VIDA URBANA
Crianças e adolescentes em risco por causa de esgoto
IBGE revela que na Paraíba 51% das crianças e adolescentes moram em áreas sem esgotamento sanitário
Publicado em 05/12/2015 às 8:00
Os dias de Mateus (fictício), de 8 anos, têm sempre uma rotina semelhante: de manhã, vai a pé à escola, que fica perto de casa, mas para chegar lá é preciso enfrentar um primeiro rio de esgoto que fica em frente a sua casa. No restante do caminho, a situação é semelhante. Para ele, a água parece inofensiva, o que se pode perceber ao vê-lo pulando no meio do córrego de esgoto na volta para casa. A situação do menino, que reside no Beco de Zé Borges, no bairro de Mandacaru, em João Pessoa, se assemelha à de mais da metade das crianças do Estado. Isso é o que diz a Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Conforme o estudo, que traz dados relativos ao ano de 2014, na Paraíba 51% das crianças e adolescentes entre 0 e 14 anos vivem em áreas sem esgotamento sanitário de rede geral ou fossa séptica. O número apresenta uma leve diminuição com o que se observava há uma década, quando 69,4% dessa parcela da população não tinha acesso aos serviços. Apesar disso, em um ano – de 2013 a 2014 – houve um crescimento no número de pessoas que passaram a não ter acesso a esse serviço. Enquanto no ano passado era 51%, no ano anterior eram 50,9%.
Conforme Marineide da Silva, vizinha do pequeno Mateus e avó de uma menina de 11 anos, a ausência de saneamento básico leva a transtornos constantes. Os piores ocorrem em períodos de chuva quando os dejetos, que geralmente vão das casas direto para um córrego que passa por baixo das residências, transbordam e voltam para dentro dos lares. “A água ultrapassa do joelho e com ela vem de tudo. É horrível”, lamentou.
Conviver sem condições básicas de moradia traz consigo, além dos transtornos, doenças. A neta de Marineide é uma das vítimas. Com apenas 11 anos de idade, é corriqueiro ela desenvolver doenças, como verminoses, além de coceiras. “Tem crianças com lepras horríveis aqui, além dos mosquitos e bichos maiores, como ratos. Vivemos sob condições péssimas”, revelou, “a gente se sente esquecido”, comentou.
ÁGUA E COLETA
Além da pouca oferta de esgotamento sanitário, a SIS 2015 ainda compilou dados relativos ao acesso à água na Paraíba por crianças e adolescentes de 0 a 14 anos. Conforme o estudo, no ano passado quase 80% delas tinham acesso ao serviço, deixando a porcentagem de 20,9% descobertas do serviço (contra 21,3% no ano anterior). Já quanto à coleta de lixo, o número era de 16,3% das crianças descobertas do serviço (contra 18% no ano anterior). Ao todo, 14,2% das crianças e adolescentes do Estado estão inseridas em áreas onde há todas as formas de saneamento inadequado simultaneamente.
Em um ano, houve diminuição, tendo em vista que em 2013 eram 16,7% das crianças nessa situação. Os números ainda são 10 pontos percentuais inferiores ao registrado há uma década, quando 23,8% da parcela da população nessa faixa etária se enquadrava nessa situação.
MAIS DADOS
A pesquisa compila informações sobre demografia, famílias, educação, trabalho, rendimento e domicílios, apresentando novas abordagens. Os dados apresentados na pesquisa foram retirados de estudos anteriores realizados pelo órgão, em sua maioria da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2014.
O QUE DIZ A CAGEPA
A assessoria de comunicação da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) informou que, segundo dados de 2014 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), Campina Grande possuía um percentual de 87,55% de saneamento contra 72,03% de João Pessoa. Em toda a Paraíba, por sua vez, a cobertura era de 36,56%. No entanto, o órgão acredita que este número deva estar maior tendo em vista que muitas obras foram concluídas no período. Ainda de acordo com a assessoria, essas obras demonstram a intenção do órgão de universalizar a cobertura de água e esgotos em áreas como a Grande João Pessoa.
Somente na capital, seguem em andamento obras de implantação de sistema de esgotamento sanitário nos bairros de José Américo, Água Fria, Colibris, Jardim Ester e Jardim Cidade Universitária, Cruz das Armas, Padre Zé, parte dos Funcionários e Cristo Redentor. Ao total, são R$ 103 milhões em obras de saneamento só na capital. Além de investimentos na Grande João Pessoa, que tem previsão de obras que atenderão as cidades de Cabedelo, Bayeux, Conde e Santa Rita.
O órgão ainda informou que recentemente entregou obras em Santa Rita e Campina Grande, onde foram investidos mais de R$ 2 milhões, que beneficiaram cerca de 300 mil pessoas, além do investimento de R$ 4 milhões no saneamento do bairro do Cruzeiro, que está em andamento e beneficiará 4.846 pessoas, e a implementação do esgotamento sanitário do Jardim Tavares, que deverá ser licitado, custará R$ 3,5 milhões e beneficiará 3.807 pessoas.
OUTROS DADOS DO SIS
SAÚDE
• Percentual de óbitos entre os nascidos vivos na Paraíba
reduziu de 19% para 18% em um ano. Em uma década, esse
dado caiu de 34,9% para 18%
• Mortalidade entre 15 e 59 anos passou de 30,9% para
30,2%.
• Mortalidade entre 15 e 59 anos passou de 181,5% para
178,2%
• Esperança de vida ao nascer aumentou de 68,8 para 76,5
anos em uma década (entre 2004 e 2014)
EDUCAÇÃO
• Frequência bruta a estabelecimento escolar na Paraíba caiu
de 29,5% para 28,9% da população.
• 22,4% dos jovens entre 15 e 29 anos da Paraíba só estuda
• 12% dos jovens dessa faixa etária estuda e trabalha
•40,8% dos jovens nessa faixa etária só trabalha
• 24,8% dos jovens nessa faixa etária não estuda nem
trabalha
• 18,5% desses jovens não estuda, nem trabalha, nem
procura emprego no Estado. Com esse valor, a Paraíba fica
atrás apenas de Pernambuco (19,3%) e Alagoas (23,1%).
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