VIDA URBANA
Críticas às mudanças
Médicos e estudantes de medicina criticam mudanças anunciadas pelo governo federal; para o CRM-PB não houve democracia nem transparência.
Publicado em 10/07/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 14:20
A ampliação da carga horária curricular do curso de Medicina, anunciado na última segunda-feira pela presidente Dilma Rouseff, não está sendo bem recebida por estudantes, professores e entidades que representam os médicos na Paraíba. Dentro das principais alegações, está o despreparo e a falta de diálogo na construção dessa nova medida.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba (CRM-PB), João Medeiros, disse que o aumento de 6 para 8 anos para formação nos cursos de Medicina foi concebido de forma antidemocrática. “Foi uma medida concebida sem o menor debate, não houve conversas com as entidades médicas e estudantes. Não foi democrática nem transparente, só tem a contribuir de forma negativa”, afirmou.
Na comunidade acadêmica, a ampliação da carga horária também não é vista com bons olhos. Coordenadora do curso de medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a professora Jocilda Nunes evitou aprofundar-se no assunto, pois disse não ter recebido qualquer documento oficial do Ministério da Educação (MEC).
“Nós ficamos sabendo pela imprensa, o MEC não enviou qualquer documentação formal. Já percebemos um grande mal-estar dos alunos. Ainda existem muitas dúvidas do colegiado, alguns estão interpretando que vão ser obrigados a trabalhar no SUS (Sistema Único de Saúde), enfim, esperamos que chegue a norma para que possamos fazer o estudo da medida”, explicou a médica.
Apesar disso, Jocilda Nunes defende que a simples expansão da carga horária do curso e o envio dos estudantes para trabalhar no SUS das pequenas cidades não vai resolver a problemática da saúde no país. “Formamos 14 mil médicos por ano no país, em contrapartida são 12 mil vagas em residência por ano. Por isso os estudantes preferem ficar nas grandes cidades, porque os pequenos municípios não garantem a infraestrutura ideal para exercer a profissão”, opinou.
O diretor acadêmico da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba José Luiz Perez tem o discurso mais enfático e diz que a mudança na grade curricular é eleitoreira e absurda. “Do ponto de vista acadêmico é um absurdo, ilegal. É exploração ilegal do trabalho.
Nesses 2 anos acrescidos, o aluno se torna um alguém indefinido: ele não é médico, mas vai ter direito de exercer a medicina. É absurdo e estapafúrdio. São medidas puramente eleitoreiras, para mostrar à população que o governo está resolvendo o problema e não está”.
MEDIDAS SÃO CONSIDERADAS INSUFICIENTES
Apesar da nova regra só atingir os alunos que ingressarem nas faculdades a partir de 2015, os estudantes que acabam de entrar na universidade também desaprovam a medida. Graduando do 1º período de Medicina na UFPB, Murilo Braz, 19 anos, acredita que as mudanças no curso são medidas paliativas. “Acho que a presidente está passando para a população que para melhorar a saúde só precisa aumentar o número de médicos, mas não é só isso. A saúde é feita com todos os profissionais que trabalham na área da saúde, como enfermeiros, psicólogos e nutricionistas. Por isso é preciso mudar a infraestrutura das unidades de saúde desses lugares”, disse.
Com planos de se tornar pediatra, a estudante Vanessa Ricarte, 21 anos, conhece bem a realidade do médico das pequenas cidades.
Natural de São João do Rio do Peixe, alto Sertão da Paraíba, a jovem defende que outras medidas devem ser adotadas para que a medida funcione. “A intenção é ótima, mas não vai funcionar. Eu sou do interior, gostaria de ajudar a minha cidade, mas os hospitais foram fechados. E não é por falta de médicos, pois lá temos profissionais, mas não existe infraestrutura para o exercício da profissão”, declarou.(Especial para o JP)
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