VIDA URBANA
Cesáreas chegam a 98% em hospitais de João Pessoa
Valores pagos aos profissionais e a conveniência da agenda médica têm sido motivadores para a permanência das elevadas taxas de cesarianas desnessárias.
Publicado em 26/07/2009 às 9:02
Jacqueline Santos
Do Jornal da Paraíba
Os valores pagos aos profissionais e a conveniência da agenda médica têm sido motivadores para a permanência das elevadas taxas de cesarianas desnessárias no Estado, principalmente na rede privada de saúde. Nas maternidades particulares, o índice de partos cesáreos chega a 98%, segundo a Secretaria de Saúde de João Pessoa, maior inclusive do que a média nacional que é de 80%. Para se ter uma ideia, a taxa recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) corresponde a 15%, já que se trata de um procedimento de caráter emergencial.
O relatório de uma empresa de planos de saúde de João Pessoa, que possui convênios com as maternidades particulares da capital, confirma a estimativa da Secretaria. A média de cesarianas entre 2007 e 2009 ficou em 96,7%. Em 2007, dos 1.272 procedimentos realizados em unidades da rede privada, 1.240 foram cesárias, ou seja, 97,5% dos partos. Em 2008, a taxa de cesarianas foi de 97,3%, já que das 1.355 cirurgias para ganhar bebê foram 1.319 cesárias. Este ano, o percentual foi de 95,4%.
As chances de surgirem complicações em cirurgias cesarianas são sete vezes maiores do que acontece nos partos normais, segundo a coordenadora da Saúde da Mulher da Secretaria de Saúde de João Pessoa, Rosana de Lucena. São diversos riscos para a mãe e para o bebê. A auxiliar de serviços gerais Rossiana Emanuela Ribeiro, de 23 anos, conhece bem os sofrimentos decorrentes de uma cesariana complicada. Grávida do seu primeiro filho, hoje com pouco mais de um ano, ela tinha certeza, pelo acompanhamento no pré-natal, que o parto seria normal, no entanto, precisou esperar dois dias, com dores, para então os médicos procederem com a cesariana.
“Comecei a sentir dores em uma sexta-feira e somente no domingo à noite fui submetida à operação. No dia seguinte tive problemas com os pontos e fiquei com a cirurgia aberta e adquiri uma infecção hospitalar que me deixou 15 dias no hospital e mais 15 em casa, no processo de recuperação”, conta.
Sem levar em consideração os riscos, muitos médicos insistem em indicar as cesarianas logo durante os exames de pré-natal. Isso porque além de receber mais, o fato de marcar um horário e cronometrar o tempo que vai gastar naquela intervenção atrai os profissionais para os partos cesáreos em detrimento do normal, indicado pelos órgãos de proteção e promoção à saúde da mulher. “Parte da classe médica, principalmente nos casos do sistema privado, induz as pacientes a aceitarem fazer cesáreas por conta da disponibilidade do profissional, já que essa modalidade permite marcar dia e hora da cirurgia”, diz Rosana.
A questão financeira também é um forte aliado dos médicos quando o assunto é optar pela cesariana. Esse tipo vale mais do que os procedimentos naturais, tanto nas instituições públicas quanto nas privadas (mais ainda). Embora tenha sido registrada a valorização do parto normal pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os médicos ainda recebem um valor maior pela cesárea. Segundo a atual tabela, que vem sendo aplicada desde o ano passado, o primeiro corresponde a R$ 443,40, enquanto que o segundo custa R$ 545,73 para os cofres públicos.
Mesmo com os valores informados pela Secretaria de Saúde de João Pessoa levando em consideração a tabela disponível no DataSus, o JORNAL DA PARAÍBA fez um cálculo sobre o volume de recursos repassados pelo Ministério da Saúde para a Paraíba levando em consideração a verba transferida em 2008 para realização das cesárias.
A conta mostra que, para cada procedimento cesáreo, o governo federal destinou a quantia média de cerca de R$ 700. Já para o parto normal, o valor foi de R$ 482. Uma diferença de 68,8%. Embora haja mais dispêndios em relação à cirurgia cesariana, os números deixam claro que existe um contraste no volume de recursos. No ano passado, foram liberados pouco mais de R$ 11 milhões para a realização de 15.739 cesarianas e quase R$ 14 milhões para os 28.702 partos normais nos hospitais e maternidades da rede pública de toda a Paraíba.
As instituições privadas de João Pessoa não informaram quais os honorários que os médicos recebem para fazer as cesarianas. A assessoria de uma dessas unidades justificou que, para se chegar ao cálculo do valor repassado, seria preciso reunir os valores de vários especialistas da equipe necessária para a cirurgia.
Veja a matéria completa na edição deste domingo do Jornal da Paraíba

Comentários