COTIDIANO
Filha roubada quando era bebê há 29 anos em SP reencontra a mãe
Mulher só confessou sequestro cinco horas antes de morrer, em 2004. Recorte de jornal, investigação e exame de DNA revelaram a verdade.
Publicado em 25/05/2009 às 8:23 | Atualizado em 26/08/2021 às 23:39
Do G1
A dona-de-casa Neuza Dias Franco, que teve um bebê do sexo feminino sequestrado há 29 anos em um posto de vacinação de Vicente de Carvalho, no litoral de São Paulo, conseguiu reencontrar a filha há duas semanas. Exames de DNA confirmaram a verdadeira identidade dos pais.
O reencontro foi possível porque a falsa mãe, Laura Vita Galvão, ficou gravemente doente e confessou o roubo antes de morrer, em 29 de agosto de 2004. Alessandra Galvão dos Santos, que recebeu esse nome após ser sequestrada, fez várias tentativas frustradas para descobrir sua verdadeira mãe.
Duas semanas atrás, uma amiga de Alessandra mandou um e-mail para o jornal A Tribuna pedindo que a equipe investigasse a história de um bebê. A reportagem encontrou a verdadeira certidão de nascimento. Exames de DNA revelaram os verdadeiros pais de Alessandra.
Alessandra conta que a falsa mãe só confessou o crime cinco horas antes de morrer. “Ela me falou que não era minha mãe e que tinha me roubado em um posto de saúde, que era para eu procurar um jornal da Baixada Santista, que lá eu ia ter todas as informações que eu precisava saber”, conta ela.
Alessandra foi aos arquivos do jornal e descobriu a notícia sobre o furto de um bebê. "Fui procurar nos arquivos do jornal. Aí comecei por fevereiro abrindo a página: ‘Criança é raptada no centro de saúde de Vicente de Carvalho’. Na hora que eu vi aquilo, eu não acreditei e fiquei eufórica”, conta Alessandra.
Com base no endereço obtido pelo arquivo de jornal, uma equipe de reportagem foi a Vicente de Carvalho conversar com moradores para saber se alguém se lembrava do caso. “Encontrei a certidão de nascimento da menina: Janaína Dias Franco, filha de Neuza Dias Franco e Carlos Roberto Franco”, conta.
Na lista, acharam o número de telefone do casal. “Eu, sentada, peguei o telefone e disquei, tremendo. Falei: ‘Olha, é a dona Neuza?’. Ela falou: ‘É’”, lembra a repórter. “Eu falei que era mais um trote”, pensou a dona-de-casa Neuza Dias Franco.
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Investigação
“Aí perguntei se ela tinha tido uma filha sequestrada e ela começou a chorar”, disse a repórter Tatiana Lopes. “A voz não saía porque, depois 29 anos, de repente surgir assim. Eu levei um choque também”, disse Neuza, a mãe verdadeira.
Neuza lembra como o bebê foi levado: “Eu estava sentada. Chegou aquela mulher, sentou do meu lado e começou a conversar. Aí depois eu fui levantar para pegar um copo d’água e ela falou: ‘Não, deixa que eu pego’. No que ela trouxe aquela água, eu não vi mais nada. Quando eu voltei, a bebê já não estava mais. Só estava a roupa de lado”, relata a dona de casa Neuza Dias Franco.
A sequestradora trocou a roupa da criança para despistar. “Já me mandaram jogar fora, mas eu falei que eu não ia jogar, eu ia mostrar, para o dia em que ela aparecesse...”, disse dona Neuza. A mãe verdadeira também guardou o recorte do jornal da época, o mesmo que serviu de pista para as jornalistas.
Reencontro
“O laboratório se ofereceu para fazer o teste de DNA. Então, nós marcamos o teste em Indaiatuba com a família de Neuza e a família da Alessandra”, disse a subeditora do jornal, Christiane Lourenço.
E como foi este encontro? “Foi muito emocionante. Fui chegando perto, fui saindo do carro, comecei a chorar e fotografar”, comenta a repórter fotográfica Nirley Sena.
Durante uma semana, as famílias viveram a expectativa do resultado. O teste cruzou as informações genéticas do sangue do pai, da mãe e da suposta filha. “Sem chorar. Não precisa chorar, vai dar tudo certo”, disse o operador de máquinas Carlos Roberto Franco.
O resultado foi entregue em um envelope lacrado. Concluiu-se, portanto, que Carlos Alberto Franco é pai biológico de Alessandra Galvão dos Santos. Todos começaram a chorar. “Digamos que estava faltando aquele pedacinho. Já está preenchido”, afirmou o pai. “Eu não sei nem o que falar”, disse, emocionada, Alessandra. “Mas você sabe assim, foi você quem nos achou”, rebateu Carlos.
“Vou mostrar a Alessandra a roupinha, o dia que ela foi raptada. A mulher tirou e deixou no banco. Esta roupinha é a que você estava vestida com ela no dia”, apontou Neuza.
“É muito amor, porque uma pessoa guardar uma peça de roupa por tantos anos assim é muito amor. Esta aqui é a maior prova de carinho, de como a minha vida era para ter sido”, se emocionou Alessandra. “Daqui para frente, é só comemorar. Vamos sempre estar juntos. Mesmo que more em outra cidade, os corações estão unidos”, finalizou Carlos.
Drama
Luciana conta que sua falsa mãe tinha outros três filhos e já tinha se submetido a uma laqueadura de trompas quando conheceu um novo marido, um caminhoneiro da Baixada Santista.
“Ela não queria perdê-lo”, comenta a comerciante. Segundo Luciana, sua falsa mãe inventou uma gravidez. “Ela enganou ele também dizendo que estava grávida. Como ele não quase não participava do dia a dia da gente em casa, a barriga que ela já tinha já enganava”, acrescenta Alessandra.
Alessandra viveu 24 anos acreditando ser a filha caçula de Laura, uma mulher alcoólatra que agredia os filhos. “A agressividade e a ignorância dela eram muito maiores do que o ser mãe. Foi muito marcante, muito sofrimento, tanto que até ela quis me trocar por drogas”, revela.
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