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Entenda movimento que quer mudar nome de João Pessoa
Polêmica sobre o nome de João Pessoa volta a ganhar força com pedido de plebiscito. Movimento "Paraíba, Capital Parahyba” pede há 15 anos a mudança.
Publicado em 24/02/2023 às 10:11 | Atualizado em 27/02/2023 às 18:34
O advogado Raoni Vita solicitou nesta quarta-feira (22) ao Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba a realização de um plebiscito para discutir a mudança do nome de João Pessoa. A discussão não é nova e ganhou força com a criação do movimento "Paraíba, Capital Parahyba”, que pede há 15 anos a mudança do nome da capital.
O movimento é formado por historiadores, geógrafos, artistas, jornalistas, estudantes e educadores. As discussões sobre o assunto iniciaram quando o músico e ex-vereador Flávio Eduardo Maroja, o Fuba, teve a ideia de fazer uma cartilha explicando as razões que fizeram a cidade ser chamada de João Pessoa.
Na época, o vereador tinha um gabinete no Centro Histórico, onde havia um espaço aberto para diferentes correntes artísticas, que colaboraram com o debate. E a cartilha se transformou no livro ‘Parahyba 1930: a verdade omitida’.
Também não é a primeira vez que um plebiscito é utilizado para discutir o assunto. Em 2013, houve uma campanha para coleta de assinaturas na Assembleia Legislativa do Estado pedindo que a população fosse consultada sobre o nome da cidade.
Apesar da movimentação para a mudança do nome, o próprio Fuba reconhece que talvez não seja tão fácil convencer os pessoenses. Em entrevista ao JPB1, em 2020, ele disse: “Eu, particularmente, acho muito difícil (a mudança do nome). Naquela época tínhamos 60 mil habitantes e hoje praticamente temos 1 milhão. Além disso, as pessoas não conhecem a história.”
Quem foi João Pessoa para a Paraíba?
Hoje, o nome da cidade homenageia o político João Pessoa, que foi assassinado em 1930 e governou a província por menos de dois anos. Foi ministro do Supremo Tribunal Militar e por articulação do tio, o ex-presidente Epitácio Pessoa, assumiu a província. Para Fuba, o principal desejo da gestão de Pessoa era arrecadar e, para isso, ele criou dois impostos sobre mercadorias transportadas no território da província. Seria o início do pedágio no Brasil.
Pessoa concorreu a presidência do Brasil na chapa com Getúlio Vargas, mas perderam nas urnas para Júlio Prestes. Com a morte de João Pessoa, os aliados da Aliança Liberal derrubaram Washington Luís e colocaram Getúlio Vargas na presidência.
“João Pessoa não foi esse herói que os livros contam não. E não teve revolução, foi um golpe que começou a ditadura no Brasil”, disse.
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A história oficial conta que João Dantas era opositor político de João Pessoa e foi perseguido durante a gestão do presidente da Paraíba. Pessoa mandou a polícia invadir o escritório de Dantas, onde teriam sido encontradas cartas de amor escritas pela poetisa Anayde Beiriz.
João Pessoa decidiu expor as cartas na delegacia e anunciou no jornal. Em retaliação, João Dantas teria matado Pessoa na Confeitaria Glória, em Recife.
Fuba defendeu em entrevista ao Jornal da Paraíba que o crime não tinha caráter político, mas era por “lavagem de honra”. Os aliados do presidente da Paraíba teriam decidido criar um mito para tomar o poder. O ex-vereador aponta que o principal mentor deste plano teria sido o jornalista Assis Chateaubriand.
Mudança de Parahyba para João Pessoa
A mudança de nome da capital, que antes era chamada de Parahyba, aconteceu quase três meses após a morte do político. O assassinato e a comoção popular pressionaram os deputados estaduais, que aprovaram um projeto de lei autorizando a mudança no dia 4 de setembro. A bandeira da cidade também foi trocada e ganhou os tons vermelho e preto, junto ao “Nego”.
“Ao meu ver, você particularizar, botar o nome de uma capital, o nome de um político, é um problema. Ter particularizado uma família no nome de uma cidade e as pessoas não saberem a história!”, opinou Fuba em entrevista ao Jornal da Paraíba, em 2018.
Ariano Suassuna nunca chamou nome de João Pessoa
O escritor Ariano Suassuna tinha apenas 3 anos quando o seu pai, João Suassuna, foi assassinado. Ariano argumentava que a morte de João Pessoa promoveu uma série de rixas políticas que levaram à perseguição e a assassinatos na Paraíba. Seu pai era casado com Rita de Cássia, prima de João Dantas.
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João Suassuna tentava se defender de acusações feitas por adversários políticos quando foi assassinado com um tiro nas costas, no dia 9 de outubro de 1930, no Rio de Janeiro. Por isso, o escritor recusava-se a chamar a capital da Paraíba pelo nome de João Pessoa.
Quem era família Pessoa
Familiares de João Pessoa que atuam na política da capital paraibana defendem o legado do político. Membros da família Pessoa, como o vereador Fernando Millanez Neto (PV), ainda vivem na cidade e atuam na política pessoense. Em entrevista ao Jornal da Paraíba, em 2018, o ex-vereador e ex-secretário municipal Fernando Milanez, sobrinho-neto de Pessoa, afirmou que a possível mudança é um desrespeito a história, e disse que o político mudou a história da nação como o “comandante” da Revolução de 30.
“Eu acho ridículo pensar que se pode rasgar a história. Construam o que João Pessoa construiu”, afirmou Millanez Neto.
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