VIDA URBANA
Editais para combater Covid-19 têm baixa adesão de médicos na PB
Apenas 17% das 294 vagas disponibilizadas pelo Estado para contratação de médicos foram preenchidas.
Publicado em 08/05/2020 às 15:17 | Atualizado em 08/05/2020 às 19:59
O aumento da capacidade de atendimento a pacientes com Covid-19 na Paraíba tem sido freado pela baixa adesão de médicos nos editais disponibilizados pelas secretarias de Saúde municipais e pela Secretaria de Estado da Saúde (SES). Conforme a pasta estadual, apenas 17% das 294 vagas disponibilizadas nas seleções do Estado para contratação de médicos para atuação no combate ao novo coronavírus foram preenchidas.
De acordo com o secretário de estado da Saúde, Geraldo Medeiros, a baixa adesão dos médicos é ainda mais acentuada na região da Grande João Pessoa, epicentro da pandemia de Covid-19 na Paraíba. Conforme a SES, dos 137 médicos inscritos, somente 52 assinaram contrato com o governo, e há relatos de desistência por parte dos médicos contratados.
“Infelizmente a classe médica, principalmente na região da Grande João Pessoa, está sendo omissa em um momento como esse de emergência de saúde pública. Principalmente os médicos que não pertencem ao grupo de risco, abaixo de 60 anos, independente da especialidade estão sendo convocados a aderirem a esses editais”, reclamou o secretário de Saúde da Paraíba, Geraldo Medeiros.
Ainda segundo o secretário, há uma dificuldade em montar plantões médicos, pelo fato de que alguns profissionais estão pedindo para cumprir escalas e 24 horas antes avisam que não têm mais interesse. Geraldo Medeiros contestou a atitude, justificando que o profissional tem a obrigação de esperar no mínimo 30 dias e, só então, comunicar a ausência, uma vez que estiver incorporado no serviço.
Baixa adesão de médicos em João Pessoa
Segundo o secretário de Saúde da capital, Adalberto Fulgêncio, na primeira seleção feita pela Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa, apenas 21 médicos se inscreveram para as 100 vagas ofertadas no processo seletivo. Por isso, a prefeitura precisou abrir um novo edital, com valores de plantões mais altos, chegando a custar R$ 1,1 mil. Desta vez, a taxa de adesão foi maior, e dos 100 inscritos 20 foram selecionados, mas apenas 4 compareceram ao serviço.
Diante da situação a secretaria precisou fazer uma nova convocação, com 50 vagas. O secretário de Saúde tem mostrado preocupação com a baixa procura, já que em contrapartida o número de casos de Covid-19 só aumenta.
“Se tivesse médico hoje, a prefeitura conseguiria abrir mais dez leitos e o governo do Estado certamente mais dez e ganharíamos um pouco mais de tranquilidade”, ressaltou.
O que dizem as representações médicas
De acordo com o presidente do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB), Roberto Magliano, a baixa adesão de médicos às convocações em plena pandemia pode ser justificada com a falta de condições de trabalho na rede pública de saúde (SUS). Para ele, o problema não é o salário, mas as exigências dos editais, que pedem questões que não podem ser cumpridas.
Em nota conjunta divulgada na tarde desta sexta-feira (8), o Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB), Sindicato dos Médicos da Paraíba (Simed-PB), Associação Médica da Paraíba (AMPB) e a Academia Paraibana de Medicina (APMed) demonstraram repúdio às declarações do secretário de estado da Saúde, Geraldo Medeiros, em que relaciona a baixa adesão de médicos aos editais de combate à Covid-19 com a omissão dos profissionais. Conforme a nota, os profissionais estão sobrecarregados e no limite de sua capacidade de trabalho, correndo risco de morte continuamente durante a pandemia.
Leia na íntegra:
Nota de Repúdio ⠀
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O Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba, em obediência ao seu dever fiscalizatório, outorgado pela lei 3268/57, e as entidades signatárias vêm a público externar o seu estarrecimento e repúdio à declaração do secretário estadual de Saúde, Geraldo Medeiros, publicado pela imprensa, no qual considera omissos os médicos que trabalham na região metropolitana de João Pessoa. ⠀
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O secretário esquece que os médicos estão adoecendo, e até morrendo, infectados pela COVID-19, e que se encontram sobrecarregados, nos limites da sua capacidade de trabalho e se arriscando a trabalhar sob risco de morte.⠀
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É preocupante também, que se esteja convocando médicos com pouca ou quase nenhuma experiência para atender pacientes em estado crítico, em detrimento de especialistas na área de Medicina Intensiva, que se colocaram à disposição para colaborar, mas tiveram cancelada reunião marcada para este fim pelo próprio secretário.⠀
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Num momento de grave crise na área da saúde, o CRM-PB lamenta uma opinião desse tipo, que evidencia pouca sensibilidade com a realidade do trabalho médico na Paraíba, e imensa ingratidão com os próprios colegas de profissão.⠀
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Ao tempo em que se colocam à disposição para colaborar, as entidades signatárias entendem que a discussão sobre a saúde pública, principalmente em tempos de crise tão acentuada como a que estamos passando, deve ser pautada pela verdade, principalmente quando se tratar da mais alta autoridade sanitária do nosso estado.⠀
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João Pessoa, 8 de maio de 2020⠀
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Conselho Regional do Estado da Paraíba (CRM-PB)⠀
Sindicato dos Médicos da Paraíba (Simed)⠀
Associação Médica da Paraíba (AMPB)⠀
Academia Paraibana de Medicina (APMed)
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