VIDA URBANA
Avanço do mar em JP preocupa
Ao longo da orla da capital é possível constatar áreas devastadas pelas ondas; falésia do Cabo Branco é o ponto mais crítico.
Publicado em 22/12/2013 às 11:00 | Atualizado em 12/05/2023 às 14:36
Proprietária de uma barraca há 10 anos na Praia do Seixas, Maria Rodrigues disse ter medo de uma tragédia. Desde que passou a comercializar no local, ela teve que recuar a barraca pelo menos seis vezes, devido ao avanço do mar. Os prejuízos acumulados ao longo desses anos são incalculáveis, segundo a comerciante. As marcas de destruição causadas pelo avanço do mar impressionam quem visita a praia e mostram a força da natureza.
Segundo a comerciante, há dez anos, quando ela chegou ao local, a situação era bem diferente do que é hoje. “O mar não avançava. Era nós aqui na barraca e ele no lugar dele”, disse a mulher em tom de brincadeira. Mas ela não consegue esconder a preocupação. “Essa barraca é meu ganha-pão, se o mar continuar avançando eu vou ter que sair. Minha família vai viver de quê?”, questionou Maria Rodrigues.
Ela disse que no ano passado gastou cerca de R$ 1 mil com cimento e mão de obra, para improvisar uma espécie de barreira. A mesma coisa vem sendo feita nos últimos cinco anos, quando o avanço do mar se tornou mais evidente e agressivo. “A gente fica com medo de uma tragédia...do mar avançar de repente e engolir tudo por aqui”, revelou a comerciante.
Na barraca ao lado, Maria José Norberto também mostrou preocupação com a situação vivenciada ao longo dos últimos anos. “Em 5 anos foram seis recuos. Antes minha barraca ficava uns 700 metros na frente do que se encontra hoje”, afirmou.
Maria José disse que vive em alerta. “Quem não tem medo da força do mar?”. Segundo ela, quando a maré começa a encher, muitos clientes preferem ir embora que esperar para ver se algo acontece.
O cenário de destruição se estende por toda a praia do Seixas e, de uma forma geral, é possível dizer que os comerciantes sabem que não permanecerão no local por muito tempo. “A natureza quer o espaço dela. O homem tanto maltratou a natureza e agora ela dá o troco”, comentou Maria José, que trabalha na barraca há nove anos. Ela disse que já não conta mais o dinheiro que investe para colocar barreiras improvisadas.
O que acontece na Praia do Seixas é apenas parte do problema que se acentua em todas as praias de João Pessoa. Os sinais do avanço do mar preocupam leigos e pesquisadores e são tema de estudos em todo o país. Além do Seixas, a situação mais crítica é a do Cabo Branco, sobretudo na parte da Barreira e onde funcionava a Praça de Iemanjá, também destruída pela força das águas.
O avanço do mar pode ser observado também nas praias de Tambaú, Manaíra e Bessa.
INTERVENÇÕES DESEQUILIBRAM ECOSSISTEMA E GERAM PROBLEMAS
O professor do departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Max Furrier explicou que o avanço do mar, na maior parte do mundo, se deve não à elevação do nível dos oceanos, como a maioria das pessoas pensa, mas sim ao déficit sedimentar. “Quando se asfalta ou se constrói uma casa ou uma barragem, o sedimento (um grão de areia, por exemplo) não chega mais onde se deveria chegar, que é a praia”, afirmou.
Por conta disso, segundo o professor, ocorre um desequilíbrio e as ondas do mar retiram o sedimento do continente. Em consequência disso, o mar avança em certas regiões, a exemplo de João Pessoa. “Isso é fácil de observar. Basta olhar as ondas na maré alta batendo no muro que separa a praia da avenida que dá acesso à Estação Ciência. O muro dessa área constantemente cai. Isso é um desequilíbrio causado pela interferência humana”, declarou.
Em relação à destruição causada na praia do Seixas, Furrier explicou que qualquer construção, seja ela planejada ou não, que estiver na praia ou muito próximo dela, vai intervir no equilíbrio dinâmico da natureza. “Se o ser humano intervir, vai desequilibrar o sistema. Isso faz parte da própria sociedade que sempre interfere no sistema natural”, declarou Furrier.
SEMAN FAZ MAIS UM ESTUDO
Na semana passada, um técnico espanhol visitou a orla da capital para fazer um relatório sobre a situação atual, segundo informou o coordenador da Defesa Civil de João Pessoa, Francisco Noé Estrela. O relatório, segundo ele, deve ser concluído em aproximadamente 45 dias. “O técnico fez um levantamento sobre o processo erosivo em toda a orla”, frisou.
O estudo será mais um na lista dos muitos já existentes. A discussão sobre o problema não é recente, nem novidade, mas o processo de licitação para obras na orla sequer tem previsão para ser iniciado, conforme Estrela. “Primeiro temos que concluir todo o processo burocrático, resolver os impasses com os ambientalistas. É um processo demorado”, afirmou.
De acordo com a Secretaria de Planejamento de João Pessoa (Seplan-JP), que respondeu através da assessoria de imprensa, o projeto base foi concluído, mas está passando por mudanças. O projeto executivo está em fase de conclusão, segundo a Seplan e o orçamento inicial foi de R$7 milhões. O projeto vem sendo discutido desde a gestão passada, mas até o momento não saiu do papel.
O motivo para tanta demora, segundo a Seplan, seria a necessidade de mudanças. A fase de elaboração deve ser concluída em aproximadamente 90 dias e após esse período será iniciado o processo de licitação.
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