VIDA URBANA
Casos de microcefalia transformam vidas de famílias paraibanas
Familiares de bebês com a malformação contam como o amor incondicional dá forças para que as dificuldades e incertezas sejam superadas diariamente.
Publicado em 06/03/2016 às 12:00
“Eu acordo de 3h45 para ajeitar as coisas e pegar o carro da prefeitura da minha cidade para chegar em Campina. Vivo de Bolsa Família e pago aluguel. Eu trabalhava em casa de família, mas quando fiquei grávida deixei e agora não pretendo voltar porque tenho que cuidar de Gilberto. Ele mudou completamente a minha vida”. O relato é de Josimary da Silva, de 30 anos, mãe do pequeno Gilberto Welington, que tem apenas 4 meses e nasceu com microcefalia. Assim como ela, muitas outras mães tiveram suas vidas transformadas ao descobrirem a malformação, mergulhando em um universo desconhecido e repleto de inquietações.
Um cenário de incertezas. Assim as mães definem a vida que passam ter após a descoberta da microcefalia. Isso porque a chegada de uma criança com esse tipo de malformação modifica a rotina e a maneira dos familiares encararem o mundo e a nova realidade. Por esse motivo, grupos de solidariedade e de apoio e têm sido formados em Campina Grande para oferecer assistência psicológica e social às pessoas que estão inseridas nesse contexto, possibilitando a troca de experiências e o enfrentamento da nova condição.
Nos corredores do Hospital Pedro I, em Campina Grande, as conversas entre as mães de crianças com microcefalia são constantes, de modo que elas compartilham as experiências, as angústias, os desafios e os prazeres da nova rotina. A discussão sobre esses assuntos é ampliada por meio do grupo de apoio psicológico da unidade, que atualmente assiste 20 mães de bebês com microcefalia, segundo a psicóloga responsável pelo grupo, Jacqueline Loureiro. Além disso, foi criada uma página no Facebook, “Ação Social: além da microcefalia”, que visa arrecadar doações para as famílias de crianças diagnosticadas com a malformação.
São gestos assim que têm um impacto direto na vida das mães de bebês com microcefalia e transcendem o universo hospitalar, reconfigurando a família como um todo. Como é o caso de Josimary. Ela e o seu bebê são naturais da cidade de Algodão de Jandaíra, localizada no Agreste paraibano, e enfrentam uma rotina intensa de idas ao Hospital Pedro I para realização de consultas e exames.
Em nome de um amor incondicional, Josimary da Silva conta que não mede obstáculos para buscar o tratamento adequado para seu filho, apesar das dificuldades.
“É muito difícil para mim, às vezes o carro vem muito apertado e demora a chegar no hospital. Moro com meus filhos sozinha e muitas são as dificuldades. Apesar de tudo, Gilberto foi um presente de Deus para mim”, comentou Josimary da Silva, que é mãe de cinco filhos e conta que recentemente foi abandonada pelo marido. (Especial para o JP).
Grupo de apoio dá suporte psicológico
Já com Alessandra Amorim, 34 anos, foi diferente. Ela mora no bairro do Pedregal, em Campina Grande, e o diagnóstico da microcefalia do seu caçula, Alexandre Samuel, de dois meses, veio quando ela ainda estava grávida, servindo para fortalecer os vínculos familiares.
“Meu marido me ajuda muito. Quando soubemos que Samuel tinha microcefalia foi difícil porque eu nem sabia o que era. Sou mãe de quatro meninas e queria muito ter um menino. As pessoas diziam muitas coisas ruins para mim, só que minha preocupação não era com a forma como ele ia nascer, era que ele ficasse vivo”, relatou.
Maria Germana, 22 anos, mãe de Antonny Gabriel, de dois messes, também sempre contou com o apoio do esposo. Ela é da cidade de Areia, Brejo, e participa do grupo de apoio para aprender a lidar melhor com as transformações pelas quais sua família está passando.
Conforme a psicóloga responsável pelo grupo de apoio, Jacqueline Loureiro, o serviço oferece um suporte emocional para as mães e também funciona com o propósito de informá-las a respeitos de assuntos relacionados com a microcefalia, entre eles a sua associação com o vírus da zika.
“Posso falar que 100% dessas mães não têm o conhecimento a cerca do que seja a microcefalia e para nós também é complicado porque tem muitas coisas que a gente não sabe. Daí é que surge um dos nossos maiores desafios, que é trabalhar com essas incertezas. Buscamos trazer a informação, mas ela é muito limitada”, pontuou. (Especial para o JP).
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