COTIDIANO
Produtores inovam sabores de queijos e iogurtes com leite de cabra
Paraíba Comunidade mostrou como duas fazendas encontraram na cultura de caprinos uma maneira de ter renda.
Publicado em 16/05/2021 às 7:06 | Atualizado em 14/02/2023 às 14:26
Juazeirinho, que fica entre o Cariri e o Sertão da Paraíba, é um grande berço da produção de leite de cabra. A cultura não é estranha para o estado. Segundo o IBGE, a PB tem o quinto maior rebanho de caprinos do país: são mais de 700 mil cabeças. O Paraíba Comunidade deste domingo (16) mostrou como os produtores da região inovaram e disparam com a cultura de caprinos.
Na Fazenda Pendência Carminha, há 14 km da sede do município, tudo começou de forma artesanal. Eles moravam na Bahia, em Barreiras, e com a vinda dos filhos para a Paraíba afim de tocar a vida universitária, Fransueide e Odon Torres decidiram se mudar para Juazeirinho, onde ficava a fazenda da família de 14 irmãos.
“Quando eu cheguei aqui tinha algumas cabras leiteiras, o nosso funcionário já entregava leite para uma usina de recenseamento (...) ai eu disse vamos intensificar esse leite. Chegou um período que a usina fechou, não sei o motivo, e a gente ficou com esse leite e eu falei vamos fazer queijo. Começamos a fazer em casa, para a família, pros amigos (...) Tudo bem artesanal, bem caseiro”, disse Fransueide.
É ela quem toca a produção. Para melhorar a linhagem, compraram reprodutores e fizeram cursos profissionalizantes com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). Com isso, a produção foi se aprimorando.
Compraram formas, prensas e uma das filhas do casal, a enfermeira Larissa, começou a levar os produtos semanalmente para João Pessoa, onde trabalhava. "O queijo de cabra virou uma paixão”, disse a jovem.
Antes eram 10 peças por semana e hoje a fazenda faz 130 e 150 peças semanais. São 900 litros de leite por mês, a base para queijos e iogurtes. Além do queijo normal, tem o com vinho ou ervas finas.
Hoje a produção é vendida em mercados locais e a família tem uma loja em João Pessoa - tocada pela filha que deixou de ser enfermeira para ficar a frente do comércio. A produção do queijo paga toda a manutenção da fazenda e com os lucros, eles puderam reformar a casa e trocar de carro.
“A gente sempre está tentando fazer o melhoramento genético da produção voltada para leite, isso através de animais puros, registrados”, falou Odon. Ele explica que os animais são rustos e com isso o produtor busca a adaptabilidade do animal ao ambiente, principalmente por conta das secas.
Atualmente, ele espera voltar próximo à normalidade vista antes da pandemia. O isolamento social causou um certo fracasso na economia e as vendas caíram. Além disso, alguns materiais que viabilizam a produção ficaram mais caros, como a ração.
“A gente tá atravessando uma seca verde, vamos dizer assim. Em alguns lugares já choveu bastante até, mas aqui a gente ainda tá numa seca muito grande. Então, a produção de animais tem que ter uma complementação muito grande com ração, para produzir o leite suficiente que pague o animal”, explica Odon.
Na mesma região, outra família cuida de 40 animais, produzindo leite de cabra. A maior parte é vendida para programas sociais da prefeitura de Juazeirinho. O restante vira queijo pelas mãos da dona Maria das Neves.
Na região, ainda existe um certo preconceito com os derivados do leite de cabra, devido a um cheiro e gosto característico. O produtor rural José Neto explica que isso está ligado ao manejo. Na hora de tirar o leite, o mamilo do animal deve ser higienizado e as mãos também, para evitar que o odor passe para o líquido. Além disso, o bode também deve ser separado da cabra, com no mínimo 500 metros do curral.
Entretanto, esse receio com os produtos de origem caprinas vem sendo vencido justamente pela qualidade dos queijos e iogurtes produzidos por essas duas famílias.
José Neto relata muito sucesso, mas a pandemia também apresentou dificuldades. Na fazenda, eles plantaram cinco hectares de palma forrageira, que junto com a selagem de milho são a base da alimentação dos animais. O chamado volumoso.
Mas o animal só no volumoso não consegue produzir tanto. Tudo depende da ração balanceada, com milho e soja, que dá o complemento. Nos últimos meses, tudo ficou mais caro.
Para o técnico de campo do Senar, Robson Carneiro, apesar das dificuldades apresentadas pela pandemia, o trabalho tem sido satisfatório .“É algo bastante gratificante a gente que tá no dia a dia vendo a dificuldade do produtor e vendo que ele tá almejando sua produção, a venda do seu produção, é algo bastante importante.”
Ele oferece assistência técnica e gerencial para 30 produtores de caprinos. Faz um trabalho dentro da propriedade para aumentar a produção, seja com a parte de manejo ou com cursos, por exemplo. Robson também é responsável pela parte gerencial e acompanha todo o fluxo de caixa do negócio.
"Ver a melhor produtividade, ver que o produtor tá crescendo na produção dele. Sabendo porque a gente sempre deixa uma orientação técnica todo mês e sabendo que a gente sempre está tentando buscar algo melhor para ele, para a produção dele (...)”.
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