais agressiva em algumas pessoas do que em outras. Em geral, 80% dos infectados desenvolvem apenas sintomas brandos da doença, como febre. Outros já foram notificados com síndromes graves, como a Guillain-Barré, doença autoimune, que paralisa os músculos e pode levar à morte.
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