VIDA URBANA
Escola Municipal de Artes amplia horizontes de jovens
Projeto que acontece na capital usa a arte para mudar a vida de crianças e adolescentes, muitas vezes em situação de vulnerabilidade social.
Publicado em 25/11/2015 às 20:00
“Professora, hoje eu não vou poder assistir à aula porque meu irmão foi assassinado”. Enviada aos prantos pelo celular de uma das meninas que integram a Escola Municipal de Artes, da prefeitura de João Pessoa, a triste mensagem faz parte de um universo já conhecido pelos educadores do projeto. Responsáveis por usar a arte para mudar o rumo da vida de crianças e adolescentes, muitas vezes em situação de vulnerabilidade social, eles precisam frequentemente lidar com as dores e o sofrimento que alguns trazem das próprias comunidades.
Vindos de bairros, em sua maioria, pobres, os alunos da escola superam diariamente os obstáculos da vida. Além da falta de recursos e dos problemas com a família, a violência surge para eles como um dos principais empecilhos para uma infância saudável e plena. Apesar disso, o desejo de deixar para trás a realidade difícil é maior que tudo. E a paixão pela arte surge como força motriz para isso. Por meio das aulas de artes visuais, teatro e canto é que eles se descobrem, passam a enxergar um potencial adormecido dentro deles e a acreditar nas possiblidades de mudar o próprio destino.
Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), toda criança e adolescente têm direito à educação, visando ao seu pleno desenvolvimento, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. Na Escola Municipal de Artes, isso é posto em prática pelos oito profissionais da equipe, que se engajam e participam ativamente da rotina dos alunos – dentro e fora dos espaços utilizados para o projeto.
Para a coordenadora da escola, Amélia Nóbrega, é gratificante ver as mudanças positivas que a ação vem proporcionando aos jovens nos últimos cinco anos. “Fico feliz sabendo que a gente está no caminho da verdade, que é o caminho da arte, porque é a arte que sustenta o sujeito por dentro quando tudo desmorona”, diz. “O que queremos é isso: trazer à tona a construção de cada um, refletir sobre isso e sobre o corpo – esse corpo que vem de vivências e experiências muitas vezes não prazerosas – para a partir daí, voltarmos a ludicidade e trazê-lo para o universo das artes”.
Entre as aulas oferecidas para os alunos da Escola Municipal de Artes está a de artes visuais, com o professor Alex Viana. (Foto: Rizemberg Felipe)
Ao todo, já foram mais de 500 crianças e adolescentes beneficiados com esse carinho da equipe. Duas vezes por semana, a escola, que atualmente é abrigada pelas instalações da Estação das Artes, no bairro do Altiplano, coloca dois ônibus em circulação pela cidade, que buscam e trazem de volta, de casa em casa, os 60 alunos que hoje se envolvem na ação. Durante as atividades, eles ainda recebem alimentação e todos os materiais para desenvolverem os trabalhos artísticos. Um dos resultados imediatos desse cuidado é o sorriso estampado no rosto de cada um ao chegar para as aulas.
O aluno Jonatan Albuquerque, de 11 anos, é um dos que esperam com ansiedade os dias em que pode ir para a Escola Municipal de Artes encontrar com os colegas e dar asas à sua criatividade. Ele, que participa das oficinas de teatro e de artes visuais, diz que os dias, que antes eram resumidos a tardes ociosas em casa assistindo à televisão, hoje têm mais cores. “Aqui a gente pinta, desenha, se envolve com a arte, é muito bom”, afirma, trazendo na ponta da língua o desejo para o futuro. “Quero ser artista plástico”.
Assim como Jonatan, as amigas Lúcia Pereira de Macedo, de 14 anos, e Thaís Soares Gomes da Silva, de 11 anos, também querem transformar a arte em profissão. E as aulas de teatro do projeto foram a inspiração para a carreira de atriz que ambas almejam. “Eu me vejo sendo atriz e também professora daqui um tempo. Quero fazer por outras crianças o mesmo que fizeram por mim”, revela Lúcia. “Nossa professora é mais que uma amiga, ela me ajuda em tudo o que eu preciso. E é isso o que eu quero ser também”, completa Thaís.
Lúcia diz que quer colocar em prática o que aprende semanalmente na escola e ajudar outros jovens. (Foto: Rizemberg Felipe)
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