COTIDIANO
Asilos na Paraíba somam mais de 100 casos de Covid-19 em um ano de pandemia
Surto de coronavírus resultou em cerca de 12 mortes, mas maioria dos idosos se recuperou e está imunizada.
Publicado em 18/03/2021 às 14:15 | Atualizado em 18/03/2021 às 15:39


Um ano após o início da pandemia do novo coronavírus na Paraíba, pode-se afirmar os asilos estão entre os locais mais afetados. ‘Casas de longa permanência’, como são chamados, eles abrigam muitos idosos – principal grupo de risco para a Covid-19 – e rapidamente se tornaram motivo de preocupação para as autoridades de Saúde.
Uma vez atingidos pela pandemia, os asilos poderiam ser cenário de tragédias com a morte de vários idosos. Infelizmente, muitos acabaram sendo de fato vítimas da Covid-19. Mas, uma grande maioria dos idosos infectados conseguiu se recuperar e já recebeu a vacina contra o novo coronavírus.
Um levantamento feito pelo JORNAL DA PARAÍBA constatou que ao menos 12 idosos moradores de casas de longa permanência morreram de Covid-19, na Paraíba. Ao todo, 106 idosos e 32 funcionários contraíram o novo coronavírus. Os dados consideram asilos cujos surtos de coronavírus foram amplamente noticiados pela imprensa.

A Associação Promocional do Ancião Doutor João Meira de Menezes (Aspan), localizada em João Pessoa, foi atingida pela Covid-19. Segundo a direção do local, que abriga ao todo 36 moradores, 18 idosos tiveram coronavírus e seis deles morreram. Além dos idosos, 17 funcionários também testaram positivo para a doença, mas todos conseguiram se recuperar.
Irmã Juliana, uma das freiras responsáveis pela Aspan, explica que a primeira idosa infectada contraiu o novo coronavírus após ir à UPA de Cruz das Armas. À época, início do mês de abril de 2020, a Paraíba possuía poucos casos e mortes por Covid-19, e as orientações acerca do combate à doença ainda não eram tão incisivas.
A idosa voltou ao abrigo apresentando sintomas gripais e seu quadro de saúde se agravou. Ela retornou à UPA e não resistiu. A infecção pelo novo coronavírus, no entanto, só foi confirmada após o sepultamento da idosa, com o resultado do teste reagente. Depois da confirmação, outros idosos também passaram a apresentar sintomas e foram imediatamente isolados.
“Nosso cuidado era pra evitar que os funcionários, mesmo sem querer, trouxessem o coronavírus para a Aspan. Mas aconteceu o contrário. O vírus entrou a partir de uma idosa e só depois alguns funcionários ficaram doentes também”, comenta Irmã Juliana.
Apesar do alto índice de mortes por Covid-19 no local, alguns idosos não apresentaram sintomas da doença. A direção da Aspan só tomou conhecimento da quantidade total de infectados após a realização de uma testagem em massa, cujo resultado foi fornecido com atraso devido à falta de insumos na região.
“Os idosos lúcidos foram orientados sobre o que estava acontecendo, pra eles terem consciência e nos ajudar também. Até hoje, não baixamos a guarda e continuamos com todos os cuidados necessários”, disse.
Em Campina Grande, o Instituto São Vicente de Paula passou pela mesma situação. Dos 75 moradores, 26 tiveram Covid-19 e seis faleceram com a doença. Sete funcionários e duas freiras também foram infectados e conseguiram se recuperar.
Irmã Bernadete, diretora da instituição, explicou que dos idosos infectados, 16 permaneceram em isolamento e outros que apresentaram agravamento no quadro de saúde foram transferidos para o Hospital Municipal Pedro I, referência no atendimento a pacientes com Covid-19 na região.
A suspeita é de que a primeira infecção tenha ocorrido após o contato do idoso com um funcionário que estava assintomático. Depois de apresentar sintomas, alguns idosos foram isolados e testados, comprovando a existência do coronavírus no local. Rapidamente o quadro de saúde de idosos se agravou, provocando a necessidade de internação e a morte de alguns deles.
De tudo que passou por conta da pandemia, a diretora do São Vicente conta que, apesar dos traumas, o que mais lhe marcou foi a solidariedade. No período em que o surto foi noticiado, várias pessoas e até mesmo empresas se mobilizaram para arrecadas alimentos, material de higiene e insumos necessários à manutenção do local.
“Recebemos uma onda de solidariedade no período mais difícil que o São Vicente já enfrentou. Artistas realizaram lives, famílias vieram deixar roupas... O povo de Campina não nos abandonou”, comenta.
O Lar de Idosos de Remígio, no Brejo da Paraíba, também registrou casos de coronavírus. Mais de trinta idosos moradores do local testaram positivo para a Covid-19. A direção do local, no entanto, informou que nenhum deles morreu.
Esperança
Com grande parte dos idosos recuperada, agora a palavra de ordem é esperança. É que as vacinas contra a Covid-19 começaram a ser aplicadas em idosos que moram em casas de longa permanência, como nos descritos nesta reportagem.
A direção da Aspan, em João Pessoa, informou ao JORNAL DA PARAÍBA que todos os 36 internos foram imunizados, além dos funcionários que trabalham na instituição. No São Vicente, em Campina Grande, todos os idosos e parte dos funcionários também receberam o imunizante, segundo a organização. A vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Butantã, foi aplicada nos dois locais.
Dona Ivone Velozzo, de 77 anos, moradora da Aspan, é uma das idosas vacinadas contra a Covid-19. Ela chegou a contrair a doença em abril do ano passado, ficou internada em um hospital da capital paraibana em observação, mas se recuperou.
“Nunca tive tanta saúde. Depois da Covid-19, então, não fiquei melhor não. Mas graças a Deus e a família que temos aqui na Aspan estou bem”, disse.

Após vencer a Covid-19, poder tomar a vacina contra a doença é, para dona Ivone, mais um alívio. Feliz por estar imunizada contra a doença, a idosa comenta que deseja vacina para todos, mas lembra que os cuidados pra prevenir o novo coronavírus devem continuar.
“Não senti nada para tomar vacina, foi uma das que menos senti. Agora é só felicidade. Aqui fomos um dos primeiros a ser vacinados, todo mundo graças a Deus tá imunizado. Espero que isso passe logo, porque é muito triste. Já está deixando todo mundo nervoso, e não é brincadeira. É gente morrendo, gente triste, só quem passou sabe. Precisamos nos cuidar” comenta.
Já a diretora do São Vicente, Irmã Bernadete, comenta que a expectativa para a vacinação era grande, e mesmo após os idosos serem imunizados, os cuidados pra prevenir a Covid-19 no local, tão afetado pela doença, não diminuíram.
“Todo mundo está vacinado, mas continuamos com os mesmos cuidados. Estamos num momento de pico novamente, teve uma época que até voltamos a aceitar visitas das famílias, mas agora suspendemos. Não é fácil, mas estamos aqui felizes pela vacinação”, conclui.
*Sob supervisão de Jhonathan Oliveira
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