VIDA URBANA
Derrubando preconceitos: pessoas trans lutam por direitos e respeito
Para muitos, ainda é difícil conceber a ideia de homens e mulheres trans. Entretanto, a discriminação e a desinformação não impedem que cada vez mais eles conquistem espaço na sociedade.
Publicado em 14/06/2015 às 7:00
“Pode me chamar de Nancy Mery”. É assim que ela, mulher transexual, se apresenta. Apesar disso, nos documentos, o nome é diferente: o processo para obtenção e formalização do nome social ainda está em andamento. Nancy, entretanto, não reluta em utilizar o nome que escolheu antes mesmo da mudança ser reconhecida oficialmente. Para ela, é uma forma de afirmar sua natureza para os outros e para si mesma.
Hoje com 34 anos, a cambista conta que percebeu que era diferente dos outros garotos por volta dos 8 anos de idade. “No início, eu não conseguia compreender totalmente minha situação”, diz. “Mas, aos poucos, fui percebendo que eu não era aquilo que aparentava ser”. Nancy começou a se identificar como uma travesti pelo fato de se comportar e se sentir como uma menina – mas depois compreendeu e aceitou o fato de que ela era uma transexual.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a transexualidade abrange pessoas que se identificam com o gênero oposto àquele de nascença. Pessoas transexuais podem ou não manifestar o desejo de adotar totalmente o gênero com o qual se identificam - o que pode ser feito, hoje em dia, através de tratamento hormonal e de uma cirurgia para mudança de sexo. As travestis, por sua vez, são pessoas que realizam mudanças apenas em sua aparência externa para se inserir temporariamente no grupo de pessoas do sexo oposto.
Após a descoberta, Nancy precisou esconder sua transexualidade da família. Ela morava com os avós, mas a mãe vinha de tempos em tempos de São Paulo para visitá-la. “Quando ela vinha, eu precisava mentir sobre quem eu era. Minha família era muito preconceituosa”, diz ela. “Eu sentia raiva porque não podia contar”, desabafa.
Foram 14 anos escondendo a transexualidade dos avós e da mãe. Os questionamentos e as dúvidas da família acerca de sua reclusão, seus modos femininos e a falta de interesse no sexo oposto começaram a se tornar cada vez mais frequentes – quando a visitava, a mãe insistia para que ela conseguisse uma namorada.
“Eu me trancava para ficar sozinha”, lembra Nancy. Além da pressão em casa, a jovem precisava lidar com o preconceito nas ruas e na escola – opressão que, segundo ela, permanece até hoje. A coragem para contar a verdade à mãe e à família chegou apenas aos 22 anos. “Minha mãe ficou em choque”, relembra. “Ela não queria ter um filho 'desse jeito'. Foi um longo processo de compreensão, mas hoje em dia ela me aceita do jeito que eu sou: uma mulher”, comemora.
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