VIDA URBANA
Esgotos destroem vida aquática de manguezal em JP
Caminhões com material de fossas sépticas jogam dejetos em Estação de Tratamento de água.
Publicado em 03/11/2013 às 8:00 | Atualizado em 18/04/2023 às 17:38
A área de manguezal localizada nas proximidades da comunidade do “S”, no bairro do Baixo Róger, em João Pessoa, está recebendo esgotos provenientes da Estação de Tratamento da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), segundo os moradores. Devido à agressão ambiental e poluição das águas, o professor e pesquisador da Universidade Federal da Paraíba Gilson Moura revela que o ecossistema de todo o estuário por onde passa a água do mangue está comprometido e, em alguns trechos, não há mais vida aquática.
A principal fonte poluidora do manguezal é um local onde deveria funcionar uma Estação de Tratamento de Esgotos de responsabilidade da Cagepa, próximo à comunidade. Segundo os responsáveis pela segurança da área, o local recebe os dejetos de 15 bairros. No entanto, os moradores da comunidade denunciam que o material que jorra das tubulações é apenas despejado na estação, não é tratado e segue diretamente para os rios Tambiá e Mandacaru, até desaguar na praia do Jacaré, em Cabedelo, Região Metropolitana da capital, contaminando o estuário.
Mesmo com a denúncia dos moradores, por meio da assessoria de comunicação, a companhia informou que “equipes da Cagepa e da Superintendência de Meio Ambiente (Sudema) estiveram na manhã da última quinta-feira no local e foi constatado que não há nenhuma anormalidade na Estação de Tratamento de Esgoto próximo à comunidade do S, no Róger".
Outro agravante são os caminhões que coletam os dejetos provenientes de fossas sépticas. Em menos de meia hora, durante a manhã de 24 de outubro, a reportagem do JORNAL DA PARAÍBA observou cinco caminhões despejando os dejetos na estação, por meio de um cano. Ainda nos arredores da Estação de Tratamento, o mau cheiro é sentido de longe e os sinais de poluição na água do manguezal, que passa ao lado da estação, são visíveis. Além disso, as poucas árvores que ainda resistem no local sofrem com resíduos de lixo.
A água contaminada com os resíduos do esgoto segue até a comunidade Jardim Mangueira, no bairro de Mandacaru, em João Pessoa. No local, a situação do estuário do rio, que leva o nome do bairro, é desoladora. O odor forte, provocado pelos dejetos, e o lixo colocam em risco a vida da fauna aquática no manguezal. Ao longo do percurso, até o bairro do Padre Zé, a água segue turva e densa, e é possível ver garrafas plásticas, pneus e outros resíduos boiando. Há trechos em que a água poluída mistura-se com a água natural do mangue. Em outros pontos, a poluição é tanta que a água produz bolhas.
O pescador Damião Monteiro lembra saudoso o tempo em que pescava a poucos metros de casa, no trecho conhecido por “A Bolada”, e oferecia um pescado de qualidade para os clientes.
“Nessa área aqui já não tem mais nada. Se colocar um peixe vivo aqui, ele morre. Com essa poluição, diminuiu tudo e muita gente desistiu de viver da pesca”, lamentou Damião, que pesca há mais de 40 anos. Aos 67 anos, João Severino da Silva, conhecido na área por Joca, é um retrato da realidade relatada por Damião.
“Quem quiser pescar tem que ir para onde o mangue é mais aberto, já perto do Jacaré. O peixe dessa área aqui não presta, se a gente não tratar logo que pesca, ele fica podre. E não tem mais caranguejo”, lamentou.
A poluição no trecho do manguezal localizado em Mandacaru é agravada porque a área também recebe água contaminada por esgotos vinda do rio Jaguaribe, segundo informaram os pescadores da área.
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