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VIDA URBANA

Dia do índio: Educação ainda é desafio para indígenas na PB

Para garantir o diploma, os índios precisam vencer uma série de adversidades e romper a barreira do preconceito. A PB tem cerca de 300 índios no ensino superior.

Publicado em 19/04/2015 às 16:00

Roberto Domingos, índio e estudante universitário. Há quatro anos, pelo sistema de cotas, ele ingressou no curso de licenciatura em geografia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Aos 34 anos, Roberto é motivo de orgulho para os pais e um exemplo de que o acesso ao ensino superior, embora esteja mais fácil para os indígenas, ainda carece de investimentos do poder público. Para garantir o diploma, os índios precisam vencer uma série de adversidades e romper a barreira do preconceito. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), a Paraíba tem cerca de 300 índios matriculados no ensino superior, em instituições públicas e privadas.

Nas aldeias, internet é artigo de luxo e aparece como um dos principais problemas enfrentados pelos estudantes indígenas, mas não é o único. A falta de transporte é outra dificuldade que tem consequência direta o abandono ou o atraso dos cursos. Como se não bastasse, os índios precisam conviver com a resistência de alunos e professores em sala de aula, que tentam minimizá-los com palavras e atitudes discriminatórias.

“Entrar é fácil, difícil é conseguir terminar o curso”, afirmou Domingos, que está no nono período do curso, no campus I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Ele disse que a falta de acesso à internet é um fator de exclusão no ensino superior. “Quando o professor pede um trabalho, eu tenho que ir até a área central procurar uma lan-house para fazer minha pesquisa, isso dificulta bastante”, desabafou. O problema atinge os estudantes das terras indígenas de Baía da Traição, Rio Tinto e Marcação. A reivindicação dos índios é a criação de um centro de apoio, no qual eles possam fazer as pesquisas acadêmicas e garantir um aprendizado igualitário.

O pai de Domingos, o ex-cacique Djalma Domingos, fala do filho com orgulho. “Sou muito feliz de ter um filho na universidade, isso é uma honra. Só estudei até a quarta série por falta de oportunidade, hoje vejo meu filho em um caminho diferente”, afirmou o ex-cacique da aldeia São Francisco.

Outra dificuldade dos indígenas que entraram no ensino superior é com o transporte, conforme informou Jessé Viana da Silva, 27 anos, aluno do curso de Ciência da Computação no campus da UFPB, em Rio Tinto. Nos dois primeiros anos ele teve que pagar a passagem do próprio bolso. “O transporte para ir e vir era R$10. Minha irmã também é universitária, o que aumentava o custo que pesava demais no bolso”, afirmou.

Como nem todos os dias os pais deles tinham dinheiro, Viana acabou atrasando o curso, porque faltava às aulas. Ele contou que alguns colegas desistiram do curso superior porque não tiveram fôlego para continuar lutando para vencer as muitas dificuldades. Há cerca de um ano e meio a prefeitura de Baía da Traição disponibilizou um ônibus para fazer o transporte dos índios aos centros universitários gratuitamente. Jessé pensa em fazer mestrado e doutorado e seguir um caminho diferente do da maioria dos índios que conhece.

Dentre os incentivos para o ingresso de índios no ensino superior no Brasil está a Lei de Cotas, em vigor desde 2012. Nas aldeias, isso é considerado mais uma tentativa de correção que um avanço. “Na verdade o sistema de cotas visa corrigir um erro, mas não podemos deixar de considerá-lo como uma conquista para o nosso povo”, declarou Viana, que não entrou pelo sistema de cotas, mas pela concorrência geral.

Para combater a evasão entre os alunos indígenas, o governo federal criou a Bolsa Permanência, através da qual os estudantes recebem cerca de R$ 900 para arcar com despesas, que vão desde transporte até a compra de livros. “Essa bolsa facilita bastante nossa vida como estudante. Eu digo a você que não é fácil ser aluno universitário no nosso país e se esse aluno for índio a situação é ainda mais complicada. Precisamos quebrar essas barreiras”, opinou o índio potiguara.

O peso do preconceito na sala de aula

Na sala de aula, o preconceito ainda é forte com os indígenas. A resistência vem de alunos e também de professores, de quem se espera mais respeito. O índio potiguara Jessé Viana contou que um certo dia, durante a aula, uma professora começou a questionar a identidade dos índios matriculados na disciplina ministrada por ela. “A professora se mostrava insatisfeita com nossa presença. Chegou a dizer que índio que é índio não corta o cabelo de determinado jeito”, explicou.

Os questionamentos da professora foram vistos como ataques à cultura indígena. Os alunos, se sentindo ofendidos e diminuídos pela docente, cobraram isenção e tolerância. “Teve outro dia que uma professora xingou uma aluna por ela ser índia, foi uma situação constrangedora”, revelou o estudante. Segundo ele, todos os casos, quando não são resolvidos com uma conversa, são levados à coordenação do curso ou à Funai.

O índio que vai assistir com o corpo pintado, como é tradição na cultura indígena, costuma ser alvo de olhares curiosos e às vezes preconceituosos. O chefe da Funai na Baía da Traição, Irenildo Cassiano Gomes, disse que os índios estão, até certo ponto, preparados para lidar com situações desse tipo. “A gente conversa para que eles enfrentem esse problema de forma sábia, mas infelizmente o preconceito nunca vai deixar de existir com as minorias”, frisou. “Buscamos antecipar as dificuldades que eles vão enfrentar na sala de aula. Um dos preconceitos é com o sistema de cotas”, declarou o chefe da Funai.

De acordo com Thompson Lopes, pró-reitor de assistência e promoção estudantil da UFPB, a instituição tem cerca de 170 estudantes indígenas que recebem a bolsa permanência no valor de R$ 900 sem necessidade de comprovar renda. Além disso, segundo Lopes, os estudantes indígenas podem concorrer de forma igualitária com os demais alunos para obter benefícios como a residência universitária, o Restaurante Universitário (RU), auxílio creche, dentre outros. “Estamos trabalhando para atender a demanda dos nossos alunos”, destacou.

Leia a matéria completa na edição impressa do JORNAL DA PARAÍBA deste domingo

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Jornal da Paraíba

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