COMUNIDADE
Pessoas com autismo relatam rotina e inserção no mercado de trabalho
Um dos temas abordados no Paraíba Comunidade é a independência e autonomia de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Publicado em 02/04/2023 às 6:25 | Atualizado em 02/04/2023 às 6:44
Mesmo com avanços na garantia de direitos às pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nos últimos anos, muitos indivíduos ainda enfrentam preconceitos e questões tratadas como tabu no mercado de trabalho, o que acaba tornando o caminho para a independência financeira e autonomia na sociedade mais difícil.
Este foi um dos temas abordados no Paraíba Comunidade deste domingo (2), programa exibido nas TVs Cabo Branco e Paraíba.
Busca por independência
Os irmãos gêmeos Almir Oliveira e Jayme Oliveira, ambos com 26 anos, que foram diagnosticados com a condição anteriormente, contaram em entrevista ao programa especial que vêm construindo a independência tão sonhada.
“Eu faço trabalho em casa, faço artigos, livros e legenda para vídeos. Já fiz concursos para a prefeitura de João Pessoa”, contou Almir, que também tem nas traduções de livros uma área profissional que ele está atuando.
O outro irmão, Jayme Oliveira, atualmente está na vida de "concurseiro", em busca de aprovação no mercado de trabalho, e explicou a rotina puxada de estudos para conseguir passar em um concurso.
“Eu faço um cronograma semanal, dedico três horas por dia aos estudos e já passei em um concurso com isso, e acho que vou passar em mais um, porque vou fazer mais um. Tem muita gente por aí com os transtornos que eu tenho, que é tão capaz quanto quem não tem”, ressaltou.
Autonomia na música
Quem está na mesma luta por um lugar no mercado é o estudante Guilherme de Souza, que demonstra muito talento como músico, e também foi diagnosticado com autismo. Recentemente, ele se formou no curso técnico de música no Instituto Federal da Paraíba (IFPB).
“Pra mim foi uma maravilha. Desde pequeno que eu comecei a escutar música por causa dos meus pais. Eu estava fazendo musicoterapia na Funad também, em 2017. Dois anos depois, fiz a matrícula no IFPB”, explicou o estudante.
Para essas conquistas, Guilherme contou também a importância da família no apoio em todo esse processo. A irmã dele, por exemplo, se formou em psicopedagogia para auxiliar diretamente no tratamento do irmão. “Ele começou as terapias quando criança e eu ia sempre acompanhando. Achava isso super interessante de ver as terapeutas lidando com ele, então quando foi no ensino médio eu tive duas opções, passei em psicopedagogia e hoje eu atendo cerca de 30 crianças semanalmente e 80% delas têm autismo”, disse Maysa Souza, irmã de Guilherme.
Direitos de pessoas com autismo
Em entrevista à TV Cabo Branco, a advogada e especialista no tema, Giovanna Mayer, explicou o que as pessoas com Transtorno do Espectro Autista podem fazer para conseguir direitos garantidos por lei, como o benefício de prestação continuada.
“As pessoas com autismo precisam comprovar baixa renda para conseguir esse benefício e também não podem estar inseridas no mercado de trabalho. Nesse caso, existe um outro auxílio que foi criado para estimular o retorno dessas pessoas ao mercado”, explica.
Além disso, a advogada conta também que os pais das pessoas com autismo também têm direitos, como uma carga horária adaptada no trabalho.
“Na necessidade de fazer o acompanhamento a essas pessoas, os pais têm direito a redução de carga horária se forem servidores públicos, para poderem estar presentes na vida dos filhos e ajudarem no desenvolvimento”, disse.
Em caso de empregados de empresas privadas, a especialista ainda complementou dizendo que não há as mesmas regras.
Outro benefício é também a emissão da carteirinha da pessoa com autismo, que é emitida pela Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência (Funad), que passa a ser disponibilizada também pela internet.
Locais de atendimento a pessoas com autismo
Na Paraíba, a Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência (Funad) é uma das referências no diagnóstico e acompanhamento das pessoas com autismo. Atualmente, a Funad atende 400 pessoas com TEA no estado. No entanto, outras 800 pessoas ainda aguardam por esses atendimentos na fila de espera da instituição.
A Funad é apenas um dos locais que oferecem este tipo de atendimento para pessoas com transtorno do espectro autista. Outros 13 locais na Paraíba estão credenciados e são mantidos pelo governo do estado ou prefeituras, como o Centro de Referência Multiprofissional de Doenças Raras, no bairro dos Bancários, em João Pessoa.
De acordo com o último levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no estado existe a estimativa de que 4.900 pessoas sejam diagnosticadas com a condição.
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